Charleees 20/10/2023
CARANDIRU
Publicado em 1999, 7 anos após o massacre do presídio que culninou com a morte de 111 presos e nenhum PM e 2 anos antes da implosão e fechamento do complexo prisional.
Dráuzio chegou no Carandiru em 1989, com 20 anos de experiência em medicina, ficou no presídio até encerrar as atividades e ainda hoje atua em cadeias e presídios.
O livro não busca denunciar o massacre, julgar versões, nem mesmo denunciar o sistema prisional brasileiro.
Dráuzio chegou ao presídio para falar sobre HIV/AIDS, em um momento em que o vírus estava sendo disseminado no presídio por falta de informações e educação sexual. Juntamente a isso, Drauzio passou a clinicar no que era o maior presídio da América Latina. Lá em meio a mais de 7000 presos e pouquíssimos funcionários , ele conheceu histórias, pessoas e personagens, vivenciou momentos de tensão, mas também momentos que o transformaram.
E muitas dessas histórias está no livro.
Ele não faz juízo de nenhuma dessas pessoas, muitos assassinos, usuários de drogas, assaltantes e pessoas que entraram na vida do crime por um acaso ou uma brincadeira do destino.
A abordagem que ele faz às drogas é digna de nota, Drauzio como médico, repudia o uso das substâncias, mas entende que o problema é bem maior que simplesmente colocar usuários e traficantes atrás das grades, é uma questão de saúde pública, contenção de danos. No Carandiru, uma das formas que o vírus do HIV disseminava era pelo uso de agulhas compartilhadas durante o uso do "baque" (cocaína misturada a água que era injetada nas veias dos usuários), em suas palestras ele dizia que se o sujeito não conseguisse ficar sem a droga era melhor que cheirasse, fumasse ou fizesse supositório, mas que não injetasse. Dráuzio com essa fala era ovacionado pela malandragem.
O seu modelo de palestra foi tão feliz e resultou em tantos bons efeitos que foi importado para outros presídios.
A abordagem que Dráuzio faz às travestis sem preconceito e juízo de valor foi outro ponto que admirei na leitura. Em 1999 não tínhamos tanto debate sobre pessoas trans/travestis e Drauzio fala delas no masculino em seu livro. Em seu canal no YouTube, atualmente, falando sobre o assunto, Dráuzio fala nas travestis no feminino respeitando sua identidade de gênero e mostrando porque hoje é um conhecidíssimo e respeitado médico no país.
Fica aqui minha recomendação para você ler o livro, ver o filme, pois vale muito à pena.