Larissa 14/05/2022
Gostei da história, mas poderia ter sido ainda melhor
Rafaela passou as férias da sua infância em Iriri, quando, aos 11 anos, avistou na praia um garoto que parecia ter 14 e que era dono de lindos olhos azuis e uma mochila xadrez.
"No princípio era só um garoto qualquer, na faixa dos quatorze anos, que passava com sua bicicleta azul e preta, todos os dias, no mesmo horário...e com uma mochila xadrez pendurada nos ombros".
"Seus olhos se ergueram e pararam nos meus. Eram azuis. Lindos. Nunca mais voltei a vê-los, e desde então, procurava o garoto em cada olho azul em que encontrava".
Passados muitos anos, agora Rafa com 21, ainda não conseguiu esquecer o garoto. Ela guarda uma coletânea de textos escritos para ele, como se um dia fosse tê-lo em sua vida e finalmente descobrir o seu nome, como ele era de fato, e quem sabe, não ser o amor da sua vida. Isso mesmo, Rafa idealizou o homem perfeito no Garoto, e agora se fecha para as oportunidades amorosas da vida real. Onde estaria ele?
Agora, sendo uma universitária, estudando jornalismo na PUC Minas e sendo considerada uma excelente aluna, Rafa pretende se formar com esmero. E, como resultado de tanta competência, acaba sendo indicada para um cargo de estagiária no jornal Folha de Minas, muito competitivo e aplaudido, ainda mais quando essa vaga é para a área que ela mais adora, o setor investigativo. Só que, o destino sendo bem danado, coloca Bernardo, superior dela e pé no saco, sem paciência com Rafa, competitivo e implicante para trabalhar lado a lado com a nova estagiária. Com o passar do tempo juntos, ambos vão vendo que na verdade, o amor pode estar tão perto e ao memso tempo tão longe.
"Durante o trajeto, conversaríamos sobre nossa rotina, nossos problemas, mas um confortaria o outro. Seríamos companheiros, como um casal perfeito dos romances água com açúcar. Eu revelaria que não suportava meu colega de trabalho Bernardo Venturini, e ele se ofereceria para dar uma surra nele. Eu acharia graça, mas negaria, pois sou uma moça bem-educada, apesar de querer muito aceitar a oferta".
Eu gostei desse livro, na verdade, gostei muito mais da Rafa, pois me identifiquei com a sua maneira destrambelhada rsrs. Entretanto, senti que havia uma discrepância entre a idade da Rafa, sua postura vaidosa e confiante, mas sendo uma pessoa tão inocente. Confesso que isso me incomodou em algumas situações, como por exemplo, quando ela decide ir a casa do Biju sozinha (pelo amor de Deus, tava óbvio o perigo ali) e não engulo o fato de que, pra idade dela e o curso que faz, como não viu onde estava se metendo?
Quanto ao Bernardo, senti algumas cenas em que ele era muito rude com a Rafa, agredindo-a verbalmente ou gritando com ela (o verdadeiro ogro que no fundo é um mel - foi isso que a autora quis passar), e isso também me incomodou. Ademais, em relação ao Ber, eu achei interessante ler uma história em que o "mocinho" é entrão e sem noção algumas vezes, haha. Foi divertido algumas cenas deles dois juntos.
Um ponto que me deixou querendo falar com a autora pra perguntar qual era a real intenção dela, foi a cena em que a Rafa começa a rabiscar no caderno e diz que começa a desenhar o símbolo nazista (?), oi???? Se a intenção era parecer com que aquela cena fosse espontânea ou natural, sinto dizer, Marina Carvalho, mas você não conseguiu. Eis aqui o trecho:
"Como eu não estava muito a fim de me socializar, fiquei fazendo uns desenhos aleatórios nas folhas em branco do pequeno caderno, como espirais, estrelas de todos os tamanhos e vários modelos, suásticas nazistas (não que eu seja uma militante - Deus me livre!) e traseiros de elefantes...".
Me entendem agora? gente... do nada...
Também não gostei como o livro incitou a violência contra outra mulher, no caso, amiga da Rafa contra a Rafa, por conta de homem. Achei a cena e toda essa picuinha muito baixa. Mas, me inquietou o fato da autora querer que a gente engolisse que a Gizele não tinha feito nada demais contra Rafa. Eu sei que a Rafa inventou ali uma desculpa pra que ninguém soubesse que estava gostando do Ber e que ficou com ciúmes dele com a Gi, mas a desculpa que ela usou é muito bem plausível também... então, não. Eu não concordei com a Gi, nem Rafa, nem Ber, e nem com a própria autora.
Ademais, gostei como a Marina Carvalho nos sensibilizou com a situação do Biju:
"É engraçado como nos acostumamos com determinadas situações a ponto de parar de refletir sobre elas. Na nossa concepção - pré-concebida a partir de estereótipos definidos pela sociedade -, bandido é bandido, mocinho é mocinho. Bem assim, separados, em lados opostos. Mas a linha divisória entre esses dois mundos é tênue, permitindo muitas outras classificações. Conversar com Biju, entrar na favela, ser espectadora da vida de uma parcela da população que passa despercebida quase sempre - exceto quando é protagonista de tragédias -, mexeu comigo. Muito".
Mas, apesar das partes de texto do jornal terem sido interessantes, achei que a autora poderia ter trabalhado mais no momento do casal... algumas coisas eram narradas demais e outras (as mais interessantes) de menos. A viagem deles mesmo... tudo poderia ter durado mais. Creio que me incomodo com histórias em que a maioria das coisas só acontecem faltando 50 páginas para o fim do livro. É como se ficasse mais difícil trabalhar na consistência do enredo dos acontecimentos.
Em suma, gostei do livro, mas acho que a história poderia ter sido conduzida ainda melhor. Vou deixar aqui algumas frases que gostei:
"Estou melancólica... Com saudade do passado e de seus cheiros e da facilidade de viver".
"(Rafa): - Quer dizer que...
(Bernardo): - Quero dizer, Rafa - Bernardo recolocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha -, que não sei ao certo quando, embora compreenda bem o porquê, mas estou louco por você. Não louco de raiva. Louco... Por você".
Até a próxima!! Beijinhos!