Aventuras de Huckleberry Finn

Aventuras de Huckleberry Finn Mark Twain




Resenhas - As Aventuras de Huckleberry Finn


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valen 18/05/2020

racista ou não?
Um livro que gerou muitas polêmicas na época de sua publicação e até hoje levanta questionamentos . A expressão "nigger" é empregada mais de 200 vezes ao longo do livro, sendo motivo para muitos quererem bani-lo do currículo nas escolas americanas ou até que "deveria ser queimado" como afirmou um integrante do Conselho Escolar de Chicago.
Apesar das controvérsias, Huck Finn quebra estigmas sociais da época. Trecho de um dos textos de apoio do livro por José Roberto O'Shea: "( ...) Huck segue os ditames de seu coração de menino, despreza as cobranças de uma sociedade corrupta e decide colaborar com a fuga do amigo escravo, mesmo que a consequência de tal decisão seja o inferno."
Aventuras de Huckleberry Finn, portanto, entrou para a lista dos melhores livros que li neste ano e talvez na minha vida. Pretendo um dia ler as aventuras de Tom Sawyer mas por enquanto permanece a saudade desses personagens e as peripécias vividas nesta história.

*Li na edição da editora Zahar e recomendo. Está cheio de textos de apoios e notas de rodapé, além da tradução maravilhosa e várias ilustrações originais do E.W. Kemble.*
Ailinda 18/05/2020minha estante
Amazing impressive show stopping a melhor crítica literária de sua época dizem artigos




spoiler visualizar
Isa Beneti 16/05/2020minha estante
**inerente




Emmy 27/03/2020

Sem conclusões
Não sei se considero esse livro racista ou anti-racista, por enquanto o que tenho curiosidade é ler outra tradução (original tbm), muito bom pra levantar questões mas fiquei sem respostas. Só sei que preciso falar com alguém sobre
Ulisses.Juliano 01/05/2020minha estante
Eu esperava mais desse livro.


Emmy 01/05/2020minha estante
Eu gostei mais de tom sawyer, não achei totalmente ruim mas não consigo enaltecer ele como muitos fazem




Minho - @shootinggbooks 06/03/2020

Huckleberry Finn é um garoto na pré-adolescência, espero e inteligente, e bem levado. Seus dias são regados de travessuras, junto a Tom Sawyer e a sua quadrilha de assaltantes. Tom Sawyer é o seu amigo, e é um garoto travesso igual. Haja paciência para cuidar desses garotos!

Embora esse livro se passe após os acontecimentos de As aventuras de Tom Sawyer, não é necessário ler na ordem, pois ambos os livros são independentes, apenas compartilham do mesmo universo, e o melhor de tudo, é baseado em fatos reais da vida do autor.

O auge dessa história é quando o pai de Huck retorna para a sua vida e pretende levá-lo para morar com ele, porém, Huck detesta a presença do seu pai, e depois de colocar a ideia na cabeça, ele resolve fugir para ter uma vida em outro lugar.

Durante a viagem, ele encontrará Jim, um escravo fugido. Juntos, eles percorrerão o Mississipi atrás de grandes aventuras. Porém, essa viagem guarda esconde muito mais que grandes aventuras, e Huck e Jim terão que passar por grandes situações para saírem ilesos.

Narrado em um período escravocrata dos Estados Unidos, vai ser notável a presença de negros escravos durante a história, além de situações racistas, o que deixa a gente triste até hoje. Haja ignorância!

O livro é narrado pelo próprio Huck, e notamos a narrativa fortemente informal. Se você já leu algum gibi do Chico Bento, vai entender o que estou tentando dizer. A pouca educação de Huck é presente na sua pronúncia, e deixa o livro com um toque bem regional, e o melhor de tudo, é que não incomoda a leitura.

Li esse livro quando tinha quinze anos, e voltar a ver essa história me deixou bastante nostálgico! Além de rever a trama, percebi as mensagens que o livro traz (isso graças ao meu amadurecimento na leitura) e manteve a minha opinião positiva sobre ele.

