MiCandeloro 09/06/2014
Belíssimo e inspirador!
Naoki é um jovem de 13 anos, extremamente inteligente e sensível, mas incompreendido, refém do seu próprio corpo que o impede de se expressar e de explorar o mundo.
Durante muito anos, viveu completamente isolado no seu mundinho interior. Ninguém entendia por que ele chorava, gritava ou pulava incessantemente, por que tinha obsessões de enfileirar seus brinquedos, falar em voz alta, correr livremente, ou por que não conseguia falar, manter um diálogo e responder as mais simples perguntas.
"Por favor, não nos julgue apenas pela aparência. Não sei por que não conseguimos nos comunicar de forma adequada. Mas não é por não querermos falar — é porque não podemos, e sofremos por causa disso. (...) Você consegue imaginar como seria sua vida se você não pudesse falar?"
Alguns achavam que ele era demente, que não conseguia entender o que os outros diziam ou que não tinha vontade de aprender. Mas todos estavam completamente errados! A vida de uma pessoa com necessidades especiais é muito complicada, tanto quanto a vida dos seus cuidadores e familiares.
Imaginem como deve ser angustiante ter a total consciência do que acontece ao seu redor sem conseguir reagir? Imaginem como deve ser frustrante saber que se está fazendo algo errado e não conseguir parar? Imaginem o quanto deve ser tenebroso saber que vocês são a causa do sofrimento daqueles que mais amam?
Era assim a vida de Naoki, "Mas, graças a uma professora persistente e ao seu próprio empenho, aprendeu a soletrar palavras usando uma prancha de alfabeto." E, a partir disso, Naoki conquistou o seu lugar no mundo e quebrou paradigmas ao mostrar que a vida de um autista não era do jeito que todos imaginavam.
Pela primeira vez, em O que me faz pular, pudemos entrar na mente de um menino que sofre de um autismo severo e descobrir o que ele pensa, sente e aprender lições preciosas que nós, "pessoas normais", parecemos esquecer.
"Então, minha grande esperança é poder ajudar um pouco explicando do meu jeito o que acontece na mente das pessoas nessa condição. Também espero que, através da leitura deste livro, você possa se tornar um amigo melhor para alguém com autismo."
Convido todos vocês a se entregarem a essa jornada bela e delicada, compartilhando um pouquinho da vida de Naoki e entendendo de uma vez por todas que não podemos julgar uma pessoa sem conhecê-la.
"Não se pode julgar uma pessoa pela aparência. Mas, a partir do momento em que você entende o que acontece dentro do outro, vocês dois podem se tornar bem mais próximos. Do seu ponto de vista, o mundo do autismo deve parecer um lugar extremamente misterioso. Portanto, por favor, pare um pouco e ouça o que tenho a dizer. E faça uma boa viagem através de nosso mundo."
***
Desde que ouvi a Helo falar deste livro na 3ª Turnê Intrínseca tive a certeza de que precisava lê-lo. Me arrependo de não ter lido antes, porque sério, este foi o livro mais incrivelmente tocante que já li na vida, superando tranquilamente Extraordinário e outros tantos que seguem esta mesma linha, principalmente por se tratar de uma história real.
Preciso confessar, nunca me senti tão pequena, tão insignificante e tão ignorante ao ler O que me faz pular. Nós, "pessoas normais" que vivemos reclamando da vida e julgamos ter problemas não temos ideia do que uma pessoa com autismo passa. Em primeiro lugar, nunca imaginei que existisse uma mente tão ativa e capaz "dentro" de pessoas portadoras de doenças tão severas.
"Não conseguir falar significa não compartilhar o que a gente sente e pensa. É como ser um boneco que passa a vida toda em isolamento, sem sonhos ou esperanças."
Quando olhamos para um autista, com um rosto sem expressão e um olhar vidrado e apático, como imaginar que dentro daquela cabecinha habita um ser tão enérgico, cheio de ideias e sede de viver? E isso me doeu tanto! Porque o diferente e o incompreensível tende a nos afastar. E não me refiro somente a autistas, mas também a vítimas de Alzheimer, Síndrome de Down, dentre outras síndromes ou até da própria velhice, em que a pessoa pouco a pouco se enclausura por não ter com quem compartilhar seus momentos restantes de lucidez.
