bela 20/01/2023
Após o anoitecer foi a minha primeira leitura do Murakami, primeira a literatura japonesa primeira com esse toque de realismo mágico. O conjunto da obra me deixou cheia de opiniões e tão confusa, que é a primeira vez que eu sinto essa necessidade de escrever uma resenha tão grande e detalhada, porque nenhum livra antes me despertou TANTA vontade de interpretar suas camadas e tentar entender toda sua complexidade.
Já de início, o cenário que é pintado é encantador e eu não consigo nem imaginar o como deve ser lindo ler esse livro na sua língua original. Principalmente por usar de ferramentas tão diferentes pra se estruturar, que inclusive lembra muito a um cenário cinemático, como se o narrador quisesse que a história fosse lida enquanto se passam por trás todas as imagens.
De conteúdo em si, acho que não tem nem como falar de forma linear, das minhas impressões no início meio e fim do livro. Ironicamente, mesmo que tudo se passe em uma só madrugada, a impressão é que as páginas vão se mesclando da mesma forma que a personagem principal. A parte obvia desse livro é a intenção de apontar como os caminhos se misturam em possibilidades infinitas, e você nunca sai de uma relação sem ser impactado por ela. Se formam teias infinitas de conexões que até as últimas paginas do livro, por mais que muito menores que as anteriores, ainda estão se formando.
O que mais me deixou duvida e me levou até a tentar achar explicações de outras pessoas foi qual era o real significado do sono da irmã de principal, Eri. Parecia uma história completamente desconexa, e eu só consegui ter uma visão realmente depois de pensar muito em como caralhos aquilo tinha relação com o resto. E realmente parece que é uma interpretação mais difícil, e eu cheguei até a ver pessoas falando como faziam alusão a sociedade de consumo. Particularmente, acho que o sono de Eri representa seu estado mental e todos os problemas que ela tem em sua relação consigo mesma e com a irmã, o muro que elas construíram entre si. Dentro desse estado de prisão mental, o homem na televisão nós representa (a visão do Outro, do mundo, do leitor) e a entrada de Eri na televisão, que ela se sente capturada e incomodada enquanto nós estávamos tranquilos, é essa "redoma de vidro" que a Mari diz que gostaria de guarda-la, onde ela é reduzia unicamente a sua aparência física, tornando-a vazia alem disso.
Acredito que enquanto Mari vai sendo impactada pelos outros, Eri continua ali, e por mais que tudo o que ela escuta faça diferença na relação com a irmã, ela ainda volta com a mente confusa, na transição de uma crença para a outra. A crença que as condena senda mostrada com essa fala da Mari sobre a redoma de vidro e a crença que as salva sendo mostrada quando Mari beija Eri e sente que está beijando a si mesma, colocando as duas como iguais. Acredito que o final do livro consista nessa ambiguidade, Eri dormindo e querendo despertar, vidas ainda se entrelaçando e pessoas ruins não sendo responsabilizadas pelas suas ações, o dia amanhecendo com a certeza de que irá anoitecer novamente. A vida segue sem conclusão.
Dito isso, acho que a intenção era realmente a interpretação ser pessoal e diversa, mas essa fez muito sentido pra mim.
Nunca escrevi tanto sobre um livro nem acho que vou escrever de novo tão cedo, mas espero que as próximas leituras desse autor também deixem uma sensação parecida com essa hehe