Antes de Nascer o Mundo

Antes de Nascer o Mundo Mia Couto




Resenhas - Antes de nascer o mundo


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Lari 15/08/2011

Esse livro é uma das coisas mais lindas que já li.

Numa linguagem única, prosa poética de Mia Couto vai fluindo, líquida e deliciosa, por entre as palavras... simplesmente apaixonante! Dá vontade de reler e reler e reler cada parágrafo, sugar toda a poesia que explode página após página do livro.


"não chegamos realmente a viver durante a maior parte da nossa vida. Desperdiçamo-nos numa espraiada letargia a que, para nosso próprio engano e consolo, chamamos de existência. No resto, vamos vagalumeando, acesos apenas por breves intermitências. Uma vida inteira pode ser virada no avesso num só dia por uma dessas intermitências."


Recomendo a todos essa viagem infinita aos mais nobres e profundos sentimentos que podemos experimentar.
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Tórtoro 17/09/2010

JESUSALÉM DE MEU PAI


Como a vida de meus pais, atualmente, virou a primeira coisa em que penso quando acordo e a última que me vem à cabeça, antes de dormir, tenho usado a leitura para me distrair, principalmente nos finais de semana.
E, numa dessas leituras, conheci Silvestre Vitalício que leva um grupo de moçambicanos a fugir da vida e se refugiarem numa terra de ninguém: Jesusalém.
Meu pai, que sempre amou existir, já há algum tempo resolveu fugir da vida e enclausurar-se dentro de sua própria casa: talvez como Silvestre, vendo aproximar-se a idade e a morte, escolheu deixar de ser pessoa e, assim, imaginou que se sentiria morrer menos — deixou que seus demônios interiores o devorassem.
Por esse motivo, já faz algum tempo que vivo como se viajando sobre uma ogiva nuclear prestes a explodir, e o pior, conhecendo a forma de como poderia desarmá-la , evitando, assim, um pior desenlace para esse pesadelo.
O motivo das angústias que tomam conta de mim advém da necessidade da constante troca de foco que ora está em meus afazeres ligados ao trabalho e à família, e ora está voltado para as dificuldades vividas por meus pais, octogenários. Esses focos se revezam em minha mente como pontos e traços de um alfabeto Morse, escrevendo uma mensagem que parece não terá fim.
Meu pai fez de sua residência a sua Jesusalém particular, levando ao sofrimento ininterrupto não somente cinco personagens, como no livro de Mia Couto, Antes de nascer o mundo, mas todos aqueles que por ele se sentem responsáveis.
Ele, que sempre foi solução, nos últimos tempos transformou-se num problema que poderia ter múltiplas respostas no campo racional mas, irracionalmente, ele não aceita nenhuma.
Tal qual Antero, personagem da novela Passione, da Globo, ele não admite intromissão em sua vida, não permite a adoção de qualquer saída que não seja a impossível: que os filhos casados deixem seus parceiros, suas próprias vidas e famílias e fiquem à sua disposição vinte e quatro horas por dia.
Como a maioria dos idosos, ele não aceita morar em outro local que não seja a sua casa, não aceita a presença de estranhos para cuidar dele, não aceita separar-se de minha mãe doente assim como não aceita mudar-se para uma clínica especial para tratamento de idosos: mas continuam a ligar para minha irmã ante qualquer problema do dia a dia, que são muitos e normais na vida de quaisquer idosos.
É um tormento vê-lo sofrer e, ao mesmo tempo, sentir que , em algum momento, teremos que tomar medidas extremas e usar a força contra a sua vontade e nosso desejo de permitir a ele um final de vida digna, se não puder ser feliz.
Quando somos pais, é consenso quase que geral que temos que ser respeitados pelos nossos filhos. Quando nossos pais se tornam novamente crianças, seria normal que eles tivessem que respeitar as decisões de seus filhos como se esses fossem, agora, seus pais.
Mas não é assim que geralmente ocorre.
O idoso garante os direitos de voltar a ser criança, sem perder o direito de pais, tornando inviável qualquer interferência a ser assumida por seus filhos, quando necessária, que não seja passível de algum tipo de crítica da sociedade: é a velha história do menino, do velho e do burro.
Os seres humanos, na sua maioria , não se preparam para envelhecer e, por isso, é cada vez maior a admiração que sinto pelos diversos idosos que comigo convivem , ou conviveram, e que sabem ou souberam envelhecer com alegria, sabedoria, demonstrando confiança e respeito pelos seus filhos.


ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br
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Giliade 05/01/2011minha estante
Sua resenha me lembrou Phillip Roth e em especial o livro "Homem Comum". Essa dificuldade de aceitar a velhice apenas como uma antítese da juventude, é sempre retratada nas obras do Roth. A verdade é que por melhor que nos preparemos, a altivez na velhice é uma forma de resignação.
Minha avó materna viveu até os 84 anos, e desde os 70 residia conosco. Nos últimos dois anos viveu um silêncio sepulcral que me fazia questionar o sentido dela continuar conosco. Vê-la naquele estágio era perturbador e gerava um estado constante de impotência de minha parte. Ela faz falta, muita falta, mas demorei a aceitar que aquela avó dos últimos dois anos, não era mais a minha avó!







Camila 27/12/2010

Diferente mas ao mesmo tempo fantástico
Este livro é totalmente diferente de tudo que já li... Ainda não sei se Silvestre Vitalício era um doido ou uma pessoa que entendia muito bem a vida. Em muitos relatos esperava o momento de que alguém o internaria em alguma clinica. E o Mwanito que teve de crescer muito rápido e praticamente se tornou um velho com apenas 11 anos. Mas admiro a coragem que Silvestre teve de fugir das desgraças e dos problemas da cidade e creio que tudo que ele fez foi pensando nos próprios filhos. Este livro nos remete a uma leitura onde podem ser tiradas várias conclusões e reflexões. Vai depender muito de quem lê e com quais olhos essas palavras são lidas. Recomendo essa leitura. Gostei muito!
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André Vedder 07/01/2011

o afinador de prosa
Já sou suspeito em tecer elogios ao Mia Couto, acho a prosa dele uma das mais bonitas que já li...poucos autores me fazem ao ler um parágrafo, retornar e reler uma, duas ou três vezes o mesmo novamente, Mia Couto é um deles.
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Palazo 23/11/2011

Cinco homens fogem para um local desabitado na savana africana. Tio Aproximado, o serviçal Zacaria Kalash, o pai Silvestre Vitalício e seus dois filhos Ntunzi e Mwanito. Eles instalam-se no local que ganha o nome de Jerusalém e fazem “reparos mínimos” para habitá-lo. Enquanto isso, Silvestre constrói uma cruz na entrada do acampamento, “por cima da cabeça de Cristo ele fixou uma tabuleta” desejando boas vindas ao “Senhor Deus” e repetia aos filhos sua crença:
“Um dia, Deus nos virá pedir desculpas”
Os motivos da fuga das cinco almas é a negação do próprio passado, que é recortado da memória e esquecido junto com o resto do mundo, também conhecido como o lado de lá. O ponto que gera a extradição para Jerusalém é a morte misteriosa de Dordalma, a mãe e Ntunzi e Mwanito.
Nesse contexto é construído o livro “Antes de nascer o mundo” do escritor Mia Couto, publicado pela Companhia das Letras. A obra é dividida em três partes. A primeira é chamada de “A humanidade”, onde são apresentados os moradores de Jerusalém. Na segunda parte, intitulada “A visita”, os moradores recebem uma inesperada presença que muda a rotina dos cinco e desencadeia a parte três do livro – Revelações e Regressos.
Apesar da continuidade das partes em que a obra se separa, a construção da narrativa não é linear. Os fatos aparecem entrecortados no meio da ação, alguns lapsos de memória são aos poucos resgatados e os fatos vão e vem sem qualquer nexo aparente. A história precisa ser montada pelo leitor juntando partes de capítulos, unindo pontos desconexos e evitando cair no jogo alucinógeno de Silvestre Vitalício.
A loucura da história tem como criador o pai dos dois garotos, porém ela é narrada quase em sua totalidade por Mwanito, o filho mais jovem. Os olhos do garoto não mostram nenhum ar infantil ou ingênuo, são carregados e envelhecidos pela perda da infância.
Na segunda parte, a narração do garoto é intercalada pela narrativa da visitante ilustre, Marta. Os motivos que levam a portuguesa a Jerusalém são opostos aos dos habitantes de tal região, porém mudam o rumo da narrativa e trazem novas revelações que vão moldando pouco a pouco cada personagem e detalhe da história.
Além da narrativa desconexa e intrigante, o texto de Mia Couto é carregado de uma prosa poética que encanta, quase que obrigando o leitor a andar sempre com um lápis para grifar ou anotar passagens curiosas. Introduzindo cada capítulo, há uma poesia que anuncia em seus versos o que está por vir. Os poemas são em sua maioria de Sophia de Mello Breyner Andresen, Hilda Hist e Adélia Prado.
Através de uma narrativa poética, Mia Couto cria um cenário em que os personagens convivem e encontram-se – ou escondem-se – no mesmo lugar. Em Jerusalém a perda é anunciada através da morte da mãe, do sumiço do mundo, do esquecimento do passado e da falta de um futuro. Porém, fica-se na dúvida se faltou confiança ou esperança aos habitantes, pois como diz o narrador: “Quem perde a esperança foge. Quem perde a confiança esconde-se”. E sinceramente, ainda me paira a dúvida se os habitantes de Jerusalém são fugitivos ou refugiados do mundo.
Antes de nascer o mundo
Autor: Mia Couto
280 páginas
Preço sugerido: R$ 46,50
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Roger 22/01/2012

