jesscaa 16/07/2023
CNV
Ler é uma atividade que me gera diversos sentimentos, porém nunca considerei que algo como a leitura desse livro fosse me fazer enxergar o mundo como jamais imaginei. Então, vamos começar pelo começo? O exemplar em si é uma completa vivência de mundo, aqui há trocas de experiências entre diversas pessoas, com vários graus de relacionamentos. Nesse ponto, encontramos amigos, colegas de trabalho, casais, professores, alunos e diretores que possuem todos uma mesma necessidade: serem ouvidos. Mas afinal, o que impede essas pessoas de serem ouvidas? No livro Marshall elenca 4 pilares para uma comunicação não violenta:
1- Observação
2- Sentimentos
3- Necessidades
4- Pedido
Nesse ponto, gostaria de ressaltar que em uma primeira busca sobre a CNV eu não entendi de fato o quão profundo são cada um dos pilares. E mesmo após a leitura encarei o fato de que a essência da CNV está em nossa consciência da existência dos quatro componentes e não nas palavras que efetivamente são trocadas.
Talvez, alguém que nunca leu o livro possa pensar que a CNV é um mecanismo metódico de comunicação, mas não é essa experiência que senti ao ler o livro, o escrito a todo momento trás a tona experiências de trocas reais, de situações corriqueiras à países em guerra; desde americanos à japoneses, todas as línguas e pessoas com diversas realidades de vida diferentes. O ponto em comum? todas elas buscaram por meio da CNV viver uma vida mais empática, buscaram entender como conectar nossos sentimentos a nossas necessidades.
Cabe mencionar também as referências, trechos, poemas e músicas que o livro acrescenta para tornar a experiência cada vez melhor, não esquecendo claro dos exercícios ao final de cada ensinamento, que buscava colocar em prática o que acabamos de ler.
Ao fim da leitura busquei relacionar minha comunicação a todo o conhecimento adquirido, assumindo então verdades ? difíceis de encarar ? as quais são abordadas no livro. Citarei algumas delas, que denominei como "verdades difíceis demais de serem lidas"
1- Em determinado ponto do livro Marshall fomenta: "A empatia é a compreensão respeitosa do que os outros estão vivenciando.
Em vez de oferecermos empatia, muitas vezes sentimos uma forte urgência de dar conselhos ou encorajamento e de explicar nossa própria posição ou nossos sentimentos." Nesse momento, entendi tudo aquilo que buscava encontrar quando expressava meus sentimentos, que eles fossem recebidos de forma empática, que fossem verdadeiramente escutados e respeitados.
2- Em certa parte do livro, o autor comenta sobre a dor de expressarmos nossas necessidades versus a dor de não expressarmos, alegando o seguinte: "À medida que emergimos do estágio da escravidão emocional, pode ser que continuemos a carregar resquícios de medo e culpa por termos nossas próprias necessidades." Aqui, estamos falando sobre como assumimos muitas vezes a responsabilidade pelos sentimentos dos outros e nos tornamos assim escravos emocionais, em certo ponto nos tornamos pessoas ranzinzas que não querem mais essa responsabilidade, e passamos a emergir desse estado expressando nossas necessidades de maneira que parecem rígidas e inflexíveis para os outros, me enxerguei aqui como pessoa que viveu anos de escravidão emocional e que tenta todos os dias não carregar mais o fardo de parecer rígida ou inflexível ao se expressar. Logo, me vi refletir sobre como achamos que devemos nos esforçar constantemente para manter todos felizes e acabamos por nos privar de viver plenamente uma relação de troca saudável.
3- Quando falamos de empatia, pensamos em troca de palavras e compartilhamento de sentimentos, certo? Errado. Para refletirmos ainda mais, o livro descreve como vivenciarmos a empatia em meio ao silêncio, com a seguinte reflexão: "Uma das mensagens pelas quais é mais difícil termos empatia é o silêncio.
Isso é especialmente verdadeiro quando nos expressamos de forma vulnerável e precisamos saber como os outros estão reagindo às nossas palavras. Nessas ocasiões, é fácil projetarmos nossos piores medos na falta de resposta e nos esquecermos de nos conectarmos aos sentimentos e necessidades que estão sendo expressos pelo silêncio."
4- Avaliar nós mesmos quando formos menos que perfeitos talvez seja a reflexão mais esclarecedora do livro, afinal como posso ser empático com os outros quando não sinto empatia por mim mesmo? Considero essa a aplicação mais decisiva da CNV, por se referir ao modo como nos tratamos. Marshall avalia o seguinte: "Condicionados a nos vermos como objetos ? e como objetos cheios de falhas ?, será surpreendente que muitos de nós acabemos tendo uma relação violenta com nós mesmos?" Logo, se o modo como nos avaliamos nos faz sentir vergonha, e, em consequência disso, mudamos nosso comportamento, estaremos permitindo que nosso crescimento e aprendizado sejam guiados pelo ódio por nós mesmos. Cabe então a você e a mim praticar com mais frequência a autocompaixão, é sermos capazes de ter empatia por ambas as partes que nos compõe: a parte que se arrepende de uma ação passada e a parte que executou aquela ação.
Por fim, acredito que viver a CNV é experienciar conectar partes de você que você nunca deu a devida atenção, é se conectar primeiro com o seu "eu" e buscar compreender o outro, já que mantendo nossa atenção concentrada no que está acontecendo dentro dos outros, oferecemos a eles uma chance de explorar e expressar seu eu interior com profundidade.