spoiler visualizarThalles 01/08/2018
Mais altos do que baixos.
O livro começa gerando grande expectativa, com versos que, por si só, já pagam o 'ingresso'. No restante, o autor se preocupa em apresentar e explanar sua visão sobre nossa cultura e a conjuntura política na qual vivemos.
No primeiro capítulo, o autor expõe o porquê de o Brasil ser a tal Terra do nunca, começando por sua especialidade: música, apontando o dedo para o "coronelato" MPBístico, a esquerda e coisa e tal -- Até aí excelente, coeso, apegado aos fatos e coisa e tal.
A partir do segundo capítulo, Lobão começa a contar histórias de quando foi repórter do programa A Liga. A do sertanejo universitário ainda vai, faz parte do assunto, mas então, poucos capítulos adiante, ele resolve contar uma história de uma reportagem que fez sobre garimpo na Amazônia. Esse é o segundo maior capítulo do livro, parece retirado de uma biografia. Sem sentido tamanha pormenorização da história. Na minha visão, o ponto desagregador do livro foi esse.
Excluindo essa questão das histórias demasiadamente exploradas pelo autor no miolo do livro, os capítulos "Vamos Assassinar a Presidenta da República", "Por Que o Rock Continua Errando?" e "O Reacionário" são excelentes exemplos de como Lobão é versátil: navega pela cultura e pela política com fluidez, leveza e bom humor extraordinários. "O Reacionário" é ainda melhor, pois remonta com a qualidade de um romancista sua evolução pessoal, até se tornar o que é hoje. Subentende-se também ser tentativa de defender-se sobre a acusação de incoerência discursiva que lhe é sempre imputada; "Sou Uma Besta Quadrada", como o nome sugere, é uma autocrítica cronológica.
O final de tudo é uma desconstrução do que Lobão considera o começo dos males sobre a cultura no país: a semana de arte moderna de 1922, e um de seus maiores expoentes, Oswald de Andrade, que acaba virando seu alvo para o Gran Finale. O escritor, como um amigo carinhoso, rebate ponto por ponto do "Manifesto Antropófago" -- nota-se maior jocosidade do autor nesse capítulo do que nos outros.
O saldo, em minha visão, é positivo. Tirando o capítulo amazônico que parece não fazer parte do volume, o livro é uma boa síntese do que Lobão pensa e porque. Super recomendo.