Eduardo 20/02/2014Há delicadeza em descrever o mais vulgarAlice Munro. Autora célebre de literatura canadense foi premiada com o Nobel em 2013, na frase da premiação estava escrito "Mestra do conto contemporâneo". Essa premiação fez que com que seus títulos mais famosos ganhassem traduções para o português; não demorou muito e vários livros sobre a autoria dela coloriram estantes das livrarias brasileiras.
Como toda nova autora contemporânea que leio, fui com muita cautela quando adquiri um livro dela. Comprei o último "vida querida", pois imaginei que a capacidade literária mais madura da autora tornaria seus contos melhores. Não posso dizer dos outros livros, este foi o único que li até o momento, mas de antemão afirmo, lerei todos os possíveis. Alice Munro é fenomenal. Sua capacidade literária é maior do que esperava.
Ao ler opiniões sobre ela deparei com o comentários como, "Tchekhov do Canadá", o que despontou um sensação de exagero antes de entrar em contato com a obra dela. No entanto, estou tentado a afirmar que ela é ainda mais virtuosa que o grande contista Russo. Não desmerecendo a capacidade de Anton Tchekhov, este que é um autor sensacional e que gosto muito, mas Alice Munro, é, para mim, um dos grandes nomes da literatura universal.
Sua escrita, é marcada por delicadeza e sensibilidade totalmente únicas. Até as situações que levantam os sentimentos da mais alta repulsa em qualquer um, são apresentadas de forma magistral. Em seus vários contos, normalmente longos, diga-se de passagem, ela cria personagens em conflitos sentimentais e emocionais; mostra como os sentimentos humanos são múltiplos, diferente do que imaginamos; apresenta pessoas em situações corriqueiras e faz o leitor se prender em acontecimentos que em muitos momentos parecem estúpidos e sem graça.
Nas ultimas páginas do livro, ela se propõe a contar fatos até então desconhecidos de sua vida, cujo título chamou "Finale". Fala de sua relação difícil e confusa com a mãe, uma vivência que parece estar destituída de amor e afeto, e de casos familiares marcantes. Traços autobiográficos que emocionam pelo seu caráter simples e profundo, carregado de sentimentos de culpa e muitas vezes dor, daqueles os quais lemos com nó na garganta, mas continuamos, pois tudo se torna interessante e primorosos.
Frente a tantos desperdícios literários da atualidade, Munro é uma resposta à esta contemporaneidade literária pobre, que se resume a número de títulos vendidos. Há arte presente em cada traço de sua escrita.
Acredito que Alice Munro, atinge o título de "Mestra do conto contemporâneo" ao conseguir mostrar beleza no cotidiano mais vulgar, mais singelo e desinteressante, e nisso tudo nos trazer a mensagem de que, por mais simples que parece a realidade, ela pode ser incrível, é só pararmos e observarmos com atenção.