Anderson Tiago 09/08/2014[RESENHA] King of Thorns (Trilogia dos Espinhos #2) - Mark LawrenceA fantasia sombria reina absoluta no nicho da literatura fantástica na atualidade. A prova disso é a quantidade de lançamentos no estilo que atingem reconhecimento internacional e conquistam prêmios literários em todo o mundo. No Brasil, essa tendência se repete e, principalmente nos últimos dois anos, tivemos uma enxurrada de lançamentos “dark fantasy”, entre eles: A Companhia Negra, de Glen Cook; O Poder da Espada, de Joe Abercrombie; e Prince of Thorns, de Mark Lawrence. Entre esses o que mais tive contato foi com o livro que dá ínicio à Trilogia dos Espinhos, inclusive entrevistando o próprio autor (a entrevista pode ser conferida aqui).
King of Thorns é o segundo livro da trilogia e continua a seguir os passos de Jorg Ancrath, em seu propósito de se tornar Imperador e dominar todos os reinos do Império Destruído. Jorg, após vingar a morte de sua mãe e irmão, se torna o rei das Terras Altas de Renar, porém uma ameaça aos seus planos se aproxima e dessa vez todos os augúrios e profecias estão contra ele. Além de enfrentar os verdadeiros jogadores, aqueles que controlam realmente o mundo, tecendo suas teias e sussurrando intrigas nos ouvidos dos reis, Jorg terá de enfrentar um príncipe disposto a se tornar também o Imperador, porém com objetivos bem mais nobres. O príncipe Orrin é leal, nobre, justo, bondoso e busca ascender ao trono para tornar o Império Destruído um lugar melhor, ou seja, representa exatamente o oposto do nosso protagonista.
No primeiro livro, Jorg era consumido pelo desejo de vingança, por não ter podido fazer nada, preso nos espinhos de roseira-brava, enquanto sua família era assassinada diante de seus olhos. Agora, ele é atormentado pelos fantasmas que ele mesmo criou para poder se vingar. Ele começa a se questionar, buscando justificar os seus atos com algo mais que apenas o seu desejo egoísta. Temos, durante alguns momentos, um relance do lado mais sensível de Jorg, principalmente quando interage com Gog, o jovem leucrota que o acompanhou desde Gelleth, porém nada que o afaste do caminho da destruição e das atitudes impensadas para satisfazer o seu próprio ego.
A construção de mundo foi um dos elementos mais elogiados em Prince of Thorns, todavia é nesse segundo livro que a concepção de Mark Lawrence fica mais clara. Conforme Jorg viaja percorre os diversos territórios do Império, vemos os ecos do nosso mundo atual refletido nas características dos personagens de cada região. Se você está lendo essa resenha provavelmente já deve ter lindo o primeiro livro e deve ter percebido que, na realidade, o mundo criado por Mark Lawrence é o nosso mundo em um cenário pós-apocalíptico onde a civilização regrediu a um estado similar ao da Idade Média. A catástrofe que remodelou o mundo, certamente nuclear, é sempre citada durante a obra e seus efeitos não se restringem somente ao fim da tecnologia como a conhecemos. A mudança do mundo também libertou poderes até então desconhecidos e a magia se faz presente durante toda a obra.
A história de King of Thorns não inicia exatamente onde Prince nos deixou. Quatro anos haviam se passado desde que Jorg assassinou o seu tio e tomou o seu trono. Mark Lawrence mais uma vez divide em duas a narrativa em primeira pessoa do protagonista: enquanto uma segue o presente, a outra, a linha principal, conta através de reminiscências o que ocorreu durante esses quatro anos que se passaram. O autor trabalha muito bem esse modo de narração, uma vez que as impressões e os pensamentos que temos são os de Jorg. Portanto, se em determinado momento ele enfrenta um período de confusão mental, isso será refletido no texto, deixando o leitor sem entender o que aconteceu. Felizmente, o autor amarra todas as pontas e qualquer possível desentendimento é resolvido. Outro elemento que agrega muito valor à narrativa são os trechos do diário de Katherine Ap Scorron, a única pessoa por quem Jorg parece ter sentimentos verdadeiros. Na realidade, os trechos dela estão entre os meus favoritos do livro.
King of Thorns é considerado por muitos como o melhor livro da trilogia, inclusive é essa a mensagem que temos na contracapa, assinada por ninguém menos que Rick Riordan (autor de Percy Jackson e os Olimpianos, entre outros). Não posso cravar essa afirmação como verdadeira porque ainda não li Emperor of Thorns, que fecha a trilogia, mas posso afirmar que ele superou fácil o primeiro livro. Quando perguntei na entrevista ao autor o que ele achava das afirmações sobre ter evoluído como autor entre os livros, Mark Lawrence não concordou. Bem, não foi o que eu vi aqui. E vocês o que acharam?
Resenha assinada por mim para o site INtocados
site:
http://intocados.com.br/index.php/literatura/resenhas/283-resenha-king-of-thorns-mark-lawrence