Antes de Nascer o Mundo

Antes de Nascer o Mundo Mia Couto




Resenhas - Antes de nascer o mundo


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alexememo 11/02/2020

Grata surpresa
Primeiro livro que li em 2020 e não poderia ter começado melhor.
Como ser pai? Como ser filho? Como viver depois de não querer mais? Uma história que apresenta uma alternativa muito bonita para esses questionamentos.
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Maju Deolindo 20/09/2019

Completa surpresa
Meu primeiro contato com o autor Mia Couto e me surpreendi infinitamente. Eu comecei sem expectativa nenhuma pq esse livro é leitura obrigatória da uerj 2020 e foi uma puta leitura foda. Ja quero ler outros livros desse escritor.
É muito incrível sair da mesmice das histórias Américanas, e encontrar muita coisa fantástica fora do padrão.
Antes de nascer o mundo vai contar a história de 5 homens que fogem da civilização com a suposta afirmação que eles são os únicos sobreviventes da raça humana.
Leiam! Vale muito a pena.
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Luciano 24/06/2018

A vida não foi feita para ser pouca e breve
Mia Couto é livro pra se ter não apenas na cabeceira da cama, mas da vida. O moçambicano trata, com leveza, sem deixar de lado a firmeza das palavras, temas como amor, infância, tempo, esquecimento, família e coragem.

- Em criança, não nos despedimos dos lugares. Pensamos que voltamos sempre. Acreditamos que nunca é a última vez.
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marcelo.batista.1428 26/05/2018

A leitura teve vários momentos, desde a completamente perdido a super empolgado. Quando cheguei ao final deu vontade de voltar ao início e tentar ligar pontos que ficaram soltos. Foi bom conhecer Mia Couto.
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Thiago Barbosa Santos 08/05/2018

Você conhece a África?
Você já leu literatura africana? Algum dia já teve a curiosidade de conhecer um autor do continente? Minha experiência no assunto não é vasta, mas acho que dei o primeiro passo muito bem acertado. Há algum tempo o moçambicano Mia Couto é comentado e reverenciado nas rodas literárias brasileiras, mas apenas no ano passado tive a oportunidade de ler um pouco da obra dele. Comecei por 'Terra Sonâmbula', um livro lindo que mostra a convivência entre um velho e um menino em uma terra devastada pela guerra, um local que parece mesmo vagar sonâmbulo, palco de tamanhas mazelas geradas pelos constantes e intermináveis conflitos. O primeiro impacto com a arte (sim, pura arte em forma de texto) do escritor foi altamente positivo.

Recentemente li um outro livro de Mia Couto, o 'Antes de Nascer o Mundo', e fui igualmente impactado. Além das histórias comoventes, a narrativa é primorosa, carregada de lirismo, a mais autêntica poesia em forma de prosa.

É um livro de pessoas que, desacreditadas do mundo, resolvem fugir. Mas fugir para onde? Como conseguir se livrar de uma vida de amarguras e sofrimento? Silvestre encontrou refúgio em uma terra esquecida na savana de Moçambique, chamada por ele de Jesusalém. Desiludido com a morte da esposa, que faleceu em condições mal explicadas no início do livro, Silvestre se mostra profundamente magoado e simplesmente abre mão de viver...leva os dois filhos (Mwanito e Mtunzi) e o empregado (Zacaria) para esta terra. Lá eles vivem como se o mundo antigo não existisse mais, todos são rebatizados, ganham novos nomes. O único contado deles com o "mundo anterior" é com Tio Aproximado, cunhado de Silvestre, que leva para o grupo constantemente alguns itens básicos de sobrevivência no meio do nada. Aproximado encara o cunhado como uma pessoa louca e vive tentando convencê-lo a retornar para a realidade. Por sua vez, Silvestre é arredio com ele.

A história é narrada por Mwanito, que foi muito pequeno para Jesusalém e não tem nenhuma referência do "outro mundo". Nunca tinha visto uma mulher, por exemplo. O sexo oposto era abominado pelo pai dele. "Tudo umas putas", dizia Silvestre.

