Andre.Pithon 25/03/2023
4.5
Cidades invisíveis foi um dos melhores livro do ano (empatado com Jade Legacy), o que é engraçado por que isso mal tem uma história. Marco Polo tá lá de boas falando com o imperador, e começa a descrever umas cidades. E é isso. Cidade, após cidade, após cidade. Parece o melhor arcabouço de prompts aleatórios para RPG, cada pequeno capítulo pintando as especificidades de uma cidade que não existe, ou que talvez exista por não ser imaginada, ou que talvez só sejam todas Veneza. Impossível saber, mas não é preciso saber.
Cada cidade é única, as vezes com elementos físicos inesperados, as vezes com uma cultura estranha, e quando mais o livro progride, mais exóticos e sobrenaturais elas vão se tornando, quebrando a fronteira entre vida e morte em alguns casos, outras atemporais, com Marco Polo descrevendo coisas que não viriam a ser inventadas por séculos. Ítalos Calvino faz um trabalho excelente de worldbuilding surrealista, cada cidade podendo ser facilmente expandida em um conto inteiro (ou um cenário de RPG, e é praí que vou roubar), misturando entrada filosóficas bonitas, prosa curta e direta, um estilo extremamente casual e poderoso.
Não tem muita narrativa, mas não precisa, o simples enganchar das cidades imaginárias construindo palacetes de imaginação. É uma obra atemporal, fácil de ler, que se encaixa perfeitamente como livro de cabeceira, para encaixar pequenas entradas imaginativas em momentos de calma, deixar a mente vagar, e permitir-se viajar pelo que não existe, e por isso existe.
Ítalo Calvino era um nome que sempre me assustou, e que jamais esperaria encontrar algo tão casual, aproximável, e absurdamente agradável de se ler. Não acho que vai demorar para eu explorar o restante do catálogo dele.