Natalia 07/10/2023
Um gosto adquirido
Olha, não podemos negar que críticas a esse livro são bem aceitáveis. Como que pode, Dexter, O Psicopata, estar gamado e caído por uma atriz de cinema? O personagem que vimos ser construído durante a série não parece se alinhar com o que foi narrado em "Dexter em Cena". É uma quebra de expectativas grande, talvez até uma fuga de caracterização do protagonista, alguns podem argumentar. Dito isso, o incrível é que eu gostei. Achei interessante ver o Frio e Calculista Dexter cometer erros por humanidades idiotas; e entendo que muita coisa não é fora do personagem.
Ser um Psicopata não pressupõe não sentir tesão. Inclusive, na história dos serial killers, vemos diversos que matam por uma interpretação distorcida do desejo sexual: Jeff Dahmer, por exemplo, que está aí com uma série inteirinha da Netflix. Dexter, que inicialmente nem entendia o conceito de sexo, se vê extremamente atraído por alguém do sexo oposto (que tem todos os estereótipos para ganhar essa atenção), de maneira quase que infantil. A questão é que, na realidade, ele realmente é pueril neste aspecto da vida; ora, é um cara que só teve relação sexual de maneira mecânica (e gostou), com uma esposa de fachada.
Para além, vemos que Dexter se encanta pela ideia de "ser visto". Ser famoso, mesmo sendo o Monstro que é. Pensem na adrenalina de esconder que está matando, considerando que você é perseguido por paparazzi e fãs. Seria tão mais desafiador... E isso, certamente, seria deixar de seguir o Harry's Code. Nosso protagonista foi bastante narcisista durante toda a série. Um prato cheio para quem se acha o mais inteligente, não? Ainda mais para quem, além de esperto, está se enxergando como um homem atraente, já que ganhou os olhos de uma artista de cinema, desejada por todos.
Psicopatas podem ser burros. O fato da gente ter lido ele, em primeira pessoa, falando como se fosse o mais esperto do mundo, não anula isso. Esse livro mostrou uma outra perspectiva de Dexter, que pode ter desapontado muitos dos leitores, mas que, para mim, criou uma narrativa interessante e bem forte no entretenimento. Sem falar no final, que é o melhor que já teve desde "A Mão Esquerda de Deus".