Caroline Gurgel 19/01/2014As eternas-sempre-atuais cidades de CalvinoLi As Cidades Invisíveis há quase dez anos na faculdade de Arquitetura e Urbanismo e, apesar de aqui e acolá lembrar-me de quão boa e intrigante fora sua leitura, jamais parei para relê-la. Recentemente, lendo As cidades de Papel, de John Green, tive vontade de reviver as tais fantasiosas cidades de Calvino e fiz a releitura. Não me entendam mal, John Green faz apenas uma leve crítica à superficialidade das cidades, de suas fachadas e seus habitantes, mas é um livro de ficção juvenil que em nada lembra Calvino.
O livro foi publicado em 1972, mas parece que suas histórias jamais se perderão no tempo e, por ser variável no imaginário de cada leitor e dar brechas a diversas interpretações, será sempre atual. Se há dez anos vi apenas cidades, hoje vi um pouco além e tento imaginar o que verei nas próximas vezes. Sim, é um livro para se reler e ser reinterpretado a cada vez, pois ele acompanha as mudanças das cidades tanto quanto nossas opiniões sobre elas.
Calvino apresenta suas cidades através do explorador Marco Polo, que, em conversas com o imperador mongol Kublai Khan, descreve 55 cidades pelas quais ele supostamente teria passado. As cidades têm nomes de mulheres e seus relatos são curtos e divididos em 11 partes: as cidades e o nome, as cidades e a memória (a que mais gosto!), as cidades e o desejo, as cidades e os símbolos, as cidades delgadas, as cidades e as trocas, as cidades e os olhos, as cidades e os mortos, as cidades ocultas e as cidades e o céu. Podem parecer tratar de distintas cidades, mas ao final é como se elas se completassem e se conectassem entre si.
Admito que algumas delas estão além do alcance de minha imaginação e não as entendi completamente nem consegui relacioná-las com as existentes de tão fantasiosas que são. Ou talvez esse seja o propósito, enxergar algo diferente, dependendo das circunstâncias, a cada leitura.
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“Eu falo, falo, Marco diz, mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja. Uma é a descrição do mundo à qual você empresta a sua bondosa atenção [...] Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido”.
“Imagens memoráveis, uma vez postas em palavras, são apagadas”.