Essa edição maravilhosa da Zahar está impecável! Em capa dura, ilustrada e comentada, deixou a história ainda mais rica e bem legal.

Super recomendo!
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Georgeton.Leal 30/11/2019

Pelas águas do Mississípi numa jangada
Sei da importância que Huckleberry Finn tem para literatura Norte-Americana, principalmente, pelo contexto histórico em que foi escrito, no entanto, achei a maior parte de sua narrativa bastante cíclica e linear, mesmo levando em consideração toda bagagem de Twain. O autor já havia me cativado em "O Príncipe e o Mendigo", porém, em "Huckleberry Finn", o efeito foi moroso e um tanto insípido. Creio que se a obra tivesse 100 páginas a menos, seu conteúdo não seria afetado em muita coisa (há diversas passagens que soam cansativas e quase sem nenhum acréscimo relevante para a história).
Apesar de tudo, o ritmo vai ficando melhor a partir da metade do livro em diante, mesmo com o demasiado uso de mentiras e trapaças cometidos por Huck & Cia (recurso este que se torna repetitivo por demais ao longo da trama). No final de tudo, entre altos e baixos, o saldo da leitura foi satisfatório, ainda que este não tenha ficado entre os meus clássicos favoritos.

site: https://senso-literario.blogspot.com/2022/01/pelas-aguas-do-mississipi-numa-jangada.html
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Rafa 28/02/2019

Acho que criei grande expectativa no livro e não foi tudo aquilo que esperava, mas vamos lá.


As aventuras de Huck Finn retrata um viés racial presente à época nos Estados Unidos. As contradições do menino Huck no livro eram coisas impensáveis para a época, quais são elas, "ser amigo de um negro escravo", "pensar em libertar um escravo", "se aventurar com um escravo", etc.
Ao meu ver, esse é o cerne do livro, trazer à tona todas essas séries de perguntas (porque existe segregação racial? Porque um negro tão habilidoso é escravo? SE ELE É UM HOMEM LIVRE PQ ESTAVAMOS TENDO QUE LIBERTÁ-LO?) às quais eram impensáveis à época, com isso, as aventuras de Finn apenas servem como rodeio a essas questões(o que se tornou repetitivo; as vezes e até sem lógica(exemplo: 3 pessoas escaparem de uma cidade inteira; o ocorrido com o pai, onde é encontrado; Tom aparecendo do nada, rs. Parece meus sonhos as vezes, rsrs).
Assim concluo que, apesar de não ser um dos meus favoritos, vejo a importância da leitura, o contexto em que foi escrito e a proporção deste livro, que, realmente deve se indicado a todas as crianças, já que o preconceito ainda se encontra em todos os pilares da sociedade brasileira.
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z..... 24/01/2019

Edição Martin Claret (Série Ouro, 2005)
O livro traz os mesmos informes do autor no início do "Sawyer", de ser obra baseada em fatos reais, para entretenimento juvenil e agradável nostalgia aos adultos. Emenda, porém, com uma sinistra admoestação de Twain: "se alguém tentar encontrar um tema nesta narrativa, será processado; se tentar encontrar uma moral, será banido; se tentar encontrar um enredo, será fuzilado".

Que coisa áspera e esquisita, pois a leitura, diferentemente do livro anterior, é sugestiva a reflexões em enredo supreendentemente visceral.
Longe de ser entretenimento, lembra o naturalismo, onde percebemos inspirações impactantes (como as aspirações infantis pela marginalização), ambiente hostil e agressivo (sem o romantismo idealizado), costumes rígidos em fundamentalismo religioso de hipocrisia (como na adesão à escravatura) e meio com superstições, injustiças e apego à valores retrógados (resultado da desinformação).

