Felipe 09/06/2021
Holocausto Brasileiro
Desde o dia que comprei esse livro, me perguntava se eu teria condições emocionais de adentrar a essa triste história do nosso país. Só de folhear o livro e ver as fotos do Hospital Colônia, dá dava aquele sentimento ruim, de profunda tristeza e impotência. Mas sempre acreditei que a literatura tem esse poder, de despertar em nós, novos sentimentos e, claro, conhecer a história é de suma importância para que eventos como esse não tornem a se repetir.
Eu cresci em Ubá, uma cidade da Zona da Mata mineira, umas 2h de Barbacena, onde ficava o Hospital Colônia e sempre escutei as frases “você que não se comporte que te mando para Barbacena hein!” ou “vou te mandar para o hospício de Barbacena se continuar se fazendo de doido”, ou ainda “lugar de doido é em Barbacena”. E jamais, em toda a minha vida, poderia imaginar que o que acontecia logo ali, na cidade vizinha, era um extermínio de pessoas, muitas, pelo simples fato de não ter emprego, por serem pobres, pretos, gays, ciganos ou jovens meninas grávidas que não podiam manchar as reputações das famílias mais abastadas da nossa sociedade. Estima-se que 60 mil pessoas morreram enquanto o Hospital Colônia estava em funcionamento. Sessenta mil pessoas que perderam suas vidas da forma mais cruel e perversa, comparado ao Holocausto na Alemanha nazista ou ao genocídio ocorrido em guerras civis como de Ruanda, no continente Africano.
Ler o livro da Daniela Arbex me deixou totalmente sem chão. É tanta crueldade que chega ser difícil a acreditar que tudo aquilo aconteceu, porque não é possível que a vida humana pode ser tão descartável da maneira que foi (e que ainda é). E como tudo foi verdade, fica aquele sentimento de impotência, de descrédito no governantes que deixaram aquilo acontecer porque era conveniente. Acho que vou morrer sem entender como pode ser conveniente matar uma pessoa, por qualquer motivo que for. É bizarro as histórias que são narradas por antigos pacientes, hoje sobreviventes do Holocausto e, também, por funcionários do antigo hospital.
Como disse no início, acredito no poder da literatura de transformar as pessoas. A literatura serve, também, para nos trazer a realidade dos acontecimentos passados para que possamos aprender com eles e nunca mais cometer os mesmos erros (apesar de nem sempre acontecer isso). Conhecer a nossa história é conhecer a nós mesmos! As pessoas, os governantes, o Brasil jamais pode deixar a história se apagar pois isso é um erro sem perdão. Sem a história, quem nós seríamos?!
Indico demais essa leitura para que você possa conhecer essa história, se indignar, mas também ficar com aquela esperança de que podemos, sim, fazer diferente desde que olhemos para trás com respeito e empatia para que possamos acertar mais no futuro.