Sô 22/03/2018Fiquei completamente obcecada por essa tragédia de 1996 depois de ler algo por cima a respeito, e o livro é ótimo pra sanar essa obsessão porque conta nos mínimos detalhes tudo o que ocorreu lá em cima. Sem contar que se aprofunda bastante nas pessoas envolvidas e justamente por isso, fiquei muito agoniada durante a leitura também, afinal de contas, deixa de ser “um cara” que tentou escalar e não conseguiu e passa a ser uma pessoa com nome, personalidade, passado e família. Além disso, o autor faz um ótimo trabalho ao falar não somente da tragédia e das pessoas envolvidas, mas como também a dar um contexto ao Everest e a famosa “febre do cume”.
Sempre associei o Everest à técnica e achava que somente alpinistas profissionais poderiam escalar, afinal de contas, é a maior montanha do mundo com 8.848 metros de altura. Mas não, a verdade é que qualquer um pode ir. Claro que é exigido um preparo físico antes da escalada, mas no que diz respeito a conhecimentos técnicos básicos de alpinismo, isso é o de menos. Existem as agências com expedições guiadas por experts no assunto. Qualquer um que esteja disposto a desembolsar 65 mil dólares a essas agências pode subir ao Everest. A parte boa é que no pacote estão incluídos os sherpas – que são os locais – para levar as suas coisas, armar as barracas e até fazer um chazinho para que você possa se esquentar naquele frio desgraçado de -60°C. Essa facilidade faz com que uma porção de sonhadores mal qualificados tenha acesso a montanha e com tanta gente acaba gerando também muitos outros problemas, como a questão do acúmulo de lixo; engarrafamento de pessoas; esgoto a céu aberto e por aí vai. Para falar sobre essa comercialização da montanha, Jon Krakauer é enviado pela revista Outside a participar de uma das trocentas expedições que aconteceria naquela temporada. Digamos que as coisas não saíram como ele imaginava.
O que aconteceu no dia 10 de Maio foi na verdade uma sucessão de fatores. A tempestade que eles pegaram teve papel fundamental sim, mas outras coisas influenciaram bastante. É quase impossível não pensar nos “e se”. E se eles tivessem seguido o combinado de limite de horário para subir ao cume? E se não existisse essa concorrência entre as agências? E se cada agência tivesse subido num dia diferente da outra? E se todos os guias tivessem rádios? São tantas suposições tentadoras, mas a verdade é que não tem como saber se sobreviveriam mesmo seguindo tudo a risca.
Quanto mais eu lia, mais eu chegava a conclusão de que o Everest é pra gente louca mesmo. Quem está disposto a subir está sujeito a uma série de problemas de saúde: edema cerebral, edema pulmonar, hipóxia, cegueira, frostbite e mais um monte de outras coisas boas. O próprio autor conta que perdeu mais de 10 kg só nas três primeiras semanas durante a aclimatização e chegou a romper algumas cartilagens torácicas! Ou seja, tudo isso antes mesmo de encarar a pior parte.
Eu achava que tudo isso era recompensado ao chegar ao topo. Tinha aquela ideia romântica de que você era tomado por uma euforia, mas segundo o autor, nada disso acontece. Você chega exausto, com o julgamento comprometido, dá uma rápida olhada ao redor, não fica nem 5 minutos lá em cima e dá meia volta. Tem coisa mais broxante? Pra piorar tem a dificuldade de descer tudo aquilo de volta com o dobro do cansaço! É justamente na volta que muitos acabam perdendo a vida, porque aquele lance de que todo santo ajuda na descida não se aplica aqui.
Outra coisa que me deixou besta foi essa indiferença que eles tem com os corpos que encontram no caminho. Se você morre no Everest, é um trabalho enorme trazer o seu corpo de volta, então muitos são deixados por lá mesmo. E ficam assim, eternamente petrificados na posição que morreram, já que o gelo preserva os seus restos mortais. Macabro, não?
Ao mesmo tempo em que você torce para eles conseguirem sair de lá vivos – mesmo sabendo o final de antemão – você fica com raiva porque eles foram lá por vontade própria e sabiam de todos esses riscos.
Leitura incrível que só me fez ter ainda mais certeza de que nunca tentaria algo do tipo. Subi a Pedra do Bauzinho – que tem tipo 300 metros de altura - e quase morri do coração. Imagina um troço dessa magnitude? JAMAIS!