As histórias de Huck evidenciam isso e, em paralelo às peripécias infantis exaltadas em Tom Sawyer, esta é uma história de sobrevivência, impactante principalmente no primeiro terço do livro.
É onde vemos as crianças numa disposição admiradora da bandidagem (algo que se assemelhou por aqui à época do cangaço); desilusões com a formalidade, imoralidades e insucesso educacional e religioso; a relação do Huck com seu pai (um dos aspectos mais fortes do livro); e a vida à margem da sociedade, na viagem de jangada pelo Mississipi por dois meninos marginalizados e desamparados, em abandono de vida e fuga da escravatura (Huck e Jim). Iguais, amigos, numa espécie de odisseia pelo rio, onde o meio se faz notar em aspectos diversos, como a história de guerras familiares em relatos dramáticos sobre outros meninos.

Daí em diante há envolvimentos com a bandidagem, pelo menos duas vezes, percepções do momento para os protagonistas (outrora desejado), até o final de esperança ou desesperança, diante dos mesmos fatos corriqueiros.
Não digo que gostei do livro, por vezes a leitura não cativou, mas posso afirmar que foi revelador da sociedade americana do contexto de Huck Finn no Mississipi.

O livro traz também textos biográficos sobre o autor, no início e no fim, sendo o mais interessante "Mark Twain e sua vida novelesca" (que faz paralelo entre a vida e personagens do autor).

A edição tem o acréscimo também do conto "o caso da rã saltadora...", um dos primeiros sucessos na bibliografia de Mark Twain.

Sobre o autor, em tudo o que foi abordado, fiquei com a percepção de ser um tipo de Monteiro Lobato americano, pelo universo infantil valorizado e certas polêmicas em algumas de suas obras (como neste livro, em que propôs literatura inovadora para os padrões de época, principalmente no contexto infantil).

E também não posso deixar de registrar a editoração displicente e preguiçosa da Martin Claret, com a informação e com o leitor, em mais uma vez extirpar qualquer nota editorial, mesmo em coisas necessárias - o ocorrido em relação à tradução de dois textos do romance, preservados na língua original. Fala sério! Se quisesse obra em inglês tinha feito essa busca. Vontade nessas horas de arremessar o livro para bem longe (o que também nunca fiz ou faria). Edições assim são irritantes na descoberta.
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Aline Teodosio @leituras.da.aline 05/01/2019

Huckleberry Finn é um menino branco, de mais ou menos 13 anos, arteiro, peralta e levado, mas com um grande coração. Huck tem um pai que torna a sua vida insuportável e, para livrar-se disso, ele parte em busca de grandes aventuras Mississipi afora, junto com Jim, um escravo fugido.

A história se passa nos EUA, século XIX, numa época escravocrata em que os negros eram tratados como animais. Muitos consideram essa obra de cunho racista por alguns termos nela empregados, eu, no entanto, achei ousada para o momento em que foi escrita. Quem poderia imaginar uma amizade sincera entre um menino branco e um escravo fugido? É uma verdadeira quebra de paradigmas.

Por isso, não pense que se trata de uma obra superficial e infantilizada, apesar de voltada para o público infanto-juvenil. Antes, é um livro que suscita reflexões sobre como se era tratado a questão do negro no século XIX. Huck, em vários momentos, entra em conflito consigo mesmo e questiona-se sobre tudo o que aprendeu na escola e na vida com os brancos. E ir contra tudo o que aprendeu era ir direto para o inferno. Ser bom ou ser mau? Ser justo ou injusto? Ser certo ou errado? O "certo" seria mesmo certo? A verdade dos brancos seria mesmo a verdade universal? A cabeça do garoto ferve e são desses conflitos que nascerá um novo Huck.

Temos aqui um romance de formação, que põe em cheque a superioridade do branco. Nos mostra que o preconceito é burro, o racismo é burro e viver em igualdade, empatia e respeito pode fazer a vida ser mais bonita, mais rica e mais agradável.

