Pretto 05/01/2021
Nunca gostei de ler livros ?literários?, aqueles que nos são passados na escola porque são cobrados no vestibular. À exceção de Pessach: A Travessia, de Carlos Heitor Cony, sempre achei esse tipo de livro muito fora de realidade, uma leitura cansativa e pouco interessante.
Resolvi dar uma chance a Os Sertões basicamente por dois motivos: o primeiro, por ter sido escrito por Euclides da Cunha, um engenheiro como eu; o segundo, por retratar a Guerra de Canudos, assunto pelo qual sempre tive um grande interesse e gostaria de me aprofundar.
Porém, logo no início, me lembrei do porquê das ressalvas que eu tinha para com este tipo de livro. O português utilizado pelo autor é de um formalismo deveras exagerado. Mesmo considerando que o texto foi escrito no início do século XX, me parece que o autor buscou sinônimos que tornassem suas frases mais cultas de maneira não natural, já que outros livros da época não utilizam do mesmo tipo de linguagem. O resultado disso é uma leitura lenta, cansativa ao extremo e pouquíssimo atrativa.
Além disso, o autor passa boa parte do início do livro retratando fielmente os aspectos naturais do sertão (talvez por isso engenheiros não devem ser bons escritores kkkk) e a constituição do sertanejo (incluindo alguns pontos em que se pode observar um racismo inerente à época), o que apenas contribui para deixar o livro ainda mais massante.
De todo o modo, resolvi continuar a leitura pois ainda havia a Guerra de Canudos em si como atração. Quando o texto enfim começa a explorar o conflito, a leitura melhora um pouco. Entretanto, as escolhas lexicais do autor continuam prejudicando a fluidez, que também é afetada pelo detalhismo de Euclides da Cunha em diversos trechos, como por exemplo quando ele lista todos os batalhões que formavam as brigadas que atacaram o vilarejo de Conselheiro.
Minha conclusão em relação à obra como um todo é que ela ficou antiga. Diferentemente de outros clássicos que são atemporais, Os Sertões não envelheceu bem. Seu português ficou antigo, seu racismo ficou antigo e, talvez, até mesmo sua relevância tenha ficado antiga. Dei uma nota 2 mais em respeito ao que este livro já representou em algum momento de nossa história e porque, mesmo que aos trancos e barrancos, conseguiu cumprir minimamente o segundo objetivo de minha leitura que era conhecer mais sobre a Guerra de Canudos.