david andriotto 04/01/2023
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Bobók me pegou desprevenido e, sem receber muita confiança, me surpreendeu. O livro, em si, não seria tão agradável sem as notas do editor e os textos de apoio, que fazem um ótimo trabalho.
Muito suscetível às críticas, Fiódor Dostoiévski inova e basicamente escreve uma sequência de tweets bem irônicos e estruturados que envolvem satirizar aqueles que um dia julgaram suas obras e, obviamente, toda a estrutura burguesa da sociedade.
O conto é dividido em duas partes:
1) na qual o jornalista Ivan Ivánitch, que se apresenta no limite da sanidade, já não consegue sucesso na carreira. O camarada, por sua vez, ainda cita a vocação das pessoas de sempre julgarem os outros, mesmo que esses comentários fujam de suas capacidades;
2) na qual esse jornalista, ao ir em um funeral, deita-se sobre uma lápide e começa a ouvir múltiplas vozes, que dialogam entre si - são dos falecidos. Nesse ambiente além-túmulo, que é imune de censura, a sociedade tenta reproduzir seus preconceitos. O hilário é que não é possível. Tudo é livre e eles têm apenas alguns meses até o sono profundo.
De Paulo Bezerra:
"O reino dos mortos é o lugar ideal para o riso, pois está livre das leis que devem a vida terrena, nele não existe a preocupação com o pósmorte nem com o desconhecido, e todos se encontram fora do alcance das restrições do mundo dos vivos".