Esquecimento e morte
"E a loucura nem sempre é uma doença. Por vezes é um acto de coragem." (Antes de nascer o mundo, p. 241)

Quando todas as esperanças se perdem e o mundo parece um lugar cruel demais para se viver, só resta uma opção: acabar com o mundo. E se engana quem acha que o mundo só acaba quando se morre ou com um evento bíblico. A forma que Silvestre Vitalício escolheu foi a auto-alienação. Carregando seus dois filhos e acompanhado por um serviçal e uma burra, Silvestre fundou Jerusalém. Para ele o mundo havia morrido e só restava aquele punhado de terra, no meio de lugar nenhum, onde passaria o resto de sua vida. Ele queria que o mundo o esquecesse e ele próprio esqueceu-se de quem era.

Toda a história é contada por Mwanito, o filho mais novo de Silvestre. Como havia sido levado para Jerusalém muito jovem, não se lembrava de nada além do que havia ali. O livro começa com seu primeiro contato com algo que desconhecia completamente: "A primeira vez que vi uma mulher tinha onze anos e me surpreendi subitamente tão desarmado que desabei em lágrimas". Dividido entre os gigantes e os moinhos de vento, o mundo de Mwanito começa a mudar, revelando as feridas abertas que fazem parte da história das pessoas ao seu redor e trazendo a ele o passado que lhe havia sido negado.

O livro tem um tom bastante realista, quase esbarrando no fantástico. Essa mistura de drama humano e quase-fábula é o que dá um gosto agridoce à história, que certamente estimula o impulso de continuar lendo.
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Nélio 19/01/2016

Outro livro que nos faz viajar pelas mãos de um notável escritor! Novamente o tempo assume um papel de destaque na narrativa de vidas que sofrem por diversos motivos em uma terra distante de nós, brasileiros, mas que pela escrita do autor nos aproxima por diversas formas.
Um homem que foge de si por medo de enfrentar sua própria consciência, mas que não se isola, apenas, pois ele carrega os filhos para um mundo que ele deseja ser e estar distante de tudo e dos outros. O tempo é para ele uma "víbora" que o fere: "Jesusalém lhe dera o esquecimento. O veneno da serpente lhe trouxera o tempo. A cidade lhe causara cegueira." (p. 215)
Há muita coisa boa de se ler, afora o entrosamento entre o onírico e o real - característica principal de todos os livros que já li de Mia Couto. Podemos encontrar: despertar da sexualidade, traições, mentiras, desejos, guerra, sofrimento, questões étnicas...
Enfim, mais um livro de Mia Couto que vale a pena!
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sonia 19/10/2013

O bem e o mal estão na mente do homem, e cada um faz suas próprias escolhas e é responsável por seu próprio destino, afirma a filosofia.
As verdadeiras histórias não são sobre fatos, sim como as pessoas sentem e reagem a eles.
Tanto homem traído, tanta mulher atacada, tanto filho órfão, e tantas histórias tão diferentes a serem contadas. Um escolhe superar, outro escolhe proteger seus entes queridos, outros escolhem enfiar-se em si mesmos, esconder-se do mundo, egoísticamente sacrificando seus mais próximos parentes e amigos. O sofrimento pode levar à loucura, como pode levar à redenção. Concordo com o poeta Drummond que, no poema Os ombros suportam o mundo, diz:
‘Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.’
A história lindamente contada por Mia Couto relata a destruição decorrente do comportamento de seu personagem principal, que arrasta em sua loucura até os filhos, privando-os de uma infância com alegria, afeto, esperança, projetos de future.
O personagem, enredado em seu perpétuo sofrimento, não sabe, que, nesta vida, como diz Saint-Éxupéry: ‘para trás não há caminho’. É preciso ter sabedoria, amor, enfrentar os desafios da vida e prosseguir, ou então, como o personagem do romance, seremos destruídos por nossos demônios interiores.
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Renata 01/11/2013

