Antes de Nascer o Mundo

Antes de Nascer o Mundo Mia Couto




Resenhas - Antes de nascer o mundo


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Renata 01/11/2013

Mia Couto - afinando silêncios
Mia é mago.
Faz de instantes longas poéticos.
Me traz à tona melancolias diversas, paisagens sonoras, e reverberações físicas em suas palavras.
Com esse não podia ser diferente. A história de Mwanito e sua infância roubada/criada, repleta de passagens bucólicas e mistérios a desvendar.
Traz ao leitor ecos do mais fértil e sensual continente.
Me marcou a mudança de ritmo a medida que o livro sucede.
Na infância a lentidão, o mundo cabendo em cada minuto.
Já na cidade e com a puberdade fatos importantes passam como que de relance.
Dessa vez não fiquei tão triste ao findar um livro. Não porque não gostara, mas sim por que fora leve.
Mia é mago e dentro de si há uma mulher, ou seria o tipo de homem que queremos ver nascer?
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uyara 06/11/2013

Mudou um pouquinho
Mia Couto é sempre delicioso de ler. Portanto, esse livro não seria diferente. O que eu gostei é que essa é a primeira obra de Mia que eu leio que não tem um foco grande na política. Vi também uma consistência maior na prosa e menor na poesia.
Neste livro, o foco está no coração, na fuga. Como fugimos de nós mesmos??? Como lidamos com o que está além de nosso controle? Alguns fatos podem ser mudados através de nossas escolhas e algumas escolhas definem fatos que não serão mais mudados...
Muito bom e vale a pena ser lido.
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Thiago Barbosa Santos 08/05/2018

Você conhece a África?
Você já leu literatura africana? Algum dia já teve a curiosidade de conhecer um autor do continente? Minha experiência no assunto não é vasta, mas acho que dei o primeiro passo muito bem acertado. Há algum tempo o moçambicano Mia Couto é comentado e reverenciado nas rodas literárias brasileiras, mas apenas no ano passado tive a oportunidade de ler um pouco da obra dele. Comecei por 'Terra Sonâmbula', um livro lindo que mostra a convivência entre um velho e um menino em uma terra devastada pela guerra, um local que parece mesmo vagar sonâmbulo, palco de tamanhas mazelas geradas pelos constantes e intermináveis conflitos. O primeiro impacto com a arte (sim, pura arte em forma de texto) do escritor foi altamente positivo.

Recentemente li um outro livro de Mia Couto, o 'Antes de Nascer o Mundo', e fui igualmente impactado. Além das histórias comoventes, a narrativa é primorosa, carregada de lirismo, a mais autêntica poesia em forma de prosa.

É um livro de pessoas que, desacreditadas do mundo, resolvem fugir. Mas fugir para onde? Como conseguir se livrar de uma vida de amarguras e sofrimento? Silvestre encontrou refúgio em uma terra esquecida na savana de Moçambique, chamada por ele de Jesusalém. Desiludido com a morte da esposa, que faleceu em condições mal explicadas no início do livro, Silvestre se mostra profundamente magoado e simplesmente abre mão de viver...leva os dois filhos (Mwanito e Mtunzi) e o empregado (Zacaria) para esta terra. Lá eles vivem como se o mundo antigo não existisse mais, todos são rebatizados, ganham novos nomes. O único contado deles com o "mundo anterior" é com Tio Aproximado, cunhado de Silvestre, que leva para o grupo constantemente alguns itens básicos de sobrevivência no meio do nada. Aproximado encara o cunhado como uma pessoa louca e vive tentando convencê-lo a retornar para a realidade. Por sua vez, Silvestre é arredio com ele.

A história é narrada por Mwanito, que foi muito pequeno para Jesusalém e não tem nenhuma referência do "outro mundo". Nunca tinha visto uma mulher, por exemplo. O sexo oposto era abominado pelo pai dele. "Tudo umas putas", dizia Silvestre.

