herbert.goncalves 27/06/2020
king ❤︎
OS OLHOS DO DRAGÃO é, por mais que eu odeie a expressão, uma "obra menor" de Stephen King - e nesse caso literalmente, pois é um livro menor em pretensões e também em tamanho, mal chegando a 300 páginas, algo um tanto estranho para um autor que não é exatamente lembrado por ser conciso. Eu sequer sabia da existência deste livro até recentemente, quando o encontrei num sebo, na edição da saudosa e antológica série "Mestres do Horror e da Fantasia" da igualmente saudosa e antológica Editora Francisco Alves (mas acredito que já tenha sido republicado desde então). Originalmente lançado em 1987, OS OLHOS DO DRAGÃO vem logo depois de "O Talismã" e "It / A Coisa", que são, ambos à sua maneira, aventuras infantis para adultos (a primeira tem uma criança de 12 anos como protagonista, e na segunda nós conhecemos os protagonistas adultos primeiro como crianças, numa longa narrativa do passado dos personagens). Seguindo esse raciocínio, OS OLHOS DO DRAGÃO faz o caminho inverso: é uma aventura adulta para crianças, e talvez por isso tenha sido recebida com menos pompa e circunstância (na orelha do livro, o autor confessa que o escreveu para seus filhos, que, então ainda crianças, não podiam ler suas outras obras). Claro que continua sendo um livro de Stephen King, e portanto não é de todo inofensivo e jamais infantilóide: de machadadas que partem cabeças ao meio a um veneno que provoca uma combustão espontânea descrita em mórbidos detalhes na sua vítima, a aventura é mais indicada para crianças crescidas ou marmanjões que gostam de histórias infanto-juvenis do que propriamente para infantes. No fim fica um gostinho de "quero mais", porque King passa os primeiros capítulos do livro apresentando o fictício reino de Delain, caçadas a dragões, intrigas palacianas e um mago malvado chamado Flagg (vilão recorrente na obra do autor, de "A Dança da Morte" à saga "A Torre Negra"), mas depois limita-se a narrar a história da prisão injusta do príncipe herdeiro do trono, Pedro, e o plano de fuga que ele põe em prática ao longo de cinco anos (quase como uma versão infantil de "Papillon"!). Do jeito que está, parece mais uma aventura solta e secundária pertencente a alguma megassaga Kinguiana (tipo um "A Torre Negra Volume 3.5", digamos) do que um livro solo. E a conclusão abrupta não se preocupa em explicar muito sobre o destino dos personagens, dando a entender que o autor pretendia voltar a eles caso a obra tivesse feito mais sucesso (confesso que não sei se ele retornou ao universo de Delain, pois há tempos não acompanho os livros de King). Ah, é bem curioso ver como o autor usa seu estilo narrativo detalhista numa história mais curta. Às vezes fica bem evidente que ele está se segurando com força para não estender a trama às 500 ou 700 páginas habituais dos seus romances. Por exemplo: ele usa várias páginas para descrever como Flagg manipula um terrível veneno (conhecido como "areia do dragão"), deixando beeeeeeeem claro para o leitor a extrema periculosidade da substância; faz o mesmo com o plano de fuga de Pedro, levado a cabo durante anos (e, por isso mesmo, o leitor fica torcendo para que tudo funcione na hora H). Tem ainda a utilização criativa de guardanapos em momentos-chave da trama (tanto que o título original da história era "Napkins"!). King deveria ter escrito mais histórias curtas (e grossas) como essa. Para fãs de carteirinha do autor, OS OLHOS DO DRAGÃO provavelmente não signifique nada além de um título menos celebrado e descartável numa longa bibliografia. Mas eu curti bastante a aventura e a achei mais eficiente do que muita coisa maior e mais longa que King escreveu antes e depois. Alô, Hollywood: OS OLHOS DO DRAGÃO é uma história implorando para virar filme, e que nem exige grandes efeitos especiais!
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