Rascunho com Café 24/06/2015
Sempre há uma luz no fim do túnel
Os negros passaram por apartheids, escravidão, inúmeros preconceitos, mas o orgulho da própria cor é algo admirável. Ayana Mathis apresenta essa característica logo nas primeiras páginas através de Hattie, uma mãe adolescente com os dois filhos doentes, tentando o possível e o impossível para tirá-los daquele desespero. Ela é uma protagonista instigante, incerta, marcante e muito orgulhosa. Contudo, o livro não é apenas sobre ela.
Sua relação com o marido August não é nada romântica. Ele a trai e passa a noite em bares, enquanto Hattie passa o dia inteiro cuidando de casa e dos filhos. Cansada da monotonia e da rotina exaustiva, a protagonista decide sair de casa e viver com a filha mais nova, Ruthie, e outra pessoa em determinado momento... Sinto muito dizer isso, mas o restante do enredo nem vale a pena comentar. Você precisa ler e sentir tudo.
O livro é narrado pelos doze filhos da protagonista e uma de suas netas, começando no ano de 1925, com Jubileu e Filadélfia - os primogênitos do casal - e segue até 1980. É interessante observar a perspectiva de cada filho sobre a mãe, considerada por eles como uma pessoa fria e rígida, literalmente uma general. Ela é tudo isso mesmo. Não beijava ou abraçava os filhos, apenas cumpria seu papel de mãe e cuidava deles da melhor forma possível. Apesar disso, poucos conseguem enxergar seu outro lado, aquele feliz e amável. Quando isso ocorre é algo passageiro, já que a máscara da frieza e do orgulho logo voltam ao seu rosto.
A família vive com pouquíssimos recursos e quase nenhum alimento. Ao ler As Doze Tribos de Hattie pensei em meus avós, bisavós e tataravós e em suas dificuldades ao cuidar de uma penca de crianças. Naquela época as coisas eram conquistadas após anos e anos de luta. Hoje não é tão é diferente, mas são décadas e períodos distintos. Se você queria uma boa casa própria deveria trabalhar por uns vinte anos e juntar todo o dinheiro até conseguir pagar o imóvel.
Como cada capítulo é narrado por pessoas diferentes, finais interessantes e bons personagens são um pouco desperdiçados. Não há uma continuidade, tudo sobre a vida de tal irmão começa e termina ali, apenas uma coisa ou outra mais importante é retomada na trama. Claro que os personagens são citados futuramente, mas é bem superficial, mostrando apenas onde ele está ou o que faz da vida. Isso me desagradou, mas não prejudica tanto a obra com um todo. A história é dinâmica, com bons diálogos e mostra as complexidades das relações familiares e dos seres humanos.
A Oprah Winfrey adorou o romance de estreia da Ayana e até o indicou para o seu famoso clube do livro
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