A rotina do grupo muda quando Tio Aproximado leva para Jesusalém uma portuguesa que buscava informações sobre o antigo namorado, morto naquelas terras muitos anos antes. Esta foi a primeira mulher com quem Mwanito teve contato. Silvestre tentou de todas as maneiras expulsar a moça, sem sucesso. Um dia, o velho foi picado por uma cobra e precisou de atendimento médico. Foi quando todos conseguiram voltar para o mundo dos vivos, o mundo que era totalmente novo para Mwanito.

Meio que a contragosto, Silvestre volta para o mundo normal. Nesta parte do livro passamos a conhecer mais detalhes da vida pregressa dele. Da traição da mulher, do estupro coletivo que ela sofreu, do desespero que sentiu até cometer o extremo de suicidar-se. Descobrimos que Mtunzi era na verdade filho de Zacaria. Silvestre voltou para o mundo no qual não queria mais viver, e definhou até se tornar praticamente um morto-vivo. É um livro escrito com a tinta da melancolia. Triste e bonito ao mesmo tempo pela poética do texto.
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cami 24/04/2018

O Lugar para além dos lugares
Do Lugar para além de todos os lugares: Jerusalém, é sobre esse sítio que a narrativa se circunscreve. Pela via narrativa de Mwanito, o afinador de silêncios, é que temos acesso ao povoado construído para apagar as Memórias, o Tempo e a Vida.
Ao longo das 280 páginas acompanhamos o percurso das Vidas de 4 homens: de Mwanito; de seu irmão, Ntunzi; do militar, Zacaria Kalash; e do pai, Silvestre Vitalício.
De partida, só sabemos que os discursos do pai sustentam todos aferrados ali, se inscrevem de modo tão forte que somente ao Tio Aproximado é permitido o trânsito entre Jerusalém e Lado de Lá. O que está fora é miticamente apagado.
Ntunzi, no entanto, resiste às ordens do pai, guarda as letras, a escrita, as Memórias e a vontade de voltar ao que está Fora, tudo isso é proibido pela lei paterna. Mas ao pai só escapa em partes. Assim como todos ali, arranjam os pequenos escapes.
Sabemos também que a clausura é iniciada após a Morte da esposa, que carregava no Nome o destino: Dordalma.
Mais uma vez e como sempre, para Mia, nenhuma palavra é em vão.
O Livro nos apresenta essa relação bonita entre as palavras e os personagens de uma forma muito rica e linda, eu mais uma vez fiquei maravilhada, inclusive pela relação dos Mortos com os que ficam, e a beleza que marca a relação com a Natureza.
Fantástico!
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Lonogueira 24/04/2018

Habilidade ímpar de emocionar
Escrita poética, envolvente . A dor de homem, que decide morrer socialmente, e o impacto que isso gera no núcleo familiar. O livro mostra o amor pelos olhos da dor, do homem, da mulher, do menino. Livrão!!!
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Luciana 22/02/2020

Poético
?O mundo termina quando já não somos capazes de o amar? - Mia Couto

Antes de nascer o mundo foi meu primeiro contato com a obra de Mia Couto e deixou uma marca profunda em mim. O livro é denso, envolvente e intenso! O autor consegue tratar de temas difíceis como solidão, luto, suicídio, depressão de um modo tão poético que nos faz questionar nossos próprios pensamentos e convicções.
Ademais, as mulheres exercem papéis de destaque. Por meio de Dordalma, Marta e Noci, Mia Couto problematiza as relações hierárquicas e machistas daquela sociedade e as marcas que causam em todas as personagens.
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Manuel Gimo 30/09/2017

Mia Couto, Um Contador de Histórias!
AUTOR: Mia Couto
TÍTULO: Jesusalém
EDIÇÃO: 1ªed
LOCAL: Lisboa
EDITORA: Editorial Caminho
ANO: 2009
PÁGINAS: 169
FORMATO: eBook (Epub)

SINOPSE:
"Jesusalém é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor no auge das suas capacidades criativas. Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa. A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este mundo."