A rotina do grupo muda quando Tio Aproximado leva para Jesusalém uma portuguesa que buscava informações sobre o antigo namorado, morto naquelas terras muitos anos antes. Esta foi a primeira mulher com quem Mwanito teve contato. Silvestre tentou de todas as maneiras expulsar a moça, sem sucesso. Um dia, o velho foi picado por uma cobra e precisou de atendimento médico. Foi quando todos conseguiram voltar para o mundo dos vivos, o mundo que era totalmente novo para Mwanito.

Meio que a contragosto, Silvestre volta para o mundo normal. Nesta parte do livro passamos a conhecer mais detalhes da vida pregressa dele. Da traição da mulher, do estupro coletivo que ela sofreu, do desespero que sentiu até cometer o extremo de suicidar-se. Descobrimos que Mtunzi era na verdade filho de Zacaria. Silvestre voltou para o mundo no qual não queria mais viver, e definhou até se tornar praticamente um morto-vivo. É um livro escrito com a tinta da melancolia. Triste e bonito ao mesmo tempo pela poética do texto.
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Catharina 27/01/2014

O leitor encontrará em "Antes de nasce o mundo" um belíssimo representante da literatura africana, onde se destacam a qualidade poética, a narrativa bem construída e toda a mística de um universo particular criado por Mia Couto.

"Antes de Nascer o Mundo" é um livro formidável, escrito com maestria, uma verdadeira poesia escrita em forma de prosa, envolvente, comovente e repleto de simbolismos e valores.

Mais que indicado: é leitura obrigatória!
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Neto 24/07/2014

Jerusalém
Antes de nascer o mundo
Mia Couto
Companhia das Letras
277 páginas

Primeiramente, gostaria muito de entender por que uma editora resolve trocar o nome do livro se vai manter toda a ortografia como a original, em português moçambicano (nem sei se podemos falar em português moçambicano, mas enfim). O livro originalmente se chama Jerusalém, e acho que deveria chamar assim (mas poderia ser pior, poderia se chamar The tuner of silences, como é nos EUA - Deus me livre).

Agora, me livrando da bobagem inicial, que em nada pode desmerecer um livro como Antes de nascer o mundo, começo a falar um pouco dele. Como foi bom conhecer o Mia Couto. Escreve com uma sutileza, uma poesia... Mia é o tipo de escritor que me faz ter certeza de que a literatura é uma das mais belas artes, pois, mesmo com o livro não trazendo absolutamente nenhuma gravura, conseguimos sentir com tanta força o vazio de Jerusalém.

O livro é de leitura bastante rápida, porém não menos complexo e profundo. Mia Couto consegue dar vida com maestria aos cadáveres que vivem na distante, vazia e inóspita Jerusalém. Colocar a narrativa em primeira pessoa, na voz de Mwanito, só melhora, pois leva o leitor a uma proximidade tão grande com o último refúgio da humanidade, criado pelo autoritário Silvestre Vitalício, pai do narrador, que será possível abraçar a terra de Jerusalém antes de dormir.

Mia Couto se descreve mais como um poeta do que como um escritor de romances, em entrevistas. E nesse livro é possível perceber como ele quer colocar todo o seu lirismo presente na narrativa, o que a deixa viva, intensa, apaixonante. Há de se verificar também que todo início de capítulo há um trecho de poema de alguma poetisa, em especial Sophia de Mello Breyner Andresen, que fazem com que os capítulos sejam reflexos destes trechos.

Entre os vários temas abordados pelo livro, os que mais me tocaram foi como o autor filosofou sobre a morte. Em certo ponto, é possível verificar que, mesmo vivos, todos os residentes de Jerusalém estão mortos, todos ligados a um passado terrível, porém há muito sepultado por Silvestre, que partiu para o além simplesmente por bloquear todo este passado. Nesse ponto, é possível perceber como a memória é de importância enorme para a experiência de vida de uma pessoa. Sem as minhas memórias, não consigo ter identidade e terei, portanto, que criar uma nova. E é isso que Silvestre faz com todos os que moram em Jerusalém, criando assuntos proibidos e inibindo a reprimindo a infância de seus dois filhos, o narrador e seu irmão Ntunzi.