Fecho essa resenha com um lembrete: só existe uma raça, a raça humana. Respeitemo-nos e convivamos em harmonia apesar das diferenças.


P.S.: Ver Tom Sawyer de volta nessa obra foi a cereja do bolo.
Rafa 28/02/2019minha estante
Bela resenha Aline, rastreou tudo de bom no livro. Acabei de ler a obra e tive pensamento semelhante. Não gostei muito de como as coisas se solucionavam, mas essa reflexão racial à época por um "menino" é muito interessante. No mais, a estória em si me deixou a desejar um pouco.




Fabiano 29/11/2018

Mas que uma aventura um relato da sociedade da época
Nesse livro, Mark Twain narra as estripulias do menino Huck Finn, mas ler esse clássico publicado em 1884 agora, 134 anos depois, é mais do que simplesmente olhar as aventuras de um garoto, é preciso entender a complexidade da sociedade da época, ver ali questões como racismo, escravidão, violência, crimes e golpes e como as pessoas viviam nas margens do que hoje a gente considera o certo.
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Taise.Mazzotti 07/06/2018

Repetitivo
Li o livro com uma expectativa muito grande, em razão de sua fama.
Não que seja ruim, mas é repetitivo e sem grandes emoções. O início é mais interessante, mas após começar a viagem de balsa, as histórias se repetem, apenas mudando o local e os personagens.
Talvez para a época tenha sido bem impactante, mas não gostei da leitura.
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Rossine 25/02/2018

Obra-prima de Mark Twain e um clássico da literatura norte-americana. A tradução desse livro é um caso à parte. Como traduzir o linguajar da época, desde o branco até o negro? No caso específico desta edição, achei a tradução coloquial demais (gostei mais da tradução de Tom Sawyer). Além disso, o livro se estende muito. Mas é cheio de aventuras, enrascadas e de peripécias (até demais para um menino de 11, 12 anos), sem deixar de explorar o lado psicológico do protagonista. O livro faz um retrato da sociedade rural americana do fim do século XIX, com sua ausência de leis e exacerbado racismo. Uma lição de história, contada por meio de uma aventura e através dos olhos de uma criança.
Nilva 09/06/2018minha estante
Estou lendo nestes dias. Gostando demais. Observei a tradução também mas dei um desconto. Como o próprio autor diz no Prefácio, as histórias de Huck são baseadas em aventuras ocorridas com 3 rapazes. Talvez isso explique o excesso de peripécias... O olhar crítico de Twain é muito bem reproduzido também neste livro.




Anízia 21/02/2018

Livro marcante
Foi assim que tomei gosto por aventuras. Mark Twain com seus livros e... Um novo Eu surgindo aí"
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Bruna 02/02/2018

quase não consigo terminar!!!!
Achei muito enfadonho, quase desisti dele... uma centenas de vezes...
Coisas tão simples o garoto complicava ao extremo... ai juntando com o Tom então, nem se fale.
Por mim o livro teria apenas umas 100 páginas... se tanto!
2 estrelas e meia...
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Letra Capitular 25/07/2017

As aventuras de Huckleberry Finn– Uma visita aos Estados Unidos “pré-Guerra civil” as margens do Rio Mississipi.
Dissemos que não tinha casa melhor que uma jangada. Outros lugares parecem apertados e sufocantes, mas não uma jangada. A gente se sente realmente livre, à vontade e confortável numa jangada.

Samuel Langhorne Clemen nasceu em uma pequena vila no Missouri, localizada nas margens do rio Mississipi em 1835, cresceu no meio de navios, marinheiros, missionários, e aventureiros de toda a espécie. Quando adulto virou timoneiro de barco a vapor e com isso conseguiu colecionar muitas histórias do “Grande Mississipi”. Tornou-se famoso, contudo, através do pseudônimo Mark Twain[1] que utilizou em sua carreira como jornalista e escritor. Possui uma vasta e extensa bibliografia e se tornou um dos mais renomados escritores norte-americanos, suas histórias evocam um ‘Estados Unidos interiorano’, de pessoas simples e de vidas comuns, também se utilizava de um vocabulário regional, enfatizando as “várias falas” dos distintos grupos que dividam o território sulista.