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Eu sou um fã declarado de Mia Couto. Me tornei fã desde que o li pela primeira vez em "Terra Sonâmbula" (1992). Na verdade, Couto faz parte da minha vida literária. Eu desenvolvi o amor a Literatura na escrita do norte-americano Dan Brown (nas aventuras do Professor de simbologia e iconografia religiosa de Harvard, Robert Langdon). Depois deste, fui me envolver com a escrita de Couto, sendo o segundo escritor que li no meu debut ao mundo das letras. E que por sinal, era a minha estreia na Literatura Moçambicana, e na Africana em geral. Desde então, fui "livrendo" suas obras feito um louco. Deleitei-me em obras como "E Se Obama Fosse Africano? E Outras Interinvenções" (2009), "Vozes Anoitecidas" (1986), "A Confissão da Leoa" (2012), "O Fio das Missangas" (2004), "Cada Homem é uma Raça" (1990), "Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra" (2002), "A Chuva Pasmada" (2004), "O Outro Pé da Sereia" (2006), "Mar Me Quer" (2000) , "Vinte e Zinco" (1999), "O Último Voo do Flamingo" (2000) e "A Varanda do Frangipani" (1996). Então, isso prova que conheço muito bem a escrita brincalhona miacoutiana. E agora dou de cara com este "Jesusalém" (2009) (ou "Antes de Nascer o Mundo", título brasileiro). E falando em brincar, o título já é a habitual brincadeira com as palavras: JESUS + ALÉM.

«A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado.» (p. 13)

Neste romance, conhecemos Mwanito (diminutivo aportuguesado de "mwana" [rapaz, miúdo, criança], palavra de Chisena e Chindau, línguas de centro de Moçambique), a personagem-narrador, o seu pai Silvestre Vitalício, o seu irmão mais velho Ntunzi e o ajudante da família Zacaria Kalash. Há que mencionar também o Tio Aproximado, parente distante mas que os visita com frequência e a jumenta Jezibela, tratada como parte da família. Os quatro homens primeiramente mencionados são habitantes de Jesusalém, assim chamado pelo patriarca, um lugarejo isolado nas savanas de Moçambique. Tão longe que, como dito por uma das personagens, «Deus se perde no caminho.» (p. 29)

Na verdade, esses não são os nomes de baptismo destes homens, todos (excepto Mwanito) foram "desbaptizados", receberam estes novos nomes, quando chegaram a Jesusalém, «a terra onde Jesus haveria de se descrucificar.» (p. 6)
Razão de tal exílio, aos seus filhos Silvestre Vitalício explica:

�« — O mundo acabou, meus filhos. Apenas resta Jesusalém.�

Eu era crente das palavras paternas. Ntunzi, porém, considerava tudo aquilo um delírio. Inconformado, voltava a indagar:�

— E não há mais ninguém no mundo?�

Silvestre Vitalício inspirava como se a resposta pedisse muito peito e, fazendo soltar um demorado suspiro, murmurava:�

— Somos os últimos.» (p. 12)

Então, os cincos homens são os últimos sobreviventes do mundo. Ao além de Jesusalém, só figuram apenas territórios sem vida que o Silvestre Vitalício vagamente designara por "Lado-de-Lá".

«Durante muitos anos alimentei feras pensando que eram animais de estimação.» (p. 8)

Mas ainda assim, Vitalício age como se de um tenebroso passado fugisse. Os miúdos estão proibidos de falar sobre mulheres, rezar, chorar ou mesmo cantar. Pois

« — Rezar é chamar visitas.�

— Mas que visitas, se ninguém mais há no mundo?

— Há visitas que nem se dá conta. São anjos e demónios que chegam sem pedir licença...�

— Anjos ou demónios?�

— Anjos ou demónios, a diferença não está neles. Apenas está em nós.» (pp. 27 - 28)

E quanto à mulheres:
« — Não quero essa conversa. Aqui não entram mulheres, nem quero ouvir falar a palavra... Não há falas dessas em Jesusalém. As mulheres são todas... todas umas putas.» (p. 20)

Mas a verdade é que a figura de mulher sempre está presente nesta família através da falecida Dordalma (sim, é isso mesmo, deriva de: DOR DE ALMA, nomes que só Couto sabe inventar), falecida mãe de Mwanito e Ntunzi. Há (supostas) lembranças, "deslembranças" e negações.

