Victória 27/07/2020
Resenha de ...E o vento levou
Como podem, por todos esses anos, divulgarem que este livro se trata de um simples romance, quando na verdade retrata a história de uma megera sobrevivente?
E o vento levou é um clássico, um livro muito bem escrito e detalhista que conta a história de Scarlett O?Hara filha de Gerald, um imigrante irlandês que fez sua vida nos Estados Unidos e Elena, filha de mãe e pai franceses que criaram suas filhas nos Estados Unidos e que, por uma peça do destino se conheceram em um determinado momento da vida que possibilitou o quase impossível casamento.
O livro descreve a vida de Scarlett, seus pensamentos, dúvidas, raivas e desejos. Sempre teve tudo e quem que quis, a moça não gostava de ser contrariada. Não tinha muitas amigas e amava namorar, é claro que tudo isso causava muito alvoroço a sociedade da época, já que se passa me 1861. Scarlett era conhecida como namoradeira e assanhada, mas nada a abalava, ela pouco se importava com os comentários a seu respeito. Sua vida se vê abalada quando ela se apaixona por Ashley, e perdida, quando sente que seu amor pode não ser correspondido, pois seu amado vai se casar com a prima, acabando com seus planos. Mal sabe ela quantas provações estaria a vida a lhe apresentar...
A escrita dessa edição não é fácil, a autora é muito descritiva, descreve coisas que ao meu ver, não enriquece o texto, mas sim, o deixa um pouco cansativo em determinadas partes. Os diálogos entre Scarlett e Rhett são a parte engraçada da história, e foram até determinada parte, os momentos que mais gostei. A sinceridade e indiferença de Rhett para com a vida e para com a sociedade é um grito de liberdade que ele se deu e que o libertou de uma vida enfadonha, porém a um custo alto, que ao decorrer da história ele se vê obrigado a admitir. Scarlett passa boa parte da história em um amor platônico, e a autoria tende a nos levar a crer que esse amor pertence apenas a ela, que Ashley na verdade, se a amou em algum momento, as divergências de pensamentos e modo de vida, acabaram o desiludindo quanto ao que sentia pela moça, e claro como um cavalheiro, não poderia manter um relacionamento extraconjugal. Por um bom tempo isso a deixou em um situação depressiva e um pouco solitária, pois aliado a essa desilusão tem seu gênio, que não é fácil de se lidar.
Muitos descrevem Scarlett como burrinha, tola, sem muita inteligência, eu descordo totalmente. Acho-a de uma inteligência perspicaz. Não é porque ela não tem a cabeça nos livros e não conhece os grandes poetas que sabe menos que a nenhum a li, só lhe tem interesses distintos. Porém, seu modo de viver e a forma como foi sempre foi tratada, a deixaram uma mulher iludida (em certo ponto pode ser considerada uma megera), a achar que o mundo inteiro a trataria como sua mãe e pai. Não, o mundo é duro, ninguém vai se abaixar para amarrar seus sapatos, quando você pode fazê-los. Seu gênio também não é fácil, e muitas vezes me estressava na leitura, por muitas vezes a quis sacudir e dizer: ACORDE.
A autora nos trás também um, que na minha opinião é um ótimo relato acerca da guerra. Sem maquiagens, sem a romantização ou a forçada beleza, que costuma-se esperar quando tocam em tal assunto. Muitas vezes precisei parar a leitura, pois me entristecia demais alguns dos relatos de Scarlett, de um futuro sem muitas expectativas e de muitas das recordações que lhe vinham a memória, após a guerra. Triste, porém foi a partir dessa parte que pudemos ver nascer em Scarlett uma outra personalidade, moldada pela guerra e que a fortaleceu em meio a situação que vivia.
Acho importante ressaltar como a autora escreveu sobre a vida da população negra daquele tempo, a situação de vida e de trabalho as quais eram obrigados a viver. É interessante ressaltar também as relações de hierarquia que acontecia tanto dentro, como fora da comunidade daquela época. Com a guerra, essas relações hierárquicas foram ficando de lado pelas circunstâncias, e pela necessidade do cotidiano. Por conta disso muitos escravos designados para o cuidado da casa, se viram trabalhando na terra, plantando e colhendo para ter o que comer, enquanto outros fugiam da fazenda, para lutar na guerra ao lado do inimigo, ou para a liberdade. E isso os desagravada demais, de uma maneira que até difícil explicar.
Não sou estudiosa da área, mas em muitas partes ficava aborrecida quando os personagens os descreviam como ?da família?, quando na verdade e pelo jeito como eram tratados, não sugeria
de forma alguma que estavam lidando com alguém da família. E choca um pouco o quanto alguns realmente acreditam que lhes pertencem a família, quando é claro que os vêem como uma mercadoria comprada a qual lhes deve obediência e devoção. Enfim, acho que o livro provoca uma ótima discussão, tanto de gênero, como de raça, que precisa cada dia a mais ser fomentada.
No mais, é uma ótima leitura e creio que fez muita gente cair do cavalo se a começou a espera de um belo romance, que a meu ver, está em segundo ou até em terceiro plano na história. Acho que a ideia que a autora queria passar da história, não era a de dois amantes apaixonados, é muito mais que isso, é uma história de reflexão, crítica a cultura e costumes, de conhecimento histórico, que precisa existir para que erros do passado não voltem a acontecer.
O romance entre Scarlett e Rhett tinha ao meu ver tudo, exatamente tudo para dar certo, só que a vida é complicada, e mesmo que no final as coisas tenham ficado um pouco vagas, acredito que com o passar do tempo, e além das páginas acabadas do livro, eles tenham tido sim, um final feliz.