Alan 13/02/2024
Um retorno após mais de dez anos
Não consigo falar dessa leitura sem localizá-la na minha própria história. Comecei a ler a coleção (achando que era uma simples trilogia) há muitos anos.
Conhecer Eragon, Saphira, Brom e os demais habitantes de Carvahall e do Vale Palancar foi, da primeira vez, um refúgio. Era um lugar em que eu podia relaxar minha mente e descansar de um mundo caótico e complicado, que exigia demais de mim e eu não entendia o porquê (anos mais tarde eu entenderia).
Acompanhar a descoberta de Eragon, não mais como um jovem adolescente e fazendeiro, mas como um cavaleiro de dragão que carregava em si uma grande promessa foi uma experiência instigante, como toda aventura fantástica. Da primeira vez, foi inevitável não se envolver na história, com foco nos elementos fantásticos da narrativa. Da segunda vez, algo mais profundo que a fantasia me envolveu.
Talvez a nostalgia e as lembranças de uma época que já não existe mais, de uma vida que foi deixada inevitável e definitivamente para trás, trouxe à leitura novos sentimentos e uma aproximação maior com o personagem principal da trama.
Da saída apressada de Carvahall, passando por um treinamento às pressas pelo caminho, descobertas e novas amizades, medos, erros e amores até novas dores e responsabilidades, vê-se um crescimento e amadurecimento de Eragon que, de outro modo, dificilmente ocorreriam ou levariam muito mais tempo.
A vida apenas acontece. Acho que é essa a principal mensagem que hoje retiro deste livro. A vida apenas acontece. Implacável. Irresistível. Incompreensível, talvez. Mas quem disse que a vida segue uma trama bem definida?
Talvez seja aqui que reside a grande diferença da história do livro e da vida dos leitores. Uma foi construída, desenhada e redesenhada. Modificada, adaptada. A outra, não. Ela apenas aconteceu. Mas também deu a possibilidade de lhe ser atribuído um sentido, de se tecer um fio através dela que desse algum sentido àquele que o costurou ao longo de vários momentos.
É inevitável imbuir na leitura sua própria história. Buscar-se e encontrar-se nos eventos e nos personagens é talvez o principal motor da leitura. Buscar na fantasia o que a realidade duramente nega; encontrar em mitologias e contos fictícios o que o cotidiano rejeita e nega.
Que bom que pude encontrar tudo isso novamente. Não só isso, mas também as lembranças de uma vida marcada sobretudo por sonhos e por uma certa pureza e inocência. Uma lembrança feliz e aconchegante de um momento que não mais existe.