É o tipo de livro que não parece chegar a lugar algum. Os primeiros capítulos são todos para introduzir personagens e contar sobre eles somente a partir da fundação em Jerusalém, pois Silvestre jura que não existem mais cidades, que todos morreram, e agora eles são os guardiões da humanidade, o último sopro de vida humana no mundo.

Porém, esse não chegar a lugar algum acaba chegando, Mia Couto guiando magistralmente. Eu não gosto de rabiscar meus livros, mas senti muita vontade de grifar tantas passagens que perdi a conta.

Mais um escritor lusófono que conheço e que me agrada grandemente. A leitura foi rápida, mas a sensação com que fiquei foi intensa, e o livro já figura entre os que mais me impactaram.

Não deixe de visitar Jerusalém, mas não deixe que Silvestre saiba de sua chegada.
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Luiz Araújo 05/01/2015

Sensibilidade aos borbotões.
É impressionante a sensibilidade de Mia Couto ao escrever "Antes de nascer o mundo".
A singeleza das situações que nos são apresentadas, a importância que o ambiente exerce sobre as personagens e a abordagem intimista dada constituíram, de fato, uma história que não esquecerei tão cedo. Foi possível me enxergar na Moçambique e sentir o calor daquele lugar.
Por fim, o que dizer da forma como foi escrito? Não saberia dizer se tratava-se de prosa ou poesia por muitas vezes. Fantástico!
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Kac 05/04/2015

Jerusalém, uma terra de ninguém, inventada para fugir de uma reslidade de guerra, dor, sofrimento e traição. Um mundo inventado onde um homem e seus dois filhos se refugiam de um passado que merece ser esquecido. O filho mais velho tem lembranças, o mais novo só conhece aquilo que o pai lhe apresenta e acredita nesse mundo como uma verdade absoluta. Durante a leitura, aparecem novos personagens que revertem a trama e fazem com que mistérios sejam revelados, enovos caminhos surjam na história.
A narrativa de Mia Couto é encantadora! Talvez esse seja o melhor livro dle que já li do autor, mas não sei, cada leitura é esprcial!
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Marco Cação 09/10/2015

Leitura essencial
O livro te prende de forma absurda e denota o contumaz brilhantismo de Mia Couto. A construção dos personagens, os nomes do personagens como Dordalama, Silveste Vitalício, etc tudo, faz o livro brilhante
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Nélio 19/01/2016

Outro livro que nos faz viajar pelas mãos de um notável escritor! Novamente o tempo assume um papel de destaque na narrativa de vidas que sofrem por diversos motivos em uma terra distante de nós, brasileiros, mas que pela escrita do autor nos aproxima por diversas formas.
Um homem que foge de si por medo de enfrentar sua própria consciência, mas que não se isola, apenas, pois ele carrega os filhos para um mundo que ele deseja ser e estar distante de tudo e dos outros. O tempo é para ele uma "víbora" que o fere: "Jesusalém lhe dera o esquecimento. O veneno da serpente lhe trouxera o tempo. A cidade lhe causara cegueira." (p. 215)
Há muita coisa boa de se ler, afora o entrosamento entre o onírico e o real - característica principal de todos os livros que já li de Mia Couto. Podemos encontrar: despertar da sexualidade, traições, mentiras, desejos, guerra, sofrimento, questões étnicas...
Enfim, mais um livro de Mia Couto que vale a pena!
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Dani-chan 23/05/2016

Esse é o primeiro de um autor africano que leio, e já posso adiantar que me apaixonei pela escrita do autor e de todo o clima que ele criou em volta de seus personagens, que por sinal são incríveis e cheios de personalidade.

“ Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.”

O livro é narrado por Mwanito, um garotinho que aos três anos é tirado de sua casa por seu pai e levada até uma antiga fazenda nos confins rurais de Moçambique, e lá viveram, Mwanito, seu pai Silvestre, o irmão mais velho Ntunzi e Zacaria, um criado da família, e por fim Tio Aproximado que os visita constantemente, não podemos esquecer da jumenta Jezibela, tratada quase como humana por eles. Mwanito não se lembra de como era o mundo antes de Jesusalém, como Silvestre batizou o lugar onde eles vivem, e muitas vezes não sabe se acredita na história do pai que diz que não existe um mundo lá fora, o irmão vivi tramando fugas enquanto.

