Che 20/06/2017
Prosseguindo nas veredas de conferir o que foi publicado sobre os mutantes na fase Chris Claremont, depois de ler a magistral "Saga da Fênix Negra" e a arrojada - mas muito curta e truncada - "Dias de um Futuro Esquecido", decidi ler essa graphic novel de Claremont, agora desenhada por outro artista que não Byrne, mas com traço semelhante.
O resultado é algo não tão brilhante quanto a "Fênix Negra", mas também menos truncado que "Dias de um Futuro Esquecido", ou seja, tem uma duração mais adequada, sobretudo com tempo para desenvolver o ótimo vilão William Stryker, o Silas Malafaia do universo Marvel. Uma pena que no cinema nenhum vilão da 'casa das ideias' preste. A própria adaptação dessa HQ, que corresponde ao segundo filme dirigido por Bryan Singer, é bem aquém dos quadrinhos e não me causou maior impressão quando assisti em 2003.
Mesmo assim tem alguns defeitos, como a perda de oportunidade de colocar no roteiro como cada x-men lidava com suas diferentes religiões (Kitty era judia, Noturno era católico praticante e por aí vai) e como isso entrava ou não em choque com as pregações do reverendo Stryker. Por sua vez, a irmã do Colossus não tem nada a dizer e só faz volume.
No entanto, tem sacadas excelentes. A melhor delas é a contraposição entre o agora aliado Magneto e o professor Xavier, com o primeiro sendo um Malcolm X e o segundo um Luther King - só que tendo os mutantes e não os negros como minoria defendida, por diferentes meios. O paralelo com as opressões aqui no nosso mundo, pra além dos quadrinhos, fica bem clara e, infelizmente, "Deus Ama, o Homem Mata" ainda é tão atual (ou mais) hoje do que nos anos oitenta, quando foi originalmente publicado.
A HQ não chega a ser particularmente brilhante nem vai reinventar a roda. Mas tem um ótimo tema central, boas sacadas no roteiro do competente Claremont e será particularmente aproveitável se você, como eu, enxerga no obscurantismo religioso um dos maiores males da humanidade.