erbook 16/12/2020
Crítica à sociedade russa do séc. XIX
Este conto do mestre Dostoiévski é uma resposta às contundentes críticas recebidas após a publicação do romance “Os demônios”, o qual, segundo especialistas foi profético ao antecipar as barbaridades históricas que ocorreram nos séculos XX e XXI.
De fato, nas palavras de Paulo Bezerra a respeito de “Os demônios”, “o romance se constitui numa antecipação em miniatura dos horrores que se registrariam nos séculos XX e XXI e que têm nas teorias de Piotr Stiepánovitch e Chigalióv a sua justificação ideológica. Stálin, Hitler, a Revolução Cultural chinesa, Pol Pot, o terrorismo das ditaturas latino-americanas contra seus povos, o terrorismo de Estado com seus ‘assassinatos seletivos’ contra o povo palestino e a resposta também terrorista desse povo, o terrorismo ‘tecnológico’ de Bush contra o povo iraquiano, etc., são elos de uma única cadeia de tragédias que Dostoiévski antecipou com sua percepção genial das tendências da história”. Essa obra é considerada o primeiro romance da história sobre terrorismo.
Com essa publicação, Dostoiévski foi chamado até de louco por parte da crítica especializada da época (séc. XIX). Assim, em resposta às pesadas críticas, nada melhor do que respondê-las com outra obra literária (Bobók).
No enredo do conto, um tímido escritor, insultado por editores, chamado de louco por outros, encontra dificuldades para publicar seus livros. Sai num dia para se divertir e acaba no enterro de um amigo. Ao andar pelo cemitério, lê algumas lápides e se senta para descansar. De repente, começa a ouvir as vozes dos mortos conversando e toda a crítica da sociedade russa do séc. XIX é abordada em poucas páginas.
Por meio desse elemento fantástico, o autor nos traz um filósofo que explica que as pessoas interpretam erroneamente a morte, pois a vida continua concentrada em algum ponto da consciência por 2 ou 3 meses até o denominado Bobók. Outro personagem sugere, então, que todos contem nesses meses finais suas histórias de vida sem mentir. Após protesto de um terceiro personagem (um general), todos começam a discutir, evidenciando que, na verdade, nada mudaram mesmo no além-túmulo. Entre os personagens há boa parte da sociedade russa da época (príncipe, dama, general etc.). A essa sociedade, Dostoiévski diz “não, isso eu não posso admitir; não, efetivamente não!”