Temos também um personagem fantasma, ela não aparece em momento algum, mas sua lembrança pesa entre eles o tempo inteiro, que é a Dona Dordalma, a mãe dos garotos, durante história ela é um fio que conduz muitos dos atos de nossos personagens, Mwanito se recente de nunca ter tido uma mãe, Ntunzi se recente do pai a quem acusa de ter sido responsável pelo que aconteceu a mãe, Silvestre se recente de tudo e todos especialmente do tio aproximado, e assim melancolicamente a história segue.

“Não chegamos realmente a viver durante a maior parte de nossa vida. Desperdiçamo-nos numa espraiada letargia a que, para nosso próprio engano e consolo, chamamos existência. No resto, vamos vagalumeando, acesos apenas por breves intermitências.”

A escrita de Mia Couto é tão poética e bonita, que parece que ele esta recitando para nós, sua escrita me fazia ver seus cenários e acompanhar esses dois irmão aprontando por aí como se fosse um filme, ele também consegui despertar em mim uma especie de magia que ultimamente só Neil Gaiman conseguia, a parte onde Mwanito abre os olhos dentro da água na curva do rio e vê a luz refletida, foi mágico demais me lembrando minha própria infância.

Outra coisa que dá um charme todo especial à esse livro são os pequenos poemas que abre cada capitulo e que merecem ser lidos com atenção.

“Vendo-o esgrimir assim contra o vazio, me causou pena. Meu pai queria fechar o mundo fara dele. Mas não havia porta para se trancar por dentro.”

Alem disso um livro que te faz querer marcar citações a cada página que se lê alguma coisa de muito boa ele tem, indico para todo mundo que goste de ler, porque é um livro maravilhoso, e até o final triste consegue encantar.
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@pacotedetextos 17/01/2017

Mais um livro sensacional do Mia Couto
Antes de nascer o mundo, título no Brasil dado a Jesusalém, é um livro do autor moçambicano Mia Couto. Como todas as outras obras do autor que li até hoje, esse também possui uma linguagem bastante poética, com construções que vão de neologismos a comparações impensadas – o que permite, sem sombra de dúvidas, que ele seja botado em um patamar de ninguém menos que Guimarães Rosa. (!)
Trata-se aqui da história de cinco moçambicanos: Silvestre Vitalício (viúvo de Dordalma) e os filhos Ntunzi e o pequeno Mwanito (este, o narrador da história), além do tio Aproximado e de Zacaria Kalash, estão refugiados em Jesusalém, “a terra onde Jesus haveria de se descrucificar“, a fim de anular o passado e o futuro e vivenciar um presente de, podemos dizer assim, realismo fantástico. Uma vida em que são cortadas relações com todo o exterior e que, certo dia, é abalada pela chegada de uma mulher (a primeira que Mwanito vê, aos onze anos de idade).
A história é dividida em três partes: “A humanidade“, “A visita” e “Revelações e regressos“, e cada uma dessas partes é subdividida em capítulos que oferecem epígrafes de autoras como Hilda Hilst, Sophia de Mello Breyner Andresen e Adélia Prado.
A história em si já é muito envolvente… Mas, como gosto de ressaltar em toda oportunidade, a linguagem do Mia Couto é algo que merece ser ressaltado sempre: não é todo mundo que consegue trabalhar tão bem com a língua portuguesa, seja em prosa, seja em poesia. Inclusive, é bom destacar: a prosa e a poesia, em Mia Couto, confundem-se, sendo que muitas vezes não dá pra separar os gêneros nos seus textos.
Quer exemplos? Tenho vários! MAS ATENÇÃO: quando eu digo vários, são vários mesmo! Pra quem não sabe, eu seria capaz de escrever um livro só com citações do Mia Couto. É sério, confere aí:

