Lanis 20/08/2022estação carandiru?para a sociedade, eu não passo de um reles, rejeitado que nem cachorro sarnento. se aqui na cadeia os manos não tratar eu como considerado, não vou ser nada para ninguém, sou um zero no mundo. vou perder a identidade própria do ser humano. é sem chance.?
é, pra mim, muito difícil descrever este livro.
sendo sincera, eu não conhecia muito sobre o massacre no carandiru e menos ainda sobre as condições de vida dentro das cadeias, era um assunto completamente alheio a mim, então o que eu tinha eram apenas flashs daquilo que um dia me foi dito. isso tudo pra dizer que esse livro, portanto, foi uma novidade. achei que fosse demorar pra ler devido ao tema pesado, mas li rápido porque a curiosidade pra entender a dinâmica das coisas e conhecer a história das pessoas era muito grande.
o livro flui de forma muito boa, drauzio conseguiu, aqui, de forma extremamente equilibrada, mesclar uma linguagem profunda, leve e envolvente sobre um tema tão denso. ele começa descrevendo os pavilhões e as ?instituições? e termina contando a história de algum dos presos. em nenhum momento ele demonstra se sentir superior aos demais, muito pelo contrário, demonstrou uma enorme humanidade durante todo o livro (e período lá dentro): o medo que sentiu, tanto deles quanto das doenças, a humildade em relação aos próprios conhecimentos e experiências, o carinho que desenvolveu por alguns dos presos e o pesar, mesmo que implícito, diante de algumas situações.
o trabalho editorial feito nele também é maravilhoso, desde os cadernos de fotos de qualidade até a preparação e revisão que conseguiram mesclar a linguagem própria do drauzio e as falas dos detentos sem descaracterizá-los.
enfim, foi um livro difícil de ser digerido devido aos fatos e à percepção de que, apesar da inativação do carandiru, aquela segue sendo a realidade de outros presídios brasileiros e de tantas outras pessoas. foi necessário pra abrir a mente e incitar discussões, ainda que comigo mesma, e para humanizar pessoas que diariamente são desumanizadas pela população.
o final, assim como o do presídio, foi triste e deixou um vazio.