Nath @biscoito.esperto 16/01/2022"Acho que não se admirar de nada é uma tolice bem maior do que se admirar de tudo. Além do mais, não se admirar de nada é quase o mesmo que não respeitar nada".
"Bobók" é um conto (bem curtinho!) popularmente conhecido por ser uma história gótica do Dostoiévski. Mas eu prefiro definir a história de duas outras maneiras:
01) Primeiramente, este conto é uma resposta aos críticos do Dostô. Naquela época, ele ficou tão pistola com os haters de seu livro mais recente, "Os Demônios", que decidiu pegar todas as críticas que recebera e escrever uma história que colocasse todas as reclamações em prática.
"Disseram que sou louco? Pois vou escrever um negócio sem pé nem cabeça. Parece que meus personagens saíram de um manicômio? Pois os senhores não viram nada! Sou muito niilista? Farei o próprio Nietzsche aparecer na Rússia para me mandar dar uma segurada". ㅡ E assim por diante. Tenho que apreciar um autor capaz de fazer isso.
02) Este conto é uma menipeia, e eu simplesmente caí numa espiral literário-filosófica pesquisando sobre este assunto. Basicamente, menipeias surgiram depois que o filósofo cínico Menipo de Gádara escreveu um ensaio sobre o "diálogo dos mortos", uma situação (obviamente) hipotética em que as pessoas poderiam ser 100% honestas sobre suas passadas vidas, já que não estão mais presas às amarras culturais e sociais de quando estavam encarnadas. Isso te lembra algo? Pois sim, Machado de Assis também escreveu sua menipeia.
Um conto gótico, uma resposta malcriada aos haters ou uma genial exploração da filosofia menipeia? Bom, por que não as três coisas? Afinal, Dostô tinha genialidade sobrando em tudo a que se propunha.
site:
www.nathlambert.blogspot.com