. Ninguém é de uma raça. As raças […] são fardas que vestimos. (p. 13)
. Não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez. (p. 13)
. O sonho é uma conversa com os mortos, uma viagem ao país das almas. (p. 17)
. Quem viveu pregado a um só chão não sabe sonhar com outros lugares. (p. 24)
. Nunca vi estrada que não fosse triste. (p. 35)
. Esperas. É isso que a estrada traz. E são as esperas que fazem envelhecer. (p. 35)
. Todo nascimento é uma exclusão, uma mutilação. […] Diz-se “parto”. Pois seria mais acertado dizer “partida”. (p. 40)
. A escrita era uma ponte entre tempos passados e futuros. (p. 42)
. Rezar é chamar visitas. (p. 44)
. Chorar ou rezar é a mesma coisa. (p. 45)
. Onde se dorme junto é no cemitério. (p. 46)
. Não é segurando nas asas que se ajuda um pássaro a voar. O pássaro voa simplesmente porque o deixam ser pássaro. (p. 52)
. Que história pode ser criada sem lágrima, sem canto, sem livro e sem reza? (p. 54)
. Os olhos de quem se ama nunca se vêem. (p. 55)
. A cegueira é o destino de quem se deixa tomar de assalto pela paixão: deixamos de ver quem amamos. Em vez disso, o apaixonado fita o abismo de si mesmo. (p. 56)
. Os mortos não morrem quando deixam de viver, mas quando os votamos ao esquecimento. (p. 59)
. O medo faz dilatar as distâncias. (p. 64)
. Não viver é o que mais cansa. (p. 65)
. Quem sai do seu lugar, nunca a si mesmo regressa. (p. 74)
. A raiva é apenas um modo diverso de chorar. (p. 76)
. Os soldados estão sempre feridos. A guerra fere mesmo os que nunca saíram em batalha. (p. 93)
. Perante o tiro, certo ou falhado, toda a gente sempre morre. (p. 103)
. Não chegamos realmente a viver durante a maior parte da nossa vida. Desperdiçamo-nos numa espraiada letargia a que, para nosso próprio engano e consolo, chamamos existência. No resto, vamos vagalumeando, acesos apenas por breves intermitências. (p. 115)
. Nunca há terra suficiente para enterrar uma mãe. (p. 121)
. O poeta se engrandece perante a ausência, como se a ausência fosse o seu altar, e ele ficasse maior que a palavra. (p. 132)
. Os segredos são fascinantes, porque foram feitos para serem revelados. (p. 136)
. Do amor me interessa apenas o não-saber, deixar o corpo fora da mente, em descomando absoluto. (p. 140)
. A poesia é uma doença mortal. (p. 142)
. Quem quer a eternidade olha o céu, quem quer o momento olha a nuvem. (p. 147)
. É isso que faz um lugar: o chegar e o partir. (p. 156)
. O silêncio é uma travessia. (p. 180)
. O Tempo é um veneno […] Mais eu lembro, menos fico vivo. (p. 212)
. Os vivos não são simples enterradores de ossos: eles são, antes de mais, pastores de defuntos. (p. 212)
. Este mundo, para ser amado, precisa de ódio. (p. 224)
. Uma despedida […] é um pequeno modo de morrer. (p. 241)
. Deixo de ser cego apenas quando escrevo. (p. 275)

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Guta 03/04/2017

Impressões sobre o antes de nascer do mundo
Um dos meus livros preferidos deste autor, a poética é incrível, como o autor consegue nos mostrar o olhar ingênuo da criança, os personagens, o absurdo, a força, a complexidade das relações familiares, o irmão que quer fugir mas não consegue, o pai que é bruto mas demonstra seu amor, as cartas de amor/diário da portuguesa, tudo contribui para uma leitura fluida e prazerosa. Um romance belíssimo.
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Manuel Gimo 30/09/2017

Mia Couto, Um Contador de Histórias!
AUTOR: Mia Couto
TÍTULO: Jesusalém
EDIÇÃO: 1ªed
LOCAL: Lisboa
EDITORA: Editorial Caminho
ANO: 2009
PÁGINAS: 169
FORMATO: eBook (Epub)

SINOPSE:
"Jesusalém é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor no auge das suas capacidades criativas. Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa. A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este mundo."

