spoiler visualizarPaula 02/09/2021
Simples até demais!
A CNV (Comunicação Não Violenta) parte da premissa de que o indivíduo deve desenvolver certas habilidades de ouvir e de falar, de forma a aumentar em si a empatia e compaixão pelo outro, evitando assim, conflitos.
O livro, de forma geral é bem simplista, apresentando resoluções ingênuas para problemas (por vezes graves) abordados. Dessa forma, o autor mostra uma visão superficial de mundo na qual reduz praticamente tudo à maneira inadequada como as pessoas se comunicam, ou seja, basicamente os conflitos humanos podem ser facilmente resolvidos por meio de soluções banais e até infantis, dando a impressão de que questões basilares como justiça, contexto histórico, ética e formação de caráter simplesmente não importam.
Tudo é repetitivo. Entre depoimentos de algumas pessoas em alguns seminários os quais o autor ministrou, ele se vangloria a todo momento com o repeteco de ?eu criei esta técnica?, ?eu atendi tais pessoas?, ?eu fiz isso?, ?eu fiz aquilo?, ?eu estive em tal lugar?, ?eu...?, ?eu...?, ?eu...?. Algo bem típico de alguns livros de autoajuda. Basicamente não sai disso.
Iniciei a leitura desse livro crendo que nele encontraria uma forma de desenvolver em mim uma melhor comunicação com as pessoas, mas ao percorrê-lo fui me dando conta de que ele não é de todo voltado para a pessoa que age de maneira mais violenta ao se comunicar, mas é voltado principalmente para o lado passivo dessa comunicação, ou seja, para o que algumas pessoas consideram como ?vítimas? das mais diversas situações. E foi nesse contexto em que eu me senti incomodada, ao ver que o objetivo do livro era incutir na consciência do ?sujeito passivo? que é ele a pessoa que deve ouvir, desenvolver empatia e compaixão pelo ?sujeito violento?, não julgá-lo, tentar entendê-lo e resolver o problema simplesmente pedindo que ele mude, simples assim! E para piorar o autor dá alguns exemplos em que vemos atos de racismo, antissemitismo e até tentativa de estupro sendo resolvidos com conversas triviais que, a meu ver, não me pareceram críveis.
Separei aqui alguns dos trechos os quais me causaram estranhamento, mas deixo claro que é algo intrínseco a mim, pode ser que outras pessoas leiam e não vejam nada demais:
- Redução de uma doença tão complexa como depressão, com diversos fatores, causas e nuances, a somente uma irrealização.
?Minha teoria é que ficamos deprimidos porque não estamos obtendo o que queremos, e isso acontece por que nunca nos ensinaram a obter o que querermos. (...) A depressão é a recompensa que ganhamos por sermos ?bons?.?
...
- Supressão do direito à indignação e estímulo a aceitação das mais diversas injustiças:
?Em vez de concordarmos ou discordarmos a respeito do que são as pessoas que matam, estupram ou poluem o ambiente, acredito que serviremos melhor à vida se concentrarmos nossa atenção nas nossas necessidades. ?
...
- Crimes hediondos podem e (já foram) evitados com conversa e empatia:
?RAPAZ: Tire a roupa!
PROFESSORA: (notando que ele estava tremendo) Estou percebendo que isso é muito assustador para você.
RAPAZ: Você me ouviu? P..., tire a roupa!
PROFESSORA: Sinto que você está realmente irritado neste momento e quer que eu faça o que você me diz.
RAPAZ: Isso mesmo, e você vai se machucar se não fizer.
PROFESSORA: Gostaria que você me dissesse se há alguma outra maneira de atender a suas necessidades que não me machuque.
RAPAZ: Eu disse para tirar a roupa!
PROFESSORA: Estou percebendo quanto você quer isso. Ao mesmo tempo, quero que você saiba quanto estou me sentindo péssima e assustada, e como eu ficaria grata se você fosse embora sem me ferir.
RAPAZ: Me dê a bolsa.?
(Eu tenho uma grande dificuldade em acreditar que esse diálogo realmente existiu! E se existiu, tenho mais dificuldade ainda em acreditar que foi desse jeito.)
...
Enfim, é minha opinião, não me sinto minimamente tentada a aderir a essa técnica, além de também não ter gostado do livro. É sempre bom ler mais livros sobre esse tema, mas ter um olhar crítico também é essencial. Felizmente não gastei um centavo nele, pois li o ebook pelo Prime Reading.