Roberto Soares 19/01/2022"Os meninos desobedientes não podem ser felizes neste mundo."
Publicado originalmente em forma de folhetim em um jornal infantil italiano entre 1881 e 1883, "As Aventuras de Pinóquio" é, essencialmente, uma história didática. A história do boneco de madeira desobediente e mentiroso e que é incessantemente punido por sua teimosia acabou se tornando um dos maiores ícones da literatura infantil mundial.
Quando o marceneiro Geppetto recebe um toco de lenha que fala, ele resolve esculpir naquele pedaço de pau um menino que é chamado de Pinóquio, ensinando a ele a importância dos estudos e do trabalho para se tornar alguém “de verdade”. Mas já no seu primeiro dia de escola, Pinóquio muda seus planos e resolve se divertir em um teatro de marionetes, sem saber que lá vai se deparar com a primeira de muitas desgraças que cruzarão seu caminho até que ele finalmente aprenda a lição.
Ingênuo, teimoso, facilmente influenciado e tomado por um intenso desejo de diversão combinado com uma obstinada objeção às responsabilidades: Pinóquio é, acima de tudo, uma criança. Embora sua cabeça dura tenha me irritado profundamente, foi impossível ficar insensível diante da grande fragilidade daquela criatura em um mundo em que todos queriam tirar proveito da sua ingenuidade.
Aliás, eu que conhecia essa história apenas através da adaptação da Disney, enfrentei uma forte estranheza inicial com Collodi, mas aos poucos identifiquei o que era: aqui Pinóquio vive em um mundo real. A miséria, a maldade e a cobiça são frequentes no caminho do boneco, e a fome o acompanhará em grande parte de sua jornada.
Que alívio foi quando finalmente ELA entrou na história! Desde criança sou completamente fascinado pela Fada Azul, e aqui esse fascínio não se perdeu. Quando finalmente a Menina dos Cabelos Azul-Turquesa surge no caminho do boneco com sua bondade e seu perdão, sua luz se une à voz da consciência do Grilo Falante como principais guias de Pinóquio.
Tal qual Dante, Pinóquio se vê perdido em uma floresta escura, e para encontrar a Luz, precisa primeiro enfrentar o Inferno e o Purgatório, morrer para renascer com a fibra moral necessária para passar pela metamorfose dos instintos rumo à razão e a compreensão da condição humana. Ou seja: tudo o que Pinóquio enfrenta o transforma em um menino de verdade.