Anna Laitano 17/10/2014Diálogos divertidos ajudam, mas não salvamEmma McIntosh vê sua vida mudar completamente em uma viagem de férias. Após presenciar o acidente que tira a vida de sua melhor amiga, Emma tem que tentar ser forte e continuar com sua rotina. Porém, na escola, ela encontra um novo aluno que conhecera exatamente no dia em que perdeu sua amiga. E, para sua agonia, ele parece ter um interesse muito especial nela.
Após tentar sem sucesso fugir do misterioso e atraente Galen, ela por fim se rende a um estranho convite dele, que promete contar um segredo sobre ela que nem ela mesma sabe: a verdade por trás dos olhos de cor violeta que ambos possuem em comum.
O que ela não poderia prever, é que tal revelação fosse mudar completamente o seu mundo. Ela própria (física e psicologicamente), seu passado, seus pais, suas verdades tudo é abalado pelo que Galen, príncipe dos Syrena, lhe conta naquele dia na praia... Quando ele diz que ela é uma deles. Não apenas um Syrena qualquer, mas de um tipo especial, quase lendário, que pode salvar seu reino.
A autora optou por dividir as narrativas, em capítulos alternados. De um lado, temos Emma, narrando em primeira pessoa, e do outro temos uma narrativa em terceira pessoa, focada em Galen. Apesar de gostar bastante de narrativas compartilhadas, não entendi exatamente porque a autora optou por usar primeira e terceira pessoa misturadas, sendo que sempre um de seus dois protagonistas está em cena e poderiam perfeitamente dividir a narrativa em primeira pessoa. Isso acaba cortando um pouco da fluidez do texto, o que incomoda um pouco, principalmente no começo.
A maioria dos capítulos são curtos, a narrativa é bastante simples e descomplicada, permeada por diálogos engraçados e algumas situações constrangedoras que também se tornam cômicas. Ainda assim, o ritmo no início deixa bastante a desejar. O leitor ficará esperando que algo, qualquer coisa, comece a acontecer, e será frustrado em ter que esperar mais de dez capítulos por isso. E mesmo depois que as descobertas começam, o livro ficou continua mais introdutório, guardando toda a ação para os próximos volumes.
Emma não é a personagem mais carismática da literatura, muito menos a mais verossímil. Uma das protagonistas mais atrapalhadas desde Bella Swan (Crepúsculo), ela também age de maneira inconsistente. Alguns desses traços são justificados, mas outros ainda não convencem. Por exemplo, após a morte de sua melhor amiga em uma praia, ela não hesita praticamente nada antes de voltar para a água ou vivenciar situações igualmente arriscadas. Embora todo o acidente pudesse ser algo ótimo para dar dimensão e explorar alguns aspectos psicológicos, isso não acontece.
Galen, por sua vez, começa como um rapaz misterioso e interessante, mas vai se tornando cada vez mais clichê com o decorrer da história. Parece que quanto mais se apaixona por Emma, mais idealizado e irreal ele se torna, o que é uma pena e um desperdício. Até porque, seu passado também não foi explorado de forma a trazer muita profundidade, tornando-o outro personagem raso e unidimensional.
Rayna e Toraf são uma dupla complicada, porém, suas personalidades são mais sólidas e bem-definidas do que as dos próprios protagonistas. Rayna, irmã mais nova de Galen, é sempre geniosa e honesta ao ponto de chegar a ser rude. Toraf, por sua vez, é o melhor amigo dos irmãos e "noivo" de Rayna, e sua personalidade romântica e tranquila é praticamente inabalável.
Contudo, o mais decepcionante em se tratando de Poseidon, é que o foco do primeiro volume da trilogia foi em construir um casal, ao invés de trabalhar a mitologia. Claro, somos apresentados ao mundo e regras que regem os Syrena, conhecemos um pouco da história sobre os reinos de Tritão e Poseidon, mas tudo de forma muito superficial. Claro, não se pode esperar que tudo seja entregue de bandeja no primeiro volume, mas a falta de informações maiores desaponta.
Apesar de garantir uma leitura leve e descontraída, regada com diálogos divertidos, o resultado final beira um chick-lit de fantasia. Senti bastante falta de personagens mais fortes e ação.
É verdade, porém, que o lado romântico sempre é um ponto crítico, difícil de acertar a dose. E por mais que Emma e Galen sejam por vezes fofos e causem sorrisos e borboletas no estômago, ainda acredito que Banks, infelizmente, errou na medida, neste quesito.
Como já mencionei, o foco do primeiro volume da trilogia ficou para o romance, e não escondo a minha insatisfação com essa escolha. Motivos não faltam, mas o principal é: já temos diversas personagens femininas cujas vidas mudam após conhecerem um rapaz, para que mais uma?
Não sou nenhuma anti-romance, pelo contrário, sou daquelas que choram lendo Nicholas Sparks. Mas, achei o clichê do casal principal forte e desnecessário, pois a partir do momento que a história se propõem a ser uma fantasia e não um romance ou chick-lit, acho que a principal preocupação deve ser criar uma base mitológica forte ao invés de usá-la como pano de fundo.
Entendo a importância do romance e do "triângulo-amoroso" na história, mas ainda discordo da forma como a autora escolheu configurá-lo e utilizá-lo no começo de sua série.
Gosto muito desta capa (que, aliás, foi o que me atraiu quando o livro foi lançado nos EUA), mas após a leitura, concluo que ela não corresponde tão bem à história. A ideia que ela transmite é de algo mais sério, elaborado, com foco nas sereias. Ao invés disso, o que encontramos é um romance com cenas divertidas e uma história de sereias à lá Romeu e Julieta.
Quanto à tradução e revisão, não achei erros que valham ser mencionados, embora tenha encontrado algumas construções de frases que me pareceram esquisitas e pouco naturais, mas estas também foram poucas.
A leitura fácil e descontraída poderá ser feita rapidamente e você se surpreenderá acabando o livro em um ou dois dias, satisfeito por ter dado algumas risadas, apesar de tudo. E mesmo com os problemas que tive com alguns aspectos, o twist do final, embora previsível, ainda mantém a expectativa e curiosidade para o próximo volume, garantindo que o leitor continue interessado pela história, pelo menos por enquanto. Mas, também, este é apenas o começo, certo?
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