As memórias de sua infância e juventude no Missouri estão de certa forma presentes nos dois grandes livros que o alçaram ao posto de pai da “literatura autenticamente americana[2]”: As aventuras de Tom Sawyer (1876) e As aventuras de Huckleberry Finn (1884). Ambas as histórias tem como protagonistas crianças que são consideradas “desajustadas”, ou seja, tem enorme dificuldade em obedecer aos adultos, não gostam de frequentar a escola e a igreja, e estão sempre envolvidos nas confusões locais. Contudo, demonstravam uma enorme criatividade e um saber “não formal” que os auxilia em suas empreitadas cotidianas, se utilizando de recursos “politicamente incorretos” como a mentira, para enganar as outras crianças e se dar bem. Em um dos trechos mais famosos do primeiro livro, Tom Sawyer utiliza sua “lábia” para se livrar da sua tarefa doméstica (pintar uma cerca da casa de sua tia Polly) e trocar de lugar com alguns garotos que o importunavam, além de receber em troca por isso “doze bolas de gude, um pedaço de vidro azul, uma coleira de cachorro, seis bombinhas, uma chave que não destrancava nada, um soldado de chumbo faltando a cabeça… e a cerca tinha três camadas de cal”.

‘As aventuras de Huckleberry Finn’ é de certa forma uma continuação da história anterior, ainda que possa ser lido separadamente. A história começa exatamente após o final dos acontecimentos de ‘As aventuras de Tom Sawyer’, contudo os protagonistas são trocados, Huck Finn que até então teve um papel secundário na narrativa, sendo apenas um garoto companheiro de aventuras passa a ir morar com uma boa família que o adota (o pai estava desaparecido). Seu pai que é um alcoólatra violento e o havia abandonado retorna, recupera a sua custódia e o leva para morar consigo em uma ilha. Huck Finn foge, mas ao mesmo tempo em que não queria a companhia paterna também não pretendia voltar para a vida “domesticada” e “civilizada”, queria a liberdade de andar pelo mato sem preocupações, de pescar e caçar à tarde, de navegar usando uma balsa e procurar tesouros de pirata com seus companheiros.

É nesse momento que começa a aventura que seria classificada como o “grande romance norte-americano[3]”: Huck Finn monta uma jangada e decide descer o rio Missispi fugindo de St. Louis, sem destino previamente definido. Ao embarcar encontra ‘Jim’ um escravo doméstico que estava fugindo, pois sua senhora planejava o vender para as plantações de algodão em Nova Orleans. Imerso na cultura sulista Huck tem muita resistência em ajuda-lo, pois não queria ser visto como um “abolicionista safado”, mas aos poucos a convivência vai tornando os dois verdadeiros amigos e o garoto passa a lutar pela liberdade de Jim o ajudando na empreitada de escapar para um estado livre.

Durante a jornada os dois colecionam inúmeras situações inesperadas, e o instinto de sobrevivência de Huck os salvam praticamente todas às vezes. Na trajetória pelo sul dos Estados Unidos passam pelo Missouri, Kentucky, Arkansas e Tennessee. Em todas as cidades que aportavam encontravam situações típicas que retratavam a cultura local e que acabam se envolvendo indiretamente como: superstições sobre espíritos do além, amores proibidos, grupos de bandidos salteadores aterrorizando vilas, disputas de famílias rivais resolvidas com duelos de armas, linchamentos públicos de pequenos criminosos (era muito comum punir os ladrões jogando piche e penas em cima deles), e vigaristas aplicando golpes se aproveitando da ingenuidade da população.