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Eu sou um fã declarado de Mia Couto. Me tornei fã desde que o li pela primeira vez em "Terra Sonâmbula" (1992). Na verdade, Couto faz parte da minha vida literária. Eu desenvolvi o amor a Literatura na escrita do norte-americano Dan Brown (nas aventuras do Professor de simbologia e iconografia religiosa de Harvard, Robert Langdon). Depois deste, fui me envolver com a escrita de Couto, sendo o segundo escritor que li no meu debut ao mundo das letras. E que por sinal, era a minha estreia na Literatura Moçambicana, e na Africana em geral. Desde então, fui "livrendo" suas obras feito um louco. Deleitei-me em obras como "E Se Obama Fosse Africano? E Outras Interinvenções" (2009), "Vozes Anoitecidas" (1986), "A Confissão da Leoa" (2012), "O Fio das Missangas" (2004), "Cada Homem é uma Raça" (1990), "Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra" (2002), "A Chuva Pasmada" (2004), "O Outro Pé da Sereia" (2006), "Mar Me Quer" (2000) , "Vinte e Zinco" (1999), "O Último Voo do Flamingo" (2000) e "A Varanda do Frangipani" (1996). Então, isso prova que conheço muito bem a escrita brincalhona miacoutiana. E agora dou de cara com este "Jesusalém" (2009) (ou "Antes de Nascer o Mundo", título brasileiro). E falando em brincar, o título já é a habitual brincadeira com as palavras: JESUS + ALÉM.

«A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado.» (p. 13)

Neste romance, conhecemos Mwanito (diminutivo aportuguesado de "mwana" [rapaz, miúdo, criança], palavra de Chisena e Chindau, línguas de centro de Moçambique), a personagem-narrador, o seu pai Silvestre Vitalício, o seu irmão mais velho Ntunzi e o ajudante da família Zacaria Kalash. Há que mencionar também o Tio Aproximado, parente distante mas que os visita com frequência e a jumenta Jezibela, tratada como parte da família. Os quatro homens primeiramente mencionados são habitantes de Jesusalém, assim chamado pelo patriarca, um lugarejo isolado nas savanas de Moçambique. Tão longe que, como dito por uma das personagens, «Deus se perde no caminho.» (p. 29)

Na verdade, esses não são os nomes de baptismo destes homens, todos (excepto Mwanito) foram "desbaptizados", receberam estes novos nomes, quando chegaram a Jesusalém, «a terra onde Jesus haveria de se descrucificar.» (p. 6)
Razão de tal exílio, aos seus filhos Silvestre Vitalício explica:

�« — O mundo acabou, meus filhos. Apenas resta Jesusalém.�

Eu era crente das palavras paternas. Ntunzi, porém, considerava tudo aquilo um delírio. Inconformado, voltava a indagar:�

— E não há mais ninguém no mundo?�

Silvestre Vitalício inspirava como se a resposta pedisse muito peito e, fazendo soltar um demorado suspiro, murmurava:�

— Somos os últimos.» (p. 12)

Então, os cincos homens são os últimos sobreviventes do mundo. Ao além de Jesusalém, só figuram apenas territórios sem vida que o Silvestre Vitalício vagamente designara por "Lado-de-Lá".

«Durante muitos anos alimentei feras pensando que eram animais de estimação.» (p. 8)

Mas ainda assim, Vitalício age como se de um tenebroso passado fugisse. Os miúdos estão proibidos de falar sobre mulheres, rezar, chorar ou mesmo cantar. Pois

« — Rezar é chamar visitas.�

— Mas que visitas, se ninguém mais há no mundo?

— Há visitas que nem se dá conta. São anjos e demónios que chegam sem pedir licença...�

— Anjos ou demónios?�

— Anjos ou demónios, a diferença não está neles. Apenas está em nós.» (pp. 27 - 28)

E quanto à mulheres:
« — Não quero essa conversa. Aqui não entram mulheres, nem quero ouvir falar a palavra... Não há falas dessas em Jesusalém. As mulheres são todas... todas umas putas.» (p. 20)

Mas a verdade é que a figura de mulher sempre está presente nesta família através da falecida Dordalma (sim, é isso mesmo, deriva de: DOR DE ALMA, nomes que só Couto sabe inventar), falecida mãe de Mwanito e Ntunzi. Há (supostas) lembranças, "deslembranças" e negações.

