Tamara 08/08/2017
*Resenha postada na íntegra e originalmente em: https://rillismo.blogspot.com.br/2017/08/resenha-luz-entre-oceanos-por-m-l.html
A luz entre oceanos é um daqueles livros que quando eu li a sinopse pela primeira vez me interessou e então adicionei a minha eterna lista de leituras, mas não tinha, necessariamente, um desejo forte de lê-lo. Então, no ano passado, ouve um certo burburinho em torno dele, devido ao lançamento de uma adaptação deste para o cinema, e encontrei várias resenhas bem positivas. Porém, só agora que escolhendo o que ler, me deparei com ele e resolvi que seria o escolhido. E admito que valeu muito a pena ter realizado essa leitura, e foi uma surpresa, após uma temporada de leituras fracas que fiz.
Confesso que já fui sugada para o livro nos primeiros capítulos, uma vez que nas primeiras páginas a autora nos mostra a chegada daquele barco na ilha, e só em seguida que começa apresentar-nos o capítulo 1, mostrando o passado de Tom e Isabel, então, isso nos deixa intrigados para saber o que acontecerá com aquele bebezinho inocente e com o desejo de Isabel de ser mãe. à medida que fui evoluindo na leitura, cada vez mais me apegava a cada um daqueles personagens, tão humanos e cheios de defeitos, e queria saber qual seria seus destinos, ao mesmo tempo que sentia receio por cada um deles e uma certa vontade de protegê-los das coisas trágicas que os esperavam.
Porém, devo alertar a quem pretende lê-lo que não é um livro fácil. Trazendo um dilema ético e moral, somos tragados para o conflito, e em vários momentos, assim como os personagens da obra, também nos questionamos o que seria o correto a se fazer, principalmente por envolver uma criança que tinha seu destino inteiramente nas mãos daqueles adultos que só procuravam fazer o melhor. E seguindo na linha desse dilema ético, eu posso dizer que o final foi o ponto que mais foi conflituoso para mim, e agora, dias depois do término, não consigo ter certeza se ele me agradou totalmente, mas a minha conclusão principal é que eu gostaria que algumas coisas tivessem sido diferentes, mas isso não deixa o livro ruim ou tira algo de sua beleza, pelo contrário, o deixa ainda mais vívido, realista e doloroso. E falando em doloroso, é um livro que nos arranca lágrimas. Talvez os mais sensíveis chorem em diversos momentos do livro, pois eu senti esse desejo também, porém, o que me arrancou muitas lágrimas foi o final, sobre o qual já divaguei. Além disso, ele não é um livro carregado de ação, embora traga várias reviravoltas um tanto inesperadas, mas deve-se saber que é um livro que trata de famílias, de vidas humanas e de decisões, não havendo espaço para tanta ação, podendo até mesmo ser definido como um enredo por vezes melancólico. Mas, mesmo com isso, não considero que nenhum destes tenha sido pontos negativos para mim, mas para os leitores que não se identificam com os fatores mencionados acima, e preferem livros com finais plenamente felizes, ou com mais ação e com enredos mais alegres, essa pode não ser uma recomendação de leitura interessante.
Mas, é extremamente necessário falar dos pontos que tornam esse livro especial. Em primeiro lugar, achei-o incrível por trazer uma originalidade ferrenha em todo o seu enredo. Eu jamais havia ouvido falar de algo parecido, e acredito que o modo como a autora trabalhou tudo foi surpreendente, tanto para aqueles que amarem o livro, ou até mesmo para aqueles que o detestarem, pois estes provavelmente não conseguirão negar os méritos da autora de ter criado algo singular. Além disso, ela aborda dilemas bastante difíceis, mas que ao mesmo tempo são passíveis de acontecer com qualquer um de nós, o que nos permite o tempo inteiro nos inserir no lugar daquelas pessoas e tentar imaginar o que faríamos no seu lugar, embora a cada momento que nos é apresentado um lado da história, mudamos de opinião em relação ao que seria certo, e finalizamos ainda sem qualquer certeza. Além disso, todos os sentimentos descritos são bastante vívidos, tanto os de Tom em relação a tudo o que seu passado na guerra lhe causou, até os sentimentos de dor de Isabel devido aos sucessivos abortos, e depois em relação a possibilidade de perder sua filha. Também, é muito interessante de se acompanhar a época em que tudo se passa: começando no ano de 1919 e indo, no último capítulo a trinta anos a diante, conhecemos uma época diferenciada, com costumes diversos do nosso, e de certa maneira é uma época mais calma, que se passava mais lentamente e não trazia em si a pressa que está implícita nos nossos tempos atuais; eu sinto que essa época onde se passa a obra nos deixa suspensos no tempo, como se pudéssemos literalmente revisitar o passado e estar lá. Cabe ainda um destaque para o cenário que foi muito bem descrito, e tanto o farol quanto a ilha onde a maior parte das cenas se desenrolam, são lugares pitorescos, únicos e que trazem uma beleza um tanto melancólica e solitária, e fiquei imaginando durante todo o tempo como seria estar lá, em meio a todo aquele silêncio e a imensidão do oceano.
Eu não consigo dizer que amei ou odiei os personagens, pois em vários momentos eu sentia raiva de suas atitudes, mas no seguinte, os compreendia e os adorava. Entre eles, a minha favorita é certamente Lucy, uma menininha inocente que não entende o que se passa ao seu redor, e que tem as decisões de sua vida nas mãos de pessoas que em alguns momentos não colocam suas necessidades acima de todas as outras coisas. Também há Isabel, uma mulher forte, e que ama, acima de tudo, e que está disposta a fazer o que estiver a seu alcance para proteger e cuidar desse amor, o que muitas vezes não segue o que é correto. Isabel foi alguém de quem gostei, durante todo o livro. Já outros personagens tiveram diversas atitudes que me deixaram um pouco frustrada, sendo Tom um destes personagens, e seus arroubos de consciência as vezes se tornaram prejudiciais e o levavam a cometer atos impulsivos. A segunda personagem que me irritou, talvez ainda mais intensamente do que Tom foi Hannah, alguém que surge na metade do livro e que mesmo estando com todo o direito de fazer o que fez, me deixou frustrada por seus modos de pensar e de agir, bastante inflexíveis, mas somente após uma leitura do livro é que o leitor conseguirá compreender do que estou falando.
O livro é dividido em trinta e sete capítulos de tamanho razoável, e a narração é toda feita em terceira pessoa. Durante a minha leitura, que foi realizada em ebook não encontrei erros. É preciso ainda mencionar que essa obra foi lançada inicialmente no ano de 2013 no Brasil, pela editora Rocco, e três anos depois, no ano de 2016, foi adaptado para o cinema, estreando então no país em novembro do mesmo ano, sendo que nessa época a editora relançou a obra, com a nova capa, seguindo agora a imagem que se apresenta nos cinemas.
Recomendo essa obra para os leitores que gostam de histórias sensíveis, belas e reflexivas. Para aqueles que gostam de livros que façam pensar, pois essa é uma história que fala de certo e de errado, de escolhas e de consequências, e principalmente uma história que fala de algo profundamente imprevisível e incompreensível que são os sentimentos humanos mais primários e instintivos como a dor, a perda, a proteção e o amor.
site: https://rillismo.blogspot.com.br/2017/08/resenha-luz-entre-oceanos-por-m-l.html