«Mulheres são como as ilhas: sempre longe, mas ofuscando todo o mar em redor.» (p. 34)

Então, um certo dia, aparece uma mulher em Jesusalém. Marta, mulher branca portuguesa. Mas a humanidade não tinha morrido? Como justifica a visita da aparecida? Convicções serão abaladas e segredos desenterrados. Afinal, há viventes no Lado-de-Lá? Marta vai agitar a inércia dos dias solitários destes homens: eles se retiraram do mundo por causa de uma mulher e é justamente uma mulher que os confrontará. O protagonismo feminino é um outro tema central da escrita miacoutiana, talvez o mais predominante entre todos. E nesta obra, não se foge a regra. Aliás, "Jesusalém" é sobre uma mulher, o enaltecimento das mulheres, tanto que os capítulos do livro têm epígrafes que são pedaços de poemas escritos por mulheres (Sophia de Mello Breyner Andresen, Hilda Hilst, Adélia Prado, Alejandra Pizarnik). Marta saiu de Lisboa à procura de seu marido, Marcelo, desaparecido em Moçambique. Mas a mulher vai é trazer desequilíbrio no seio destes homens.

«As mulheres são como as guerras: fazem os homens ficarem animais.» (p. 93)

«Uma terra é nossa como uma pessoa nos pode pertencer: sem nunca dela tomarmos posse.» (p. 84)

Bom, como aconteceu em todas obras de Couto que li nunca pude evitar de rir. E sim, rir muito mas muito mesmo. Até porque o alívio cómico é uma marca registrada de Couto. Falando em marca registrada de Couto, também temos aqui a busca de identidade na figura de Ntunzi, que se quer ver longe de Jesusalém, simplesmente porque é um lugar que não lhe pertence. É um lugar que não lhe deixa existir, viver. Ser o que quer, ter o que quer. É como dito pela própria personagem «pior que não saber contar histórias, pai, é não ter ninguém a quem as contar.» (p. 40) e «De que vale chorar se não tenho quem me escute?» (p. 94)

«Um militar sem lembrança de guerra é como prostituta que se diz virgem.» (p. 52)

Zacaria Kalash, o ex-militar, simboliza o povo moçambicano e sua recusa em lembrar das guerras. O esquecimento das guerras é um dos temas centrais dos livros de Couto. Porque nós, Moçambicanos, esquecemos-nos das guerras, ou mesmo da escravatura? É porque estivemos tudo misturado, vítimas e culpados. Kalash é a própria prova disso, ele mesmo, Moçambicano negro, lutara do lado dos Portugueses na Guerra Colonial.

«Segredo da sobrevivência é almoçar com o diabo e comer os restos com os anjos.» (p. 154)

O Tio Aproximado personifica a figura dos novos-ricos. Os novos-ricos, os ricos de agora, os nossos irmãos que outrora tivemos a mesma causa. E que agora olha-nos com indiferença.

«Nunca há terra suficiente para enterrar uma mãe.» (p. 73)

Quanto ao inocente Mwanito, aquele a que foi negado a infância e amor de mãe. Trazido a Jesusalém ainda pequeno, desprovido de memória, não se recorda mais do Lado-de-Lá, e acredita no que o seu pai lhe conta. É através do seu olhar ingénuo que conhecemos o mundo que lhe rodeia. A falecida mãe, que não conheceu, é sua força motriz. Aliás, a misteriosa morte da Dordalma é que guia a trama. Afinal, ela é causa de tudo.

