MiCandeloro 28/01/2014
Uma lição de amor e de vida!
Depois de enfrentar dois divórcios mal sucedidos, deixando-a alguns mil dólares mais pobre e com o coração totalmente traumatizado, Teresa Rhyne se mudou para uma nova casa com seus dois cachorros. Pouco tempo depois, ambos morreram um seguido do outro. Certo dia, Teresa se viu sozinha, em meio a uma casa enorme, sem ninguém para amar. Seu "alfabeto da vida" parecia estar com algumas letras faltando.
Mas, de repente, Chris Kern apareceu. Chris era um homem bonitão, boa pinta, engraçado, inteligente e que compartilhava de todos os gostos de Teresa. Mas ele era jovem demais, e tia uma mãe controladora demais. E ele não poderia gostar dela de verdade, poderia? Aquilo era só sexo, não era? Afinal, ela sempre teve um dedo podre para homens, então, aonde aquele relacionamento, se é que poderia ser chamado de relacionamento, iria chegar?
A única certeza que ela poderia ter na sua vida era Seamus (lê-se Chey-mus), seu hiperativo, destruidor e fofíssimo Beagle, recentemente adotado de um Centro de Adoção de Animais. Seamus não era um Beagle comum, ele tinha um pelo mais avermelhado, olhos que pareciam ter sido fortemente delineados, unhas bem pretas e um andar cambaleante peculiar. É óbvio que foi amor à primeira vista, de ambos os lados. Mas o que fazer quando, num fatídico dia, seu cãozinho amado é diagnosticado com um agressivo câncer e recebe a notícia de que teria no máximo mais um ano de vida?
Teresa Rhyne e Seamus
Só que tem um animal em casa e sabe o amor incondicional e a alegria que eles nos dão é que tem a vaga de ideia dos esforços movidos por Teresa em prol do bem-estar e da recuperação de Seamus. Mas mal sabia ela que seu próprio corpo a trairia. Mesmo depois de tudo que ela já havia enfrentado a vida não foi piedosa e um novo "mês de dezembro" estava chegando para assombrá-la.
2009 seria um ano negro, ou rosa (como queiram), na vida de Teresa. Seria o ano em que ela enfrentaria o câncer de mama e os paradigmas da sua própria história. Mas quem tem família e amigos tem tudo, certo? Como diria a própria Teresa: "foque nos biscoitos".
Querem saber como essa história vai terminar? Então leiam o livro.
***
Os cães nunca deixam de amar chegou até mim de uma maneira peculiar. Eu venci um sorteio que rolou no Blog Lendo e Comentando e a Amanda pediu para que eu escolhesse um livro entre 10 opções para receber pelo correio. Lá fui eu para o Skoob, digitar o nome de cada um deles e procurar por resenhas e avaliações e decidir qual eu queria ganhar.
De repente, me deparei com a sinopse de Os cães nunca deixam de amar e fui imediatamente seduzida pela história. Quando procurei por resenhas, encontrei uma excelente da Cida, do Blog Moonlight Books, e a Cida é uma das blogueiras que tem um gosto literário próximo ao meu e em quem eu confio bastante no que diz respeito ao juízo de valores. Se a Cida diz que o livro é bom, eu não tenho nem dúvidas de que é, e no mesmo momento escrevi para a Amanda solicitando o livro Os cães nunca deixam de amar.
No dia em que ele chegou, eu tinha começado a ler O Visconde que me amava, mas quando fui buscá-lo na portaria, estava indo para uma reunião e fiquei feliz de ter algo para ler no ônibus. Desde que li as primeiras palavras me apaixonei pela história e foi impossível largá-la até terminar de ler.
Já sabia se tratar de uma história real, mas fiquei impressionada com o texto da Teresa, tão bem escrito, podendo se passar tranquilamente por um livro de ficção. Queria ter marcado e transcrito várias quotes para vocês, pois a narrativa toda é inspiradora, mas da maneira que eu o devorei, não tive tempo para isso. Desde as primeiras páginas já ficou evidente que a autora possui um humor negro irônico fabuloso, algo que aprecio demais. Talvez, por isso, tenha me conectado tão rapidamente com a trama.
"Conversas e eventos são transmitidos precisamente pelo melhor da minha memória, mas, por favor, lembre-se de que meu cérebro passou por quimioterapia."
Como já era de se esperar, o texto é narrado em primeira pessoa, pela própria Teresa, que descreve toda a sua vida desde 2005, quando descobriu que Seamus tinha câncer, até 2009, quando foi acometida pelo mesmo mal.
Os cães nunca deixam de amar não fala apenas sobre essa doença terrível, seu tratamento e todos os seus efeitos colaterais sofridos pelo corpo humano e animal. Também fala sobre: o amor incondicional entre as pessoas e seus bichos de estimação, a jornada em busca do autoconhecimento e amadurecimento, a mudança de planos, o perdão, a amizade e a solidariedade e, principalmente, o poder de uma boa dose de cafeína diária, cascas de torrada apetitosas, brinquedos coloridos que fazem barulho e uma banheira quentinha e borbulhante com espumante no final do dia.