«Mulheres são como as ilhas: sempre longe, mas ofuscando todo o mar em redor.» (p. 34)

Então, um certo dia, aparece uma mulher em Jesusalém. Marta, mulher branca portuguesa. Mas a humanidade não tinha morrido? Como justifica a visita da aparecida? Convicções serão abaladas e segredos desenterrados. Afinal, há viventes no Lado-de-Lá? Marta vai agitar a inércia dos dias solitários destes homens: eles se retiraram do mundo por causa de uma mulher e é justamente uma mulher que os confrontará. O protagonismo feminino é um outro tema central da escrita miacoutiana, talvez o mais predominante entre todos. E nesta obra, não se foge a regra. Aliás, "Jesusalém" é sobre uma mulher, o enaltecimento das mulheres, tanto que os capítulos do livro têm epígrafes que são pedaços de poemas escritos por mulheres (Sophia de Mello Breyner Andresen, Hilda Hilst, Adélia Prado, Alejandra Pizarnik). Marta saiu de Lisboa à procura de seu marido, Marcelo, desaparecido em Moçambique. Mas a mulher vai é trazer desequilíbrio no seio destes homens.

«As mulheres são como as guerras: fazem os homens ficarem animais.» (p. 93)

«Uma terra é nossa como uma pessoa nos pode pertencer: sem nunca dela tomarmos posse.» (p. 84)

Bom, como aconteceu em todas obras de Couto que li nunca pude evitar de rir. E sim, rir muito mas muito mesmo. Até porque o alívio cómico é uma marca registrada de Couto. Falando em marca registrada de Couto, também temos aqui a busca de identidade na figura de Ntunzi, que se quer ver longe de Jesusalém, simplesmente porque é um lugar que não lhe pertence. É um lugar que não lhe deixa existir, viver. Ser o que quer, ter o que quer. É como dito pela própria personagem «pior que não saber contar histórias, pai, é não ter ninguém a quem as contar.» (p. 40) e «De que vale chorar se não tenho quem me escute?» (p. 94)

«Um militar sem lembrança de guerra é como prostituta que se diz virgem.» (p. 52)

Zacaria Kalash, o ex-militar, simboliza o povo moçambicano e sua recusa em lembrar das guerras. O esquecimento das guerras é um dos temas centrais dos livros de Couto. Porque nós, Moçambicanos, esquecemos-nos das guerras, ou mesmo da escravatura? É porque estivemos tudo misturado, vítimas e culpados. Kalash é a própria prova disso, ele mesmo, Moçambicano negro, lutara do lado dos Portugueses na Guerra Colonial.

«Segredo da sobrevivência é almoçar com o diabo e comer os restos com os anjos.» (p. 154)

O Tio Aproximado personifica a figura dos novos-ricos. Os novos-ricos, os ricos de agora, os nossos irmãos que outrora tivemos a mesma causa. E que agora olha-nos com indiferença.

«Nunca há terra suficiente para enterrar uma mãe.» (p. 73)

Quanto ao inocente Mwanito, aquele a que foi negado a infância e amor de mãe. Trazido a Jesusalém ainda pequeno, desprovido de memória, não se recorda mais do Lado-de-Lá, e acredita no que o seu pai lhe conta. É através do seu olhar ingénuo que conhecemos o mundo que lhe rodeia. A falecida mãe, que não conheceu, é sua força motriz. Aliás, a misteriosa morte da Dordalma é que guia a trama. Afinal, ela é causa de tudo.

«O mundo termina quando já não somos capazes de o amar.» (p. 147)

Silvestre Vitalício é pura negação. Do passado, do futuro, do viver. Um homem que se isola de tudo e de todos mas que arrasta os filhos consigo para um mundo de esquecimento, de negação, de loucura. A morte da sua esposa é o que lhe leva a se isolar, a mudar de nome e de convicções. Vitalício acredita que «Um dia, Deus nos virá pedir desculpa.» (p. 12) pelo o sofrimento que Ele lhes causara.