«O mundo termina quando já não somos capazes de o amar.» (p. 147)

Silvestre Vitalício é pura negação. Do passado, do futuro, do viver. Um homem que se isola de tudo e de todos mas que arrasta os filhos consigo para um mundo de esquecimento, de negação, de loucura. A morte da sua esposa é o que lhe leva a se isolar, a mudar de nome e de convicções. Vitalício acredita que «Um dia, Deus nos virá pedir desculpa.» (p. 12) pelo o sofrimento que Ele lhes causara.

Mia Couto é, em primeiro lugar, um poeta. Mestiça a poesia com a prosa duma forma incrível. É de tocar a alma. O livro prendeu-me de tal maneira que o li em um dia. Couto é um contador de histórias de mão cheia. Isso vem confirmar o merecido lugar de Couto na Literatura Moçambicana contemporânea. Já sei o que vou fazer agora: procurar uma outra obra de Mia Couto para ler.

«Em Jesusalém a Terra terá sempre mais terra.» (p. 151)

OUTRAS CITAÇÕES DO LIVRO:

«Quem viveu pregado a um só chão não sabe sonhar com outros lugares.» (p. 14)

«Se não há passado, não há antepassados.» (p. 24)

«Já fazemos batota no jogo. Agora, faremos batota na vida.» (p. 26)

«Saudade é esperar que a farinha se refaça em grão.» (p. 45)

«Quem sai do seu lugar, nunca a si mesmo regressa.» (p. 45)

«Ninguém se deve aproximar de um homem que faz de conta que não chora.» (p. 46)

«Quem quer vestir-se de lobo fica sem a pele?»(p. 47)

«Queres conhecer um homem, espreita-lhe as cicatrizes.» (p. 50)

«A guerra fere mesmo os que nunca saíram em batalha.»(p. 56)

«Os fantasmas nacionais não se dão bem com os estrangeiros.»(p. 79)

«Os africanos são todos bantos, todos parecidos, usam as mesmas manhas, os mesmos feitiços.» (p. 99)

«África é o mais sensual dos continentes.» (p. 107)

«A bem dizer, neste nosso mundo, haverá outro modo de viver que não seja por via de enganos?» (p. 163)

AVALIAÇÃO: 9/10

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Review by: Manuel Gimo

site: https://m.facebook.com/manueltchatche.rmt
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Guta 03/04/2017

Impressões sobre o antes de nascer do mundo
Um dos meus livros preferidos deste autor, a poética é incrível, como o autor consegue nos mostrar o olhar ingênuo da criança, os personagens, o absurdo, a força, a complexidade das relações familiares, o irmão que quer fugir mas não consegue, o pai que é bruto mas demonstra seu amor, as cartas de amor/diário da portuguesa, tudo contribui para uma leitura fluida e prazerosa. Um romance belíssimo.
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@pacotedetextos 17/01/2017

Mais um livro sensacional do Mia Couto
Antes de nascer o mundo, título no Brasil dado a Jesusalém, é um livro do autor moçambicano Mia Couto. Como todas as outras obras do autor que li até hoje, esse também possui uma linguagem bastante poética, com construções que vão de neologismos a comparações impensadas – o que permite, sem sombra de dúvidas, que ele seja botado em um patamar de ninguém menos que Guimarães Rosa. (!)
Trata-se aqui da história de cinco moçambicanos: Silvestre Vitalício (viúvo de Dordalma) e os filhos Ntunzi e o pequeno Mwanito (este, o narrador da história), além do tio Aproximado e de Zacaria Kalash, estão refugiados em Jesusalém, “a terra onde Jesus haveria de se descrucificar“, a fim de anular o passado e o futuro e vivenciar um presente de, podemos dizer assim, realismo fantástico. Uma vida em que são cortadas relações com todo o exterior e que, certo dia, é abalada pela chegada de uma mulher (a primeira que Mwanito vê, aos onze anos de idade).
A história é dividida em três partes: “A humanidade“, “A visita” e “Revelações e regressos“, e cada uma dessas partes é subdividida em capítulos que oferecem epígrafes de autoras como Hilda Hilst, Sophia de Mello Breyner Andresen e Adélia Prado.
A história em si já é muito envolvente… Mas, como gosto de ressaltar em toda oportunidade, a linguagem do Mia Couto é algo que merece ser ressaltado sempre: não é todo mundo que consegue trabalhar tão bem com a língua portuguesa, seja em prosa, seja em poesia. Inclusive, é bom destacar: a prosa e a poesia, em Mia Couto, confundem-se, sendo que muitas vezes não dá pra separar os gêneros nos seus textos.
Quer exemplos? Tenho vários! MAS ATENÇÃO: quando eu digo vários, são vários mesmo! Pra quem não sabe, eu seria capaz de escrever um livro só com citações do Mia Couto. É sério, confere aí:

