Anderson 12/07/2017
Revendo a(s) cidade(s)
Ouvimos comumente que “As cidades invisíveis” é para ser lida aos poucos. Sim, isso é verdade, porém, recomenda-se mais uma segunda leitura. Isso porque, ao ler percebe-se que estamos diante de leitura fluente e envolvente, o que em muitos casos, está associado a menor complexidade e interpretação de uma obra. Mas, este, não é o caso! O estilo escolhido por Calvino com histórias curtas, associadas ao uso de ricas e distintas palavras, mas não por isso impossíveis de serem interpretadas, de época e contemporâneas, somadas a cada conto a temáticas que se repetem no título, mas nunca no conteúdo, são ingredientes utilizados para nos conduzir ao mundo de diálogos entre Kublai Khan, um rei, e Marco Polo, um viajante, e que mais parecem estarem sonhando do que acordados (a ponto de duvidarem em seus diálogos se estão vivos ou mortos).
Khan desafia constantemente Marco Polo e esta parece ser a chave que o rei utiliza para dizer “Vá! Fale do que deve ser dito, mas não da maneira como usualmente se diz”, abrindo campo às histórias que enebriam entre ficção e realidade.
O livro tem um “que” dualístico. As cidades falam de morte e vida, de terra e ar, dos vivos e dos mortos, de referências e espelhados e algumas outras. Une passado e presente, como nas cidades que não tem precedente em nossa realidade, como as de afeminado nome e as que existem hoje como Nova Iorque.
Entre as várias metáforas utilizadas a melhor é a de fazer com que o que chama, dando nomes muito femininos, têm grande aproximação, nos fragmentos de nossos dias. Ou seja, embora se tenha um punhado de histórias de cidades, no fundo são todas partes das quais já vivemos e presenciamos no mundo moderno, sobretudo nas metrópoles. O livro lembra muito as cidades que temos dentro das nossas próprias cidades.
Os termos não aparecem, assim, diretos, mas, vívidos, de forma poética, perpassando importantes conceitos das ciências humanas, sociais e do espaço, tais como a Geografia e a Arquitetura, estão: pobreza versus riqueza, conurbação e inchaço urbano, estruturas e suas formas, formas e suas funções, signos e significados, o social e o individual, guerras e destruições, o sítio e o lugar, entre tantos outros. É, por este viés, um livro para rever a(s) cidade(s) por outro ângulo, o da poética. Daí sua magnitude (5 estrelas). Recomendadíssimo, sobretudo aos estudantes das áreas de estudo citadas.