spoiler visualizarMarianne Freire 16/08/2022
Uma poética do império das imagens. Mais um clássico de estante: Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino. Quase um diário de viagem, aqui Marco Polo narra ao imperador as cidades como se fossem composições extraordinárias, com um pouco de fantasia e realismo fantástico, mais o que encanta mesmo são os diálogos e conclusões filosóficas. Quase não há enredo, apenas descrições oníricas do que seriam cidades ideais. Cidades com nome de mulheres, com uma atmosfera que foge da razão cartesiana e lógica. A semântica discursiva é de uma figurativização abundante, e quase pairando nas construções subjetivas de configurações de mundo a partir de um estado da arte filosófico.
Nessa obra de Calvino você pode se sentir em uma de suas cidades imaginadas ou invisíveis, e ser local ou global, sendo literário e multidimensional, onde tudo pode ser protótipo da mente e das descrições com sentimentos, saindo do particular ao universal. A obra é mais que missão diplomática, é uma experiência de sentidos.
"É uma cidade igual a um sonho: tudo o que pode ser imaginado pode ser sonhado, mas mesmo o mais inesperado dos sonhos é um quebra-cabeça que esconde um desejo, ou então o seu oposto, um medo. As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas e que todas as coisas escondam uma outra coisa."
Até que ponto podemos imaginar o inexistente e acreditar no invisível como parte simbólica e psicológica de nossos próprios desejos e projeções?