Janine Maribondo 27/09/2023
O fim da classe média
Nessa história, Fernanda Torres dá voz a cinco amigos da classe média carioca e aqueles que se relacionam com eles.
Durante a leitura, qualquer ser consciente pode desenvolver intensa raiva de quase todos os senhores, à excessão de um, Neto (e olhe lá). Além do discurso misógino, típico de pessoas financeiramente favorecidas que envelheceram entre os anos 90 e 2010, os amigos nos apresentam seus lados de malícia e exageros, em um texto o qual, claramente, é passível de ser lido com o sotaque do típico carioca. Frase por frase. Palavra por palavra. Acento por acento.
Posicionamentos políticos e sociais controversos são a base da construção desses personagens e mais do que isso, uma frágil masculinidade que se afirma na quantidade de sexo, drogas, traições, abusos e abandonos contidas nas vidas desses caras.
Péssimos maridos, péssimos amantes, péssimos pais, péssimos amigos. Um livro feito de personagens péssimos, mas escrito com tanta veracidade que, apesar da raiva, nos faz sentir apego à história.
Suas mortes, ora justíssimas, ora revoltantes, são os desfechos mais reais e comuns que esse tipo de gente poderia ter. Sem grandes tragédias, sem grandes acontecimentos para os que tanto gostavam de aparecer, apenas mortes ordinárias, como qualquer ser comum.
Fernanda Torres conseguiu me fazer odiar os personagens e amar o livro. Que bom que os tempos mudam (pelo menos, é o que espero)!