Meridiano de sangue

Meridiano de sangue Cormac McCarthy




Resenhas - Meridiano de Sangue


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hanul_ 10/05/2024

"Eu vou matar um 🤬 #$%!& se eu não achar as minhas botas"

Meridiano de Sangue foi meu primeiro contato com a escrita e literatura do Cormac Mccarthy e, assim como todos que viraram e são até hoje meus autores favoritos, eu quero ler outras de suas obras desde o primeiro parágrafo que li deste livro.
Quando comecei a escrever essas palavras eu nem havia terminado a leitura ainda, mas eu sabia que para tecer um comentário decente (e eu queria muito fazê-lo), eu não poderia esperar o livro acabar pra acabar pois, desde que ingressei nos úlitmos capitulos, sabia que algo terrivelmente grandioso estava para acontecer.

Bem, eu sou uma grande fã de faroeste, não tenho o direito de mentir. Não apenas do western estadunidense, mas de tudo o que circula esse gênero - como alguns filmes do Glauber Rocha. Então, eu achei recomendações desse livro, justamente enquanto buscava por títulos com essa temática e, como a fã de carteirinha que sou, desde a sinopse a leitura já me parecia promissora. O fato é, eu tinha grandes expectativas com essa leitura e todas elas, não apenas foram alcançadas, como superadas, inclusive, acho agora que eu estava é esperando muito pouco do que Mccarthy conseguia fazer com ás palavras.

Eu estou, pessoalmente, em uma época complicada da vida, tendando dar conta de trabalho e faculdade e todo o universo de coisas que se incluem nessas duas, isso, juntamente com o fato da escrita do autor em si (que falarei mais a adiante) tornaram essa uma leitura longa. Eu não me lembro de ter demorado tanto tempo para ler um livro, os Irmãos Karámazov, por exemplo, li em pouco menos de um mês e com uma rotina mais ou menos no mesmo ritmo.

Porém, toda essa dificuldade se deu ao fato de que (e eu acho que é importante falar disso primeiro): Meridiano de Sangue é uma das leituras mais brutais que eu já tive e, honestamente, pensar que algo possa ultrapassar isso aqui eu considaria preocupante. Vou dizer que, no que diz respeito aos livros, eu realmente nunca tive muitas leituras violentas e sanguinárias, mas esse tipo de coisa nunca me incomodou no geral, pelo contrário, eu sou uma fã terrivel de filmes de terror, aqueles bem toscos de fato, com um assassino perseguindo as pessoas mais burras que você já viu na Terra e matando elas de forma gráfica. Isso não me afeta. Contudo, em todo (todo mesmo) capítulo deste livro, eu precisa parar, respirar, fechar um pouco as páginas, olhar em volta... sair daquela cena, daquele momento, perceber novamente que eu estava sentada, lendo, e não no meio do oeste americano vivenciando aquelas brutalidades ao vivo e a cores.
Veja, ninguém escapa impune daqui e você, enquanto leitor, acompanha por cerca de 350 páginas ás pessoas cometendo todo tipo de barbaridade contra todos. Animais, crianças, idosos, bebês... todo mundo. E você se pergunta "por que isso?" e a resposta é "a troco de nada mesmo". O mundo é cruel, acostume-se com isso.

Mas entenda, não é apenas a questão das cenas "gráficas". Se o livro fosse um amontoado de "e fulano perdeu a cabeça", "arrancaram a perna dele fora" isso não me incomodaria. A questão é que, a escrita do Mccarthy te guia por essa violência tão brutal, tão sanguinolenta e tão cínica, como se você estivesse ali, vendo tudo aquilo na sua frente. Os parágrafos são uma mescla atroz de todo tipo de horror que um ser humano pode provocar a outrem e, a cada linha que você lê, fica pior, o estômago revira mais e o desconforto aumenta.
Isso, desconforto. Que leitura desconfortável. Os Santos estão no céu e aqui, na melhor das hipóteses, você tem aquele que é menos violento, se der sorte, ele é "apenas" omisso.
Existem aqui, passagens que eu quase senti no meu nariz o cheiro de sangue e o cheiro de pólvora. Tudo é tão imersivo, tudo é tão real, tudo é tão concreto que parece um sonho febril maluco, como se cuidado! O próximo a tomar um tiro nessa confusão vai ser você.

Só que, acho que o pior mesmo é essa brutalidade cínica e nilista que Meridiano de Sangue não tem vergonha nenhuma de esconder. Pode ser durante ou depois, mas após uma cena sanguinária, Mccarthy não tem medo de nenhum de jogar sal na nossa ferida e gritar que aquilo tudo é só outro momento do dia. Aquilo é o oeste americano, você esperava o que? É como se o pior fosse, após tantas atrocidades, perceber que, no fundo, a terra daqueles desertos vai cobrir o sangue, que os ventos vão levar as cinzas das casas, que os animais vão brigar com os vermes pelos restos que sobraram e que, algum dia, os ossos desconhecidos serão avistados por viajantes desavisados ou até piores do que aqueles que ali pereceram. É como se fosse um ciclo eterno de brutalidade. Veja, em uma das passagens do livro, um dos homens, literalmente, joga fogo em outro. Qual o motivo daquilo? Qual a razão? Bem, ele queria. O mundo é violento, logo, ás pessoas são também. É febril ver como as personagens lidam com tanto sangue derramado, com tanta profanação... como se fosse normal. São inumeras cenas que os viajantes se deparam no oeste, desde os restos mortais de humanos e animais, até ás cenas mais bizarras, como se fossem retiradas diretamente de algum filme de terror que envolve seitas e rituais diabólicos. Talvez, se envolvesse seitas e rituais, fosse mais aceitavel, pois ai, ao menos, haveria alguma razão por trás disso e não apenas a sanguinolência. E, entenda, não estamos acompanhando as vitimas, estamos cavalgando junto dos agressores, as maiores brutalidades aqui lidas, são perpetradas pelo grupo protagonista da história. Para eles é normal... eles apenas seguem.

Mas afinal, se tudo é tão terrivel e horroso por que alguem leria isso? "tem certerza que você gostou dessa história?", eu posso dizer que esse, sem dúvida, é um dos meus livros favoritos, contudo, não posso mentir e dizer que seja uma leitura fácil, que todos vão aproveitar. Eu entendo que, talvez, certas pessoas jamais leiam esse livro por problemas reais em lidar com a violência. Porém, novamente, ser uma leitura desconfortavel, não a torna ruim, muito pelo contrário, certos tipos de provocação feitos pelo autor e seus personagens, só provocam o impacto que tem (de te fazer pensar neles por horas a fio) graças a esse incomodo.

Além do mais, eu preciso dizer que, é possivel sim sentir simpatia pelo nosso protagonista de fato. O menino não tem nome (e ele não é um menino de verdade, ele tem 19 anos) mas, sempre é referido como "o menino".Ele é uma pecinha muito pequena nessa engrenagem de crueldade e, para o nosso próprio bem estar, ele parece ser uma das únicas