Mia Couto - afinando silêncios
Mia é mago.
Faz de instantes longas poéticos.
Me traz à tona melancolias diversas, paisagens sonoras, e reverberações físicas em suas palavras.
Com esse não podia ser diferente. A história de Mwanito e sua infância roubada/criada, repleta de passagens bucólicas e mistérios a desvendar.
Traz ao leitor ecos do mais fértil e sensual continente.
Me marcou a mudança de ritmo a medida que o livro sucede.
Na infância a lentidão, o mundo cabendo em cada minuto.
Já na cidade e com a puberdade fatos importantes passam como que de relance.
Dessa vez não fiquei tão triste ao findar um livro. Não porque não gostara, mas sim por que fora leve.
Mia é mago e dentro de si há uma mulher, ou seria o tipo de homem que queremos ver nascer?
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uyara 06/11/2013

Mudou um pouquinho
Mia Couto é sempre delicioso de ler. Portanto, esse livro não seria diferente. O que eu gostei é que essa é a primeira obra de Mia que eu leio que não tem um foco grande na política. Vi também uma consistência maior na prosa e menor na poesia.
Neste livro, o foco está no coração, na fuga. Como fugimos de nós mesmos??? Como lidamos com o que está além de nosso controle? Alguns fatos podem ser mudados através de nossas escolhas e algumas escolhas definem fatos que não serão mais mudados...
Muito bom e vale a pena ser lido.
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Aninha 07/01/2014

Afago para os olhos e para a alma
"... sou a letra que aguarda pelo afago dos teus olhos." (página 134)

Silvestre Vitalício se exilou em um fim de mundo de Moçambique, longe da civilização, com seus dois filhos (Ntunzi e Mwanito), seu cunhado (Aproximado) e seu serviçal (Zacaria Kalash), depois que sua esposa (Dordalma) faleceu.

Esses não são seus nomes de batismo: todos receberam um novo nome nessa terra de ninguém, que também recebeu um nome, Jerusalém, e passaram a viver sob as ordens e os delírios de Vitalício.

"Neste mundo existem os vivos e os mortos. E existimos nós, os que não temos viagem." (pág. 54)

Quem narra a história é Mwanito, 11 anos, que não se recorda da cidade de onde viera, nem de sua mãe. Ele aprende a ler e a escrever com o irmão mais velho, escondido do pai, rabiscando um velho baralho de cartas.

"...a escrita era uma ponte entre tempos passados e futuros (...) No jogo com a escrita, perdi-me sempre." (pág. 42)

Um dia, ele se depara com uma mulher (Marta) em Jerusalém, uma portuguesa branca e se assusta com os sentimentos que são despertados nele. Ela, por sua vez, está à procura de Marcelo, o marido que a traíra.

De uma forma que é peculiar de Mia Couto, vamos conhecendo os segredos de cada personagem, seus medos e seus desejos. A vida se avoluma e se perde, conforme o ritmo das tragédias e alegrias de cada um.

"A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado." (pág. 23)

Ainda bem que existe um Mia para nos encantar com suas palavras...

Boa leitura!

site: http://cantinhodaleitura-paulinha.blogspot.com.br/2014/01/antes-de-nascer-o-mundo.html
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Catharina 27/01/2014

O leitor encontrará em "Antes de nasce o mundo" um belíssimo representante da literatura africana, onde se destacam a qualidade poética, a narrativa bem construída e toda a mística de um universo particular criado por Mia Couto.

"Antes de Nascer o Mundo" é um livro formidável, escrito com maestria, uma verdadeira poesia escrita em forma de prosa, envolvente, comovente e repleto de simbolismos e valores.

Mais que indicado: é leitura obrigatória!
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Neto 24/07/2014

Jerusalém
Antes de nascer o mundo
Mia Couto
Companhia das Letras
277 páginas

Primeiramente, gostaria muito de entender por que uma editora resolve trocar o nome do livro se vai manter toda a ortografia como a original, em português moçambicano (nem sei se podemos falar em português moçambicano, mas enfim). O livro originalmente se chama Jerusalém, e acho que deveria chamar assim (mas poderia ser pior, poderia se chamar The tuner of silences, como é nos EUA - Deus me livre).