Teresa Rhyne e Chris Kern
Teresa alerta, se vocês estão buscando por uma história triste, nem percam seu tempo lendo o livro. Ok, é óbvio que ele possui diversas passagens que fazem a nossa garganta fechar e os olhos ficarem marejados, afinal, é impossível não se solidarizar com o sofrimento da protagonista, mas a autora de modo geral lida com todos os obstáculos de maneira descontraída, bem-humorada e até otimista (quem diria Teresa?).
Teresa Rhyne e Chris Kern
Na verdade, o fato de Seamus ter tido câncer e sobrevivido fez com que Teresa encarasse a doença com outros olhos. De alguma forma, ela já havia se tornado perita em tudo que envolvia o câncer e sabia tudo sobre o seu tratamento, já que a quimioterapia aplicada nos cachorros é a mesma aplicada nos humanos. A partir de então, Teresa incorporou o mantra de que se o Seamus tinha sobrevivido, ela também sobreviveria.
O livro também alerta acerca da importância do bom atendimento recebido pelos pacientes, independente da enfermidade que eles tiverem. Quando estamos doentes, tudo o que queremos é sermos bem atendidos, receber uma palavra de carinho, atenção, um olho no olho e, principalmente, ter todas as dúvidas respondidas pelo médico responsável, afinal, precisamos de um mínimo de segurança e esperança para seguirmos adiante. E quando não encontramos isso, as coisas se tornam ainda mais difíceis.
Então você, que é profissional da saúde e que lida com doentes diariamente, esteja ciente de que todos têm um mau dia, mas a culpa não é nossa. Portanto, tentem ao menos ser gentis com seus pacientes, pois, no momento, vocês são o único porto seguro que temos e podem fazer a diferença no nosso tratamento e recuperação.
Algumas observações acerca da edição: Apesar da capa ser linda, fiquei triste da Editora Universo dos Livros não ter mantido a original, feita com a foto do próprio Seamus ("o famoso"), até onde me consta. Eu não tenho certeza, mas não acho que o Beagle da edição brasileira seja o Seamus, eles não parecem o mesmo cachorro. Não encontrei nenhuma informação a respeito no livro, então se alguém souber me dizer com certeza, agradeço. Também não gostei da tradução do título, que em inglês se chama "The Dog Lived (and So Will I)", que significa "O cachorro sobreviveu (e eu também sobreviverei)" e descreve com precisão a situação vivida por ambos os personagens, além de ser o título do blog criado por Teresa, que deu origem ao livro. Por que não usar a tradução literal do título original? Não entendo.
Falando em blog, este blog que citei acima foi idealizado pela autora durante uma sessão de ressonância magnética e tinha como objetivo não só ser uma válvula de escape em meio a um turbilhão de pensamentos, sentimentos e dúvidas pelas quais Teresa passava, mas também uma forma de manter todos os seus amigos e familiares atualizados a respeito da doença e seu tratamento sem ter que comunicar um a um repetidamente. Uma ideia genial. É claro que depois de ler o livro não pude deixar de acessar o blog e ver de perto um pouquinho da vida de Teresa. Lá, pude encontrar diversas fotos que ilustravam momentos reais vividos e representados no livro e, com isso, me senti ainda mais íntima da autora, dando a impressão de ter me tornado uma grande amiga e confidente da mesma, levando em consideração todas as situações íntimas que ela dividiu "comigo".
Bom, sei que falei demais, mas vocês já me conhecem, não consigo ser sucinta, ainda mais quando gosto de um livro como gostei deste. O que posso dizer é que se estão procurando por uma leitura levemente melancólica, romântica e divertida, que consegue nos fazer enxergar a vida com outros olhos e dar valor aos pequenos e deliciosos momentos, leiam Os cães nunca deixam de amar. Leitura obrigatória para os adoradores de cachorro, para quem já passou por situação similar ou está enfrentando um câncer e para quem se solidariza com as causas aqui apresentadas.
P.S. Depois de escrever a resenha, fui atrás do blog da autora, chamado teresarhyne.com, para conferir notícias atualizadas sobre ela, Seamus e coletar materiais para o post. Lendo alguns posts fui surpreendida por uma notícia muito triste: Em março do ano passado o câncer de Seamus voltou, depois de 8 anos, e atingiu seus pulmões numa região inoperável levando-o ao óbito. Teresa optou por eutanasiá-lo depois que seu fiel amigo começou a sofrer de problemas respiratórios severos e dos seus pulmões se encherem de sangue. Seamus com certeza irá deixar saudades.
Posteriormente, Teresa adotou outros dois Beagles: Daphne e Percival, ambos resgatados em situações periclitantes. A última notícia que tenho é que Teresa irá publicar um novo livro na primavera deste ano, intitulado "The Dogs were rescued (and So Was I)", inspirado nas batalhas enfrentadas por ela e Seamus contra o câncer e nos maus tratos cometidos contra os animais por algumas pessoas e instituições.
Para vocês terem uma ideia, a Daphne, além de ser uma sobrevivente de câncer, foi baleada por alguém e abandonada depois de não servir mais como procriadora. Percival, por sua vez, foi resgatado de um laboratório farmacêutico, onde passou os primeiros 18 meses de vida vivendo em uma gaiola e sendo submetido aos mais diversos testes. Chocante, né?! Pelo visto este segundo livro promete muitas emoções.
Resenha originalmente postada em: http://www.recantodami.com/2014/01/resenha-os-caes-nunca-deixam-de-amar.html