"Você deve estar pensando: “Ele nunca vai aprender?” Sabemos que estamos deixando vocês tristes e chateados, mas sinto dizer que é como se não tivéssemos escolha, e é isso. Mas, por favor, façam o que fizerem, não desistam de nós. Precisamos de sua ajuda."
Mas e se essas pessoas todas que, aparentemente não entendem o que falamos e não conseguem se comunicar, escondessem dentro de si seres humanos tão fantásticos e dignos de atenção, tão sensíveis e aparentemente mais evoluídos do que nós, com percepções tão aguçadas e tão puras, o que fazer? Que tal começar escutando o que Naoki tem a dizer sobre si e sobre a doença? Que tal começar prestando atenção em todas as mensagens que Naoki tem a nos dizer e abrir os olhos para o mundo, enxergando sobre o ponto de vista dele? Tenho certeza de que a vida de vocês nunca mais será a mesma depois de ler O que me faz pular. E tenho ainda mais certeza de que esse livro é essencial para aqueles que lidam com essa doença todos os dias.
"Vocês não percebem. O fato é que vocês não fazem ideia de como nos sentimos mal. As pessoas que cuidam de nós podem até dizer: “Quer saber? Tomar conta desses garotos é um trabalho muito difícil!” Mas ninguém sabe o quanto nós — que estamos sempre causando problemas e somos inúteis em quase tudo que tentamos fazer — nos sentimos culpados e infelizes."
Não desistam de quem tem autismo. Eu sei que a vida de vocês, cuidadores e familiares deve ser muito difícil, mas a deles é muito pior. Não desistam de amar, de ensinar, de ter paciência e, principalmente, de aprender, porque eles têm muito o que ensinar.
"Compaixão de verdade significa não pisar na autoestima alheia. Pelo menos é assim que eu penso."
A Intrínseca arrasou na edição de O que me faz pular, produzindo um livro graficamente impecável, condizente com a beleza do texto. Para mim, o livro divide-se em três partes, a começar pela introdução, feita por David Mitchell, pai de uma criança autista. Só ali já estremeci e comecei a chorar e fiquei me perguntando o que viria depois. Uma das coisas que me fez adiar a leitura foi saber que a história era escrita com base em perguntas e respostas. Achei que isso seria chato e cansativo de ler, mas não, ao contrário, me fez comer o livro e o li todinho em cerca de meia hora. As perguntas são interessantes, dignas de um leigo que não entende nada do universo autista, algo bom para nós, pessoas comuns, e as respostas de Naoki são tão sinceras e espirituosas.
"Autistas não têm liberdade. O motivo é que somos um tipo diferente de seres humanos, nascidos com sentidos primitivos. Nós estamos fora do fluxo natural do tempo. Não conseguimos nos expressar e lutamos com nossos próprios corpos a vida inteira. Se ao menos pudéssemos voltar para aquele passado distante e líquido, então conseguiríamos viver de forma tão livre e feliz quanto o restante de vocês!"
De vez em quando ele tentava se aprofundar e ilustrar algo que sentia ou pensava nos contando uma história de sua autoria, pequenos contos que aqueceram o meu coração, principalmente o do final que não tenho nem palavras para comentar. Só para deixar claro, O que me faz pular não é um livro triste! De maneira nenhuma. Naoki é um menino engraçado, cheio de vida, que aprendeu a se amar do jeitinho que é. Mas não pude deixar de me emocionar e de me questionar sobre tudo o que ele falou.
Gente, O que me faz pular é leitura OBRIGATÓRIA, é sério. Este é um livro que precisa ser lido por todos. Nós, "pessoas normais", precisamos expandir nossos horizontes e entender de uma vez por todas que o mundo não gira em torno da gente, que existem muitas cores além do preto e do branco e que o preconceito só nos limita. Por favor, leiam! Com certeza se todos pensassem como Naoki, o mundo seria um lugar melhor de se viver.
Resenha originalmente publicada em: http://www.recantodami.com/2014/05/resenha-o-que-me-faz-pular-naoki-higashida.html