Beatriz3345 19/11/2023
Não era o que eu esperava e ainda assim é totalmente Gaiman
Quando eu comecei esse livro, achei que seria uma história mais "mundana"/cotidiana em relação às outras obras do Gaiman, porque eu só sabia da premissa de um homem voltando a um lugar da infância dele. Me enganei, mas ainda assim me deparei com uma história 100% dentro do estilo do autor.
O cotidiano pode ser assustador aos olhos de uma criança que começa a perceber as mudanças da vida e que o mundo dos adultos, e os adultos mesmo, não faz tanto sentido e pode ser muito cruel e triste. Uma criança que se sente deslocada, deprimida quase com um buraco no coração que nunca encontrará respostas, vê o absurdo da realidade como ameaça, mas também tem lugar para confiança e ternura, na figura de amizade.
Acho que a narrativa funciona pela escolha do narrador não ser a criança em si, mas um adulto se lembrando da infância. Assim esses dois universos se misturam completamente. O luto, a ausência e o senso de um "eu" também estão na história, que na parte final vira uma grande viagem com lacunas (que não precisam ser preenchidas nesse tipo de história que é quase uma fábula ou conto de fadas, algo mágico e melancólico). Ao mesmo tempo, há pequenas pistas durante todo o livro que fazem os recortes serem costurados de forma quase imperceptível.
Eu ainda sinto alguma estranheza com a forma de contar do Gaiman. O que é mundano se torna algo fora desse mundo com muita simplicidade e às vezes isso é "inquietante."
Livro curto e narrado em primeira pessoa, com algo de terror infantil/fantasia para quem gosta.