gleicepcouto 11/06/2014Quando li o primeiro livro da série Encantadas, Veneno, estranhei algumas poucas coisas, mas aí pensei: "Ok, liberdade criativa". Encarei a obra com a mente bem aberta e consegui extrair algumas coisas proveitosas dela. Não foi o caso nessa continuação, todavia, Feitiço (Editora Única). A autora (e roteirista) inglesa Sarah Pinborough escorregou e feio.
A tal da "liberdade criativa" na releitura que a escritora se propôs a fazer se perdeu. O que antes soava interessante, mesmo que, em alguns momentos, confuso, agora é simplesmente louco - e não de uma forma agradável. Sinto como se os contos dos irmãos Grimm tivessem sido triturados em um liquidificador. Nem dá para catar seus caquinhos.
No desfecho do livro um, imaginei que ela faria um intercâmbio bom entre vários contos como referência, porém, as situações para essa interligação ficaram muito convenientes e pouco críveis. O mix não ficou homogêneo, e sim forçado. Sabe quando você está montando um quebra-cabeça e tem uma peça que parece que encaixa na outra, mas não encaixa? E aí você fica forçando até entortar a peça? Pois é. Bem isso.
"Sua vida ia ser tão ruim assim para sempre? Só trabalho, só ficar na sombra de Rose e de Ivy? A irmã de criação pobre? A plebeia? Talvez fosse como tinha que ser, mas ela só queria uma noite. Uma noite apenas em que se sentisse especial. ... Só um baile, desejou ela. Ela queria poder ir ao castelo pelo menos uma vez."
Personagens que conhecemos no livro anterior permeiam nesse, com a adição de novos e tudo vira uma maçaroca. Dos antigos, temos a volta do caçador que traça todas. Dos novos, uma Cinderela que a autora tenta a todo custo fazer com que pareça egoísta, mas falha miseravelmente. As atitudes não condizem com o objetivo e, talvez, por isso, que a Cinderela repita a todo instante o quão má ela é.
A pegada hot do livro fica por conta de uma Cinderela que gosta de se "divertir inocentemente" com um amiguinho. É, no mínimo, inusitado. Mas ok, dá pra levar. Mas há outras situações que... Nem sei. Sabe, sempre defendi a possibilidade de mudança nos originais através de releituras. Acredito, porém, que existam alguns limites que seria bom não serem ultrapassados, como, por exemplo, o da lógica. Chocar por chocar perde o motivo em si mesmo. Se quer chocar, que siga uma lógica razoável, por favor. E ela foi pro espaço no epílogo. #RIPlogica
Por fim, Feitiço é uma continuação muito fraca de uma série que iniciou bem. O receio da qualidade do livro 3, Poder, despencar ainda mais é maior que a vontade de tentar a sorte e lê-lo. Prefiro parar com a série por aqui.
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