Vários temas são abordados nessa jornada: o dilema moral de ser contra uma norma instituída que era a escravidão, por exemplo, está presente a todo instante na mente de Huck, ele fica com muito receio de ajudar um escravo a fugir (tem medo até de ser condenado por Deus), somente quando percebe a humanidade em Jim (conhece sua história pessoal, seus medos, sonhos e ambições) é que este conflito interno é vencido e ele opta por lutar pela liberdade do amigo o auxiliando na fuga. A lealdade também é abordada, pois, aparecem inúmeras oportunidades para Huck denunciar a fuga de Jim, mas ele não consegue trair a confiança de seu amigo. A crueldade da justiça dos adultos também assusta nosso protagonista, apesar de condenar a ação dos vigaristas que enganavam a todos na cidade, ele fica muito assustado ao ver uma cena em que uma multidão corre para praticar um linchamento: “Bem, fiquei doente de ver aquilo; e tive muita pena dos dois vigaristas desgraçados, e parecia que nunca mais neste mundo eu ia conseguir sentir raiva deles. Os seres humanos podem ser terrivelmente cruéis uns com os outros”. Uma crítica ao saber formal e institucional, pois, no inicio da história Huck demonstra claramente uma enorme dificuldade de se adaptar ao ambiente educacional, é uma criança que não é adepta dos livros (ao contrário de Tom Sawyer que gosta muito de romances de piratas), e ele mesmo se considera alguém com pouca inteligência, contudo ao longo da trajetória, sua criatividade e seu saber “não formal” são responsáveis por lhe salvar a vida inúmeras vezes, esse tipo de inteligência que não é valorizada na escola acaba sendo de enorme utilidade ao longo da aventura.

Mark Twain em “As aventuras de Huckleberry Finn” realiza um profundo relato da vida cotidiana dos estados do sul, nessa jornada em busca de liberdade o protagonista passa por diversas experiências que o transformam profundamente. O solitário convívio com um escravo fugitivo transforma sua percepção de realidade, e a amizade sincera e leal que ambos estabelecem serve de motivação para ele questionar as raízes institucionais e culturais da escravidão.

site: https://letracapitularblog.wordpress.com/2017/05/31/as-aventuras-de-huckleberry-finn-uma-visita-aos-estados-unidos-pre-guerra-civil-as-margens-do-rio-mississipi/
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Alan Martins 21/05/2017

Um livro que causou, e ainda causa polêmica
É assim com algumas pessoas. Elas pegam birra com alguma coisa mesmo sem saber nada sobre a coisa. (TWAIN, Mark. As aventuras de Huckleberry Finn. L&PM Pocket, 2011, p. 12)

‘As aventuras de Huckleberry Finn’ é considerada a obra-prima de Mark Twain, um dos grandes nomes da literatura estadunidense e um dos fundadores das Letras daquele país. É um livro citado por muitos autores, lido e estudado até hoje. Com uma narrativa rápida, o autor escreve sobre os EUA dos meados do século XIX, antes da guerra civil, e sobre a sociedade escravocrata. Por tratar sobre esse tema, é uma obra muito polêmica, tanto agora, como na época em que foi publicada. Conheça um pouco sobre esse autor e sobre um livro considerado um clássico de seu país.

SAMUEL LANGHORNE CLEMENS
Esse é o verdadeiro nome do autor, Mark Twain é o seu pseudônimo. Twain trabalhou como piloto de navio no rio Mississippi, região onde nasceu (nasceu no Missouri). Seu pseudônimo deriva desse emprego como piloto, sendo Mark Twain uma forma de expressar a profundidade da água. Além disso, trabalhou na impressão de jornais e também foi humorista. Porém se destacou como escritor, onde conseguiu sucesso, sendo considerados por muitos como “o pai da Literatura dos Estados Unidos”. Stephen King sempre cita ‘As aventuras de Huckleberry Finn’ como um de seus livros favoritos e já batizou personagens com os nomes de personagens de Twain.

