Lucas 16/08/2020
Meu primeiro Dostoiévski
Dostoiévski, sem dúvida, é um dos maiores escritores da história. Se no Brasil temos Machado de Assis, a Rússia tem Dostoiévski. O livro, sem dúvida, é um ótimo começo para a obra do autor. Não é nem o primeiro, nem o segundo escrito dele, como um professor meu usou em Machado de Assis "Papéis Avulsos", nesse conto o autor brinca de escrever. Parece colocar muito de si no personagem, um pouco como já li em Bukowski, mas para um conto tão curto, é realmente surpreendente e fácil para ele fazer isso.
Sempre fico muito na dúvida quando vou comprar um livro, quando vou lê-lo, se procuro por uma edição em específico, se procuro ler em inglês, na língua original do autor. Bom, não falo russo, mas a tradução e os comentários de Paulo Bezerra, nessa edição, me dão total confiança de que não foi feita qualquer tradução ou tradução ao pé da letra, mas ele explica em seus comentários como faz escolher as palavras, como faz a decisão de usar uma palavra e não outra e o leque de possibilidades que há no russo e não há no português ou em qualquer língua. Apreciei de mais seu trabalho nesse pequeno conto e me encantou a profundidade e inteligência que ele conseguiu traduzir de Dostoiévski do russo para o português (O exemplo mais gritante na minha memória agora, meses depois que li, foi Dukh, que no russo tanto significa espírito como odor forte - note, como é sutil da edição não só colocar o espírito como algo que te levanta, enobrece, mas odor forte, como que em português eu lesse 'inhaca' ou 'caxinga' que só teríamos aqui).
Os comentários e texto do tradutor, novamente, não poderia colocar de maneira diferente: a obra, per si, já é incrível, algo colocando em perspectiva, de quando foi publicado, não tínhamos visto tantas vezes (para os curiosos, acho que entenderam no paralelo com Machado de Assis feito anteriormente); já, os comentários, a tradução feita, parecem te segurar pela mão e te levam para essa perceptiva, de entender o olhar russo, o olhar da época, o olhar do conto no meio da obra do Dostoiévski e que nos transporta pala lá, com um empurrãozinho das ilustrações de Oswaldo Goeldi.
Está recomendado o conto, que agora, parece, para mim ter que ser servido por essa tradução e acompanhado por esses comentários.