Kizzy 04/05/2018
Ótima introdução à história do Brasil
Para começar uma avaliação da obra em questão é preciso primeiramente entender a proposta do livro. Já na capa está escrito “cinco séculos de um país em construção”, ou seja, me parece óbvio que um livro que se propõe a contar cinco séculos de história em pouco mais de 450 páginas, será informativo e introdutório, porém não buscará aprofundamento em cada um dos temas. Pensando nesta proposta, achei o livro ótimo.
Considero tentativas de popularizar assuntos tidos como “chatos” ou “eruditos” a ação mais valiosa que se pode fazer em uma sociedade. O livro de Eduardo Bueno cumpre esse papel com qualidade e equilíbrio. Para os que tem pouco ou nenhum conhecimento de história do Brasil é uma grande oportunidade de conhecer linhas de raciocínio e fatos interessantíssimo de um assunto tão pouco difundido na cultura nacional, de uma forma leve, fácil, acessível e eficiente.
Já para os que tem algum conhecimento ou curiosidade pelo assunto, é muito interessante para desenvolver uma linha temporal dos muitos acontecimentos que por vezes conhecemos sem contexto ou entendimento da complexa estrutura política da formação brasileira, além de despertar curiosidade para novas pesquisas sobre cada um dos temas.
Sobre o texto de Eduardo Bueno, ele tem a melhor característica dos jornalistas, escreve bem, de forma coesa e ágil, com vocabulário abrangente e de forma que te instiga a continuar a leitura ainda que já seja madrugada.
Já sobre o conteúdo da história do Brasil, desperta o que a maioria dos textos sobre história desperta. Um pouco de perplexidade pela constância quase imutável das estruturas de formação política e um pouco de tranquilidade de saber que as ações absurdas que vemos no presente são apenas meras repetições do passado e que de uma forma ou de outra, supera-se e sobrevive-se à ignorância e aos discursos vendidos como salvadores. Uma pena que esse processo sempre custe mortes e perdas estrondosas com o objetivo de manter poder e status quo.
De todas essas percepções destaco o trecho “Embora o Brasil tenha se desvencilhado do jugo português de forma bem menos turbulenta do que os países da américa espanhola, a passagem do período colonial para o regime monárquico foi feita de uma maneira relativamente pacífica não só porque o país colocou no trono um rei português, mas, acima de tudo, porque a nova ordem tratou de manter intocados os privilégios das elites – inclusive e principalmente, a escravidão”. Mudam-se datas, períodos, lugares, temas e ações, porém tudo continua servindo ao propósito de manter os privilégios da elite, não só economicamente, mas, acima de tudo, em divisão de status social.
Destaque também para a preocupação com a ilustração, ainda que por muitas vezes sejam de fontes secundárias, muitas são interessantíssimas e Belas. A contextualização histórica em conjunto com as artes e expressões culturais de cada período também é muito positiva e acima de tudo mostra que ainda que sejamos hoje uma nação com imensuráveis problemas, já produzimos muitos movimentos importantes e tivemos, sim, grande representatividade popular em conflitos em que a pressão social significou muito para ações de melhoria, ainda que tenhamos um história repleta de representantes políticos que lutavam pelo ideal que mais os trazia lucro em determinado momento histórico. Fato esse que faz figuras políticas “defenderem” em diferentes momentos, ideários completamente opostos aos que eles mesmos criaram.
Recomendo a leitura e considero o projeto do livro de introdução e popularização da história brasileira muito bem feito.
“Sabe-se atualmente que a resistência dos escravos foi feroz e constante: milhares de negros lutaram de todas as formas contra os horrores que o destino lhes reservava. A fuga, solitária ou coletiva, não era a única forma de rebelião: houve incontestáveis casos de escravos que quebraram ferramentas, incendiaram senzalas, dispersaram os rebanhos ou atacaram os feitores. Muitos outros optaram pelo suicídio (em geral pela ingestão de terra), ou então se deixaram acometer pelo “banzo”, o torpor mortal que levava à morte por inanição. O certo é que, onde houve escravidão, houve resistência”.