Mark Twain viveu durante a época em que a escravidão nos EUA era permitida, passando pela Guerra Civil (1861-1865) e viu a abolição da escravidão entrar em vigor. Ele era um apoiador da abolição. Seus livros refletem bem esse período, mostrando como os negros eram tratados e como a sociedade lidava com a escravidão. Os conhecimentos adquiridos como como piloto de barcos influenciaram muito suas obras, sendo o rio Mississippi sempre presente e com personagens navegando por suas águas, além de descrições sobre navios e navegação. Ele mostra a importância do rio para a sociedade que vivia às suas margens e para a nação.

“Os seres humanos podem ser terrivelmente cruéis uns com os outros.” p. 255

A HISTÓRIA DE HUCK FINN
O livro foi escrito como uma continuação para ‘As Aventuras de Tom Sawyer’, um outro grande sucesso do autor. E de fato, é uma história que dá sequência a esse livro. Porém seu grande sucesso o tornou independente, as pessoas cultuam Huckleberry Finn sem fazer alguma ligação com o livro anterior.

A história de Huck pode ser lida de forma independente, é possível compreender o enredo sem ter conhecimento das aventuras de Tom Sawyer. O livro é narrado em primeira pessoa, pelo próprio Huck Finn. Por isso nota-se alguns erros gramaticais e uma visão mais inocente sobre o mundo, pois é uma história contada sob as lentes de um menino por volta dos 13 ou 14 anos de idade. Diferente de Tom, Huck descreve o mundo de forma mais objetiva, descrevendo o que seus olhos lhe mostram, ao contrário de seu amigo, que oferece uma visão mais fantasiosa e imaginativa sobre o mundo.

Huck narra como fugiu da Srta. Watson e de seu pai, um bêbado que o violentava fisicamente e se aproveitava da fortuna do menino. Conseguiu fugir dos dois navegando pelo rio Mississippi em uma canoa. Nessa fuga encontra Jim, um negro que era escravo na residência da Srta. Watson. Como eles já se conheciam e possuíam o mesmo objetivo, que era a liberdade, se unem e fogem juntos. Nessa aventura, os dois enfrentarão adversidades, conhecerão pessoas boas e ruins, tudo narrado de forma divertida. Huck é um menino muito esperto e utiliza da mentira para se safar de problemas ou para conseguir o que quer. Jim é um homem muito supersticioso e de pouca instrução, porém considera Huck um grande amigo e faz tudo por ele. A história é uma reviravolta de problemas, onde eles sempre dão um jeito de resolvê-los.

“Rezar por mim! Achei que, se me conhecesse, ela ia se encarregar de outra tarefa mais apropriada pro seu tamanho. Mas aposto que rezou, mesmo assim — ela era desse jeito. Tinha coragem de rezar por Judas se lhe desse na telha […]” p. 213

UM LIVRO POLÊMICO
Por abordar o tema da escravidão e descrever com precisão a sociedade sulista, às margens do Mississippi, esta obra foi, e ainda é, tema para grandes debates. Há pessoas que dizem que o livro é racista. Um absurdo, pois o próprio autor foi um abolicionista e não há nenhum momento no livro uma frase que incentive ou que apoie a escravidão.

A palavra nigger (que pode ser traduzida como ‘negro’), que era usada na época para se referenciar aos escravos, é um alvo dessas críticas. Utilizá-la, hoje, é algo impensável, pela carga de ódio que ela carrega. É um termo muito pejorativo para descrever um negro atualmente. Porém, naquela época, era a forma comum, a mais utilizada, não havia essa carga de ódio embutida. Isso levou a editora NewSouth Books, em 2011, a publicar uma edição de ‘The Adventures of Huckleberry Finn’ onde a palavra nigger foi substituída por slave (escravo). Isso não faz sentido, pois a narrativa é um retrato da sociedade dos EUA no século XIX e isso muda a escrita do autor, um crime à sua obra. Além de ser uma forma ineficaz de se redimir das atrocidades cometidas aos negros no passado.