. Ninguém é de uma raça. As raças […] são fardas que vestimos. (p. 13)
. Não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez. (p. 13)
. O sonho é uma conversa com os mortos, uma viagem ao país das almas. (p. 17)
. Quem viveu pregado a um só chão não sabe sonhar com outros lugares. (p. 24)
. Nunca vi estrada que não fosse triste. (p. 35)
. Esperas. É isso que a estrada traz. E são as esperas que fazem envelhecer. (p. 35)
. Todo nascimento é uma exclusão, uma mutilação. […] Diz-se “parto”. Pois seria mais acertado dizer “partida”. (p. 40)
. A escrita era uma ponte entre tempos passados e futuros. (p. 42)
. Rezar é chamar visitas. (p. 44)
. Chorar ou rezar é a mesma coisa. (p. 45)
. Onde se dorme junto é no cemitério. (p. 46)
. Não é segurando nas asas que se ajuda um pássaro a voar. O pássaro voa simplesmente porque o deixam ser pássaro. (p. 52)
. Que história pode ser criada sem lágrima, sem canto, sem livro e sem reza? (p. 54)
. Os olhos de quem se ama nunca se vêem. (p. 55)
. A cegueira é o destino de quem se deixa tomar de assalto pela paixão: deixamos de ver quem amamos. Em vez disso, o apaixonado fita o abismo de si mesmo. (p. 56)
. Os mortos não morrem quando deixam de viver, mas quando os votamos ao esquecimento. (p. 59)
. O medo faz dilatar as distâncias. (p. 64)
. Não viver é o que mais cansa. (p. 65)
. Quem sai do seu lugar, nunca a si mesmo regressa. (p. 74)
. A raiva é apenas um modo diverso de chorar. (p. 76)
. Os soldados estão sempre feridos. A guerra fere mesmo os que nunca saíram em batalha. (p. 93)
. Perante o tiro, certo ou falhado, toda a gente sempre morre. (p. 103)
. Não chegamos realmente a viver durante a maior parte da nossa vida. Desperdiçamo-nos numa espraiada letargia a que, para nosso próprio engano e consolo, chamamos existência. No resto, vamos vagalumeando, acesos apenas por breves intermitências. (p. 115)
. Nunca há terra suficiente para enterrar uma mãe. (p. 121)
. O poeta se engrandece perante a ausência, como se a ausência fosse o seu altar, e ele ficasse maior que a palavra. (p. 132)
. Os segredos são fascinantes, porque foram feitos para serem revelados. (p. 136)
. Do amor me interessa apenas o não-saber, deixar o corpo fora da mente, em descomando absoluto. (p. 140)
. A poesia é uma doença mortal. (p. 142)
. Quem quer a eternidade olha o céu, quem quer o momento olha a nuvem. (p. 147)
. É isso que faz um lugar: o chegar e o partir. (p. 156)
. O silêncio é uma travessia. (p. 180)
. O Tempo é um veneno […] Mais eu lembro, menos fico vivo. (p. 212)
. Os vivos não são simples enterradores de ossos: eles são, antes de mais, pastores de defuntos. (p. 212)
. Este mundo, para ser amado, precisa de ódio. (p. 224)
. Uma despedida […] é um pequeno modo de morrer. (p. 241)
. Deixo de ser cego apenas quando escrevo. (p. 275)

site: https://pacotedetextos.wordpress.com/2017/01/16/resenha-mia-couto-antes-de-nascer-o-mundo/#more-894
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Dani-chan 23/05/2016

Esse é o primeiro de um autor africano que leio, e já posso adiantar que me apaixonei pela escrita do autor e de todo o clima que ele criou em volta de seus personagens, que por sinal são incríveis e cheios de personalidade.

“ Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.”

O livro é narrado por Mwanito, um garotinho que aos três anos é tirado de sua casa por seu pai e levada até uma antiga fazenda nos confins rurais de Moçambique, e lá viveram, Mwanito, seu pai Silvestre, o irmão mais velho Ntunzi e Zacaria, um criado da família, e por fim Tio Aproximado que os visita constantemente, não podemos esquecer da jumenta Jezibela, tratada quase como humana por eles. Mwanito não se lembra de como era o mundo antes de Jesusalém, como Silvestre batizou o lugar onde eles vivem, e muitas vezes não sabe se acredita na história do pai que diz que não existe um mundo lá fora, o irmão vivi tramando fugas enquanto.

Temos também um personagem fantasma, ela não aparece em momento algum, mas sua lembrança pesa entre eles o tempo inteiro, que é a Dona Dordalma, a mãe dos garotos, durante história ela é um fio que conduz muitos dos atos de nossos personagens, Mwanito se recente de nunca ter tido uma mãe, Ntunzi se recente do pai a quem acusa de ter sido responsável pelo que aconteceu a mãe, Silvestre se recente de tudo e todos especialmente do tio aproximado, e assim melancolicamente a história segue.

“Não chegamos realmente a viver durante a maior parte de nossa vida. Desperdiçamo-nos numa espraiada letargia a que, para nosso próprio engano e consolo, chamamos existência. No resto, vamos vagalumeando, acesos apenas por breves intermitências.”

A escrita de Mia Couto é tão poética e bonita, que parece que ele esta recitando para nós, sua escrita me fazia ver seus cenários e acompanhar esses dois irmão aprontando por aí como se fosse um filme, ele também consegui despertar em mim uma especie de magia que ultimamente só Neil Gaiman conseguia, a parte onde Mwanito abre os olhos dentro da água na curva do rio e vê a luz refletida, foi mágico demais me lembrando minha própria infância.

Outra coisa que dá um charme todo especial à esse livro são os pequenos poemas que abre cada capitulo e que merecem ser lidos com atenção.

“Vendo-o esgrimir assim contra o vazio, me causou pena. Meu pai queria fechar o mundo fara dele. Mas não havia porta para se trancar por dentro.”

Alem disso um livro que te faz querer marcar citações a cada página que se lê alguma coisa de muito boa ele tem, indico para todo mundo que goste de ler, porque é um livro maravilhoso, e até o final triste consegue encantar.
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Nélio 19/01/2016

Outro livro que nos faz viajar pelas mãos de um notável escritor! Novamente o tempo assume um papel de destaque na narrativa de vidas que sofrem por diversos motivos em uma terra distante de nós, brasileiros, mas que pela escrita do autor nos aproxima por diversas formas.
Um homem que foge de si por medo de enfrentar sua própria consciência, mas que não se isola, apenas, pois ele carrega os filhos para um mundo que ele deseja ser e estar distante de tudo e dos outros. O tempo é para ele uma "víbora" que o fere: "Jesusalém lhe dera o esquecimento. O veneno da serpente lhe trouxera o tempo. A cidade lhe causara cegueira." (p. 215)
Há muita coisa boa de se ler, afora o entrosamento entre o onírico e o real - característica principal de todos os livros que já li de Mia Couto. Podemos encontrar: despertar da sexualidade, traições, mentiras, desejos, guerra, sofrimento, questões étnicas...
Enfim, mais um livro de Mia Couto que vale a pena!
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Marco Cação 09/10/2015

Leitura essencial
O livro te prende de forma absurda e denota o contumaz brilhantismo de Mia Couto. A construção dos personagens, os nomes do personagens como Dordalama, Silveste Vitalício, etc tudo, faz o livro brilhante
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