Mia Couto é, em primeiro lugar, um poeta. Mestiça a poesia com a prosa duma forma incrível. É de tocar a alma. O livro prendeu-me de tal maneira que o li em um dia. Couto é um contador de histórias de mão cheia. Isso vem confirmar o merecido lugar de Couto na Literatura Moçambicana contemporânea. Já sei o que vou fazer agora: procurar uma outra obra de Mia Couto para ler.

«Em Jesusalém a Terra terá sempre mais terra.» (p. 151)

OUTRAS CITAÇÕES DO LIVRO:

«Quem viveu pregado a um só chão não sabe sonhar com outros lugares.» (p. 14)

«Se não há passado, não há antepassados.» (p. 24)

«Já fazemos batota no jogo. Agora, faremos batota na vida.» (p. 26)

«Saudade é esperar que a farinha se refaça em grão.» (p. 45)

«Quem sai do seu lugar, nunca a si mesmo regressa.» (p. 45)

«Ninguém se deve aproximar de um homem que faz de conta que não chora.» (p. 46)

«Quem quer vestir-se de lobo fica sem a pele?»(p. 47)

«Queres conhecer um homem, espreita-lhe as cicatrizes.» (p. 50)

«A guerra fere mesmo os que nunca saíram em batalha.»(p. 56)

«Os fantasmas nacionais não se dão bem com os estrangeiros.»(p. 79)

«Os africanos são todos bantos, todos parecidos, usam as mesmas manhas, os mesmos feitiços.» (p. 99)

«África é o mais sensual dos continentes.» (p. 107)

«A bem dizer, neste nosso mundo, haverá outro modo de viver que não seja por via de enganos?» (p. 163)

AVALIAÇÃO: 9/10

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Review by: Manuel Gimo

site: https://m.facebook.com/manueltchatche.rmt
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cco.isabella 25/10/2017

Pura poesia
Acredito que só quem já leu um livro em prosa, mas parecidíssimo com a linguagem lírica, entenderá minhas reflexões sobre o Mia Couto...
Se você está procurando uma leitura reflexiva e repleta de metáforas, de uma sensibilidade gigante, acaba de encontrar a melhor opção!

"Estou exausta, Marcelo. Exausta, mas não vazia. Para se estar vazia é preciso ter dentro. E eu perdi a minha interioridade."

As personagens são construídas de uma forma que me fez acreditar realmente que estava com a presença delas no meu sofá, batendo um papo. Além dos acontecimentos surpreendentes durante toda a obra, típica do autor, né?

"Fique só mais um pouco. É que são raivas, tantas raivas acumuladas. Eu preciso afogar essas raivas e não tenho peito para tanto."

Sabe o que mais me fez amar este livro? O modo como me identifiquei com as personagens. Cada pessoinha intrínseca no desenvolver da história me fez refletir sobre o meu próprio interior.
Livro sensacional que levará o leitor a parar para pensar na solidão, denominação de loucura, características que são passadas às gerações. Realmente vale a leitura!
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Lima Neto 17/07/2009

livro dificilimo de se definir e mais ainda de se avaliar, uma vez que a narrativa é tão ricamente trabalhada, tão poética, que a história em si parece ficar numa espécie de segundo plano.
Mia Couto é, sem dúvida, um dos escritores mais geniais, mais poéticos da literatura contemporanea. suas histórias são magnificamente bem narradas e envolventes, e nesse seu novo livro, não foi diferente. no que ele inovou nesse, sim, foi na natureza em sia da história, pois "antes de nascer o mundo" é uma verdadeira metáfora, uma história de medos, complexos, solidão e fuga de uma realidade.
no entanto, o livro é tão poeticamente bem escrito, tão delicado e ao mesmo tempo complexo que sinto-me incapaz de defini-lo e de avalia-lo com precisão.
só sei que me agradou enormemente e que me deixou curioso para ler os outros livros do autor (este foi o primeiro que li dele)
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Claudia Furtado 05/09/2009minha estante
Então não deixe de ler ¨Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra¨. Abçs




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