Mark Twain não utilizava a palavra nigger, considerada pejorativa pelos intelectuais, porém suas personagens são pouco instruídas, pessoas simples, do campo. Na época em que foi publicado, as mentiras contadas por Huck também foram alvos de críticas, por se tratar de um mentiroso que sempre consegue se dar bem.

Não existe nenhum momento de violência à um negro durante toda a narrativa. O tom é de respeito para com os escravos, que são “respeitados” e “bem tratados” (essas palavras não fazem sentido, já que são escravos, porém não há o ódio contra eles, é isso que deve ser frisado). Há uma pessoa ou outra que falam mal sobre os negros, porém isso é um reflexo da sociedade escravocrata.

“As pessoas vão me chamar de abolicionista sórdido e vão me desprezar por ficar calado — mas não faz mal. Não vou contar de todo jeito não vou voltar pra lá.” p. 55

A EDIÇÃO
O livro é narrado em uma linguagem vulgar. Mark Twain quis representar a maneira de falar das pessoas que viviam próximas ao Mississippi e o inglês distorcido dos escravos. Isso representou um grande desafio para a tradutora Rosaura Eichenberg que, apesar de possuir um vasto currículo de traduções, apontou as dificuldades em se traduzir ‘As aventuras de Huckleberry Finn’ para o português em uma nota no início do livro. Ela adaptou a linguagem para os termos mais próximos, pois no Brasil também há uma linguagem vulgar, uma linguagem considerada “caipira”, que era muito utilizada no século XIX. As falas de Jim são muito carregadas, cheia de erros. Essa foi a forma do autor apresentar a realidade, tornar a história mais real. E isso também deixa o livro bastante engraçado, com expressões que arrancam risadas do leitor. O próprio autor escreveu uma nota, antes do início da história, dizendo que a narrativa possui um dialeto bem característico da região onde se passa.

Fisicamente é uma boa edição de bolso. Como a L&PM é uma editora focada em livros pocket, possuindo o maior acervo desse segmento do país, nãos se pode esperar algo diferente. O tamanho do livro é reduzido, com capa mole e sem orelhas, papel branco, Offset, para o miolo e com diagramação também reduzida. As letras pequenas no papel branco podem incomodar um pouco. Porém, a qualidade do material é boa, assim como a do conteúdo, o principal. A tradução está muito boa e a tradutora mostrou seu esforço para adaptar a linguagem da melhor maneira para o português do Brasil, assim como o trabalho da revisão. Sendo uma edição de bolso, o preço também é reduzido, sendo mais baratos do que livros de outros formados, geralmente.

“Ora, tem uma vantage num sinal assim, porque tudo tá longe no futuro. Ocê vê, talveiz ocê vai tê que sê pobre por muito tempo, e então ocê pode ficá desanimado e si matá, se num sabe pelo sinal que vai sê rico mais tarde.” p. 58

CONCLUSÃO
Um livro engraçado e que reflete um período da história dos Estados Unidos, mostrando um pouco de como era a sociedade escravocrata. Como isso também ocorreu no Brasil (infelizmente), é possível fazer uma relação com o que ocorreu por aqui. Huck é um menino que não gosta de ser ‘civilizado’, usar roupas limpas e engomadas, por isso decide fugir de tudo, até de seu pai, em busca da liberdade. Isso é um reflexo da escravidão e de Jim, um escravo que também busca a liberdade. Os dois conseguem ver o lado bom das coisas, mesmo das mais simples e fazem uma viagem pelo rio Mississippi, de canoa, parecer algo lindo.

Vale a pena a leitura, por se tratar de um clássico, marco da literatura de um país. Uma narrativa inocente, sem maldades, divertida e com um final irônico e muito engraçado. Recomendado.

Minha nota (de 0 a 5): 4

Alan Martins

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