Vício Cult 05/04/2024
Uma verdade dura de se encarar.
As vezes fatos nos chocam por sua realidade crua e imoral muito mais do que a ficção. Esse viés nos mostra que o chamado 'mundo real' é muito pior e que de fato foi ele quem inspirou os medos ficcionais. Assim é Holocausto brasileiro (2019, Intrínseca - originalmente 2013).
Barbacena - MG, 1903. Era fundado o chamado Hospital Colônia. Um complexo que agregava sete instituições manicomiais muito famoso. O clima maravilhoso da localidade, diziam os especialistas da época, era propício para o tratamento da tuberculose, logo depois também para pacientes psiquiátricos.
Sua estrutura foi construída sobre a antiga ''Fazenda da Caveira'' dada de presente ao traidor inconfidente Joaquim Silvério dos Reis pela delação aos seus companheiros (inclusive Tiradentes).
A instituição foi arrendada pelo Estado e à partir daí, os horrores deram início. Multidões foram encaminhadas ao Colônia entre 1930 e meados de 1980. O local tornou-se um sumidouro de gente. Pacientes psiquiátricos, indigentes, alcoólicos, prostitutas, gays, mães solteiras, vítimas de estupro, desafetos políticos foram abandonados à própria sorte sem amparo legal. Muitos, abandonados pela própria família. Outros, levados pela polícia após uma noite de bebedeira sem o devido processo judicial. Pena capital?
A autora Daniela Arbex usou uma linguagem entre o jornalismo e as crônicas e valeu-se do material deixado pelo jornalista Luiz Alfredo da revista 'O Cruzeiro', mas, diferente das reportagens que mostravam a degradação humana, Daniela foi em busca dos sobreviventes desse holocausto que estima-se, vitimou mais de 60.000 pessoas!
Os relatos são doloridos, revoltantes. O livro é uma prova de que a maldade humana e a falta de compromisso do poder público pode gerar mais destruição do que se imagina.
O livro (segundo lugar do Jabuti) inspirou um documentário homônimo. Mas existem outros relatos audiovisuais sobre o assunto que não pode ser esquecido.