Agora, me livrando da bobagem inicial, que em nada pode desmerecer um livro como Antes de nascer o mundo, começo a falar um pouco dele. Como foi bom conhecer o Mia Couto. Escreve com uma sutileza, uma poesia... Mia é o tipo de escritor que me faz ter certeza de que a literatura é uma das mais belas artes, pois, mesmo com o livro não trazendo absolutamente nenhuma gravura, conseguimos sentir com tanta força o vazio de Jerusalém.

O livro é de leitura bastante rápida, porém não menos complexo e profundo. Mia Couto consegue dar vida com maestria aos cadáveres que vivem na distante, vazia e inóspita Jerusalém. Colocar a narrativa em primeira pessoa, na voz de Mwanito, só melhora, pois leva o leitor a uma proximidade tão grande com o último refúgio da humanidade, criado pelo autoritário Silvestre Vitalício, pai do narrador, que será possível abraçar a terra de Jerusalém antes de dormir.

Mia Couto se descreve mais como um poeta do que como um escritor de romances, em entrevistas. E nesse livro é possível perceber como ele quer colocar todo o seu lirismo presente na narrativa, o que a deixa viva, intensa, apaixonante. Há de se verificar também que todo início de capítulo há um trecho de poema de alguma poetisa, em especial Sophia de Mello Breyner Andresen, que fazem com que os capítulos sejam reflexos destes trechos.

Entre os vários temas abordados pelo livro, os que mais me tocaram foi como o autor filosofou sobre a morte. Em certo ponto, é possível verificar que, mesmo vivos, todos os residentes de Jerusalém estão mortos, todos ligados a um passado terrível, porém há muito sepultado por Silvestre, que partiu para o além simplesmente por bloquear todo este passado. Nesse ponto, é possível perceber como a memória é de importância enorme para a experiência de vida de uma pessoa. Sem as minhas memórias, não consigo ter identidade e terei, portanto, que criar uma nova. E é isso que Silvestre faz com todos os que moram em Jerusalém, criando assuntos proibidos e inibindo a reprimindo a infância de seus dois filhos, o narrador e seu irmão Ntunzi.

É o tipo de livro que não parece chegar a lugar algum. Os primeiros capítulos são todos para introduzir personagens e contar sobre eles somente a partir da fundação em Jerusalém, pois Silvestre jura que não existem mais cidades, que todos morreram, e agora eles são os guardiões da humanidade, o último sopro de vida humana no mundo.

Porém, esse não chegar a lugar algum acaba chegando, Mia Couto guiando magistralmente. Eu não gosto de rabiscar meus livros, mas senti muita vontade de grifar tantas passagens que perdi a conta.

Mais um escritor lusófono que conheço e que me agrada grandemente. A leitura foi rápida, mas a sensação com que fiquei foi intensa, e o livro já figura entre os que mais me impactaram.

Não deixe de visitar Jerusalém, mas não deixe que Silvestre saiba de sua chegada.
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Luiz Araújo 05/01/2015

Sensibilidade aos borbotões.
É impressionante a sensibilidade de Mia Couto ao escrever "Antes de nascer o mundo".
A singeleza das situações que nos são apresentadas, a importância que o ambiente exerce sobre as personagens e a abordagem intimista dada constituíram, de fato, uma história que não esquecerei tão cedo. Foi possível me enxergar na Moçambique e sentir o calor daquele lugar.
Por fim, o que dizer da forma como foi escrito? Não saberia dizer se tratava-se de prosa ou poesia por muitas vezes. Fantástico!
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Kac 05/04/2015

Jerusalém, uma terra de ninguém, inventada para fugir de uma reslidade de guerra, dor, sofrimento e traição. Um mundo inventado onde um homem e seus dois filhos se refugiam de um passado que merece ser esquecido. O filho mais velho tem lembranças, o mais novo só conhece aquilo que o pai lhe apresenta e acredita nesse mundo como uma verdade absoluta. Durante a leitura, aparecem novos personagens que revertem a trama e fazem com que mistérios sejam revelados, enovos caminhos surjam na história.
A narrativa de Mia Couto é encantadora! Talvez esse seja o melhor livro dle que já li do autor, mas não sei, cada leitura é esprcial!
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