Paula 02/05/2014Colin Fischer tem Síndrome de Asperger, um transtorno do espectro autista, e ele não gosta da cor azul, também não suporta ser tocado e sempre anda com cartões de memorização com expressões faciais legendadas, além de um caderno surrado e cheio de orelhas onde registra suas experiências com a população local, que agora se concentra nos jovens do colegial.
Colin tem 14 anos e seu primeiro dia no colegial não é o mais agradável, Wayne, um grandalhão que aparentemente tem por objetivo infernizar a vida dos outros estudantes, enfia a cabeça de Colin dentro do vaso sanitário.
Sua mãe havia alugado uma série de filmes no verão sobre o ensino médio para ajudá-lo a transitar por esse campo minado social, mas Colin logo perdera o interesse pelas histórias de garotas desajeitadas ansiosas por garotos ricos e populares, e por estudantes de diferentes facções que formavam amizades improváveis enquanto desafiavam a autoridade dos adultos. A experiência, no entanto, dera a Colin dados suficientes para formular o que ele considerava uma taxonomia operacional de grupos tribais do colegial e observava os colegas com o interesse de um antropólogo, registrando em seu caderno os movimentos dos nerds, das garotas populares, dos atletas, dos góticos, dos garotos sensíveis e dos metidos a gângster de rua.
Apesar do incidente do primeiro dia (e dos outros dias, afinal os jovens implicavam com Colin invariavelmente), ele trocava algumas poucas palavras com Melissa, uma garota de voz suave, clara e agradável, que no passado era alvo da crueldade coletiva das crianças por sua aparência magra, o rosto cheio de marca de espinhas e o sorriso cheio de hastes metálicas. Mas o verão transformara Melissa, sua acne desaparecera, assim como as hastes metálicas e o cabelo parecia domado. Os garotos não sabiam muito bem o que fazer em relação a essa transformação e Colin sempre observava uma sensação estranha quando estava ao seu lado, que poderia ou não ter a ver com o cheiro de morango do seu xampu.
Colin não fala muito, quer dizer, ele não gosta de palavras ocas nem de falar sobre aquilo que não o interessa no momento, mas quando o assunto interessa o garoto ele vai longe, tendo que ser interrompido por alguém ou até mesmo levando uma advertência de um professor que não gosta de ver um aluno questionando muito as suas palavras. E matemática é a sua matéria favorita.
"Para Colin, isso se aplicava a todas as matérias. Aprender uma coisa era saber essa coisa; saber uma coisa era entender essa coisa; entender uma coisa era enfrentá-la sem medo." (p. 26)
E é movido pela curiosidade, deixando o medo de lado, que quando uma arma é disparada no refeitório durante o aniversário de Melissa e todos os alunos correm para a saída, que Colin se aproxima da cena da luta que acontecera minutos antes e olha para o chão, observando restos esmagados de almoços meio comidos, lápis e mochilas abandonados e uma pistola de nove milímetros, com a coronha de borracha manchada de chocolate branco e glacê cor-de-rosa.
Colin, que possuía um desconcertante conhecimento sobre genética e cinema clássico, além de dispor de pôsteres em seu quarto de Sherlock Holmes e fotos do Dr. Spock, do Comandante Data, de Jornada nas Estrelas e até mesmo do detetive Grissom, do seriado televisivo CSI, e ter um grande poder de observação, memória e dedução, sabe que não foi Wayne, o garoto que fora acusado, que atirou, afinal de contas a arma estava suja de glacê, e Wayne não estava com os dedos sujos de glacê…
"- Não. Falei tudo o que achava que fosse importante naquele momento. Mas o que não percebi então foi a importância do bolo.
- O bolo?
- Sim, o bolo. O punho da arma estava manchado de glacê, mas Wayne Connelly come muito ordenamente. Então, está vendo? A arma não poderia ser dele. - Colin tomou o silêncio da Dra. Doran como um reconhecimento de sua hipótese. - Precisamos dizer às autoridades que estão investigando - insistiu." (p. 69 e 70)
Colin Fischer, de Ashley Edward Miller e Zack Stentz, que se conheceram na internet devido a paixão em comum por Jornada nas Estrelas, escreveram um livro que, definitivamente, vale a pena ser lido! Colin é um personagem intrigante, que cativa desde o início da leitura, leitura que eu prolonguei ao máximo, já que o livro é bem fininho. Sua forma de observar o mundo e os outros é ímpar, e com os talentos que possui (observação, dedução e memorização) vai em frente para descobrir quem é o dono da arma, mesmo que para isso precise mentir para seus pais pela primeira vez, passe por alguns apuros e crie uma espécie de laço inesperado com Wayne, o garoto que sempre o importunou.
Os diálogos no livro são excelentes, elaborados com perspicácia e tornam o livro divertido e comovente. Os diálogos e a interação dos personagens de Colin e do Sr. Turrentine, professor de educação física, são um ponto alto do livro, assim como a nova relação que nasce entre Colin e Wayne.
Durante toda a leitura também acompanhamos os Fischer: os pais de Colin e seu irmão de 11 anos, Danny. E é bastante interessante ver como se dá a relação entre os quatro, especialmente como Danny lida com o irmão mais velho.
Li os últimos parágrafos umas duas vezes, só pra checar se estava tudo certo ou se havia lido alguma coisa errada. Gente, preciso de uma continuação!
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http://electricbeans.blogspot.com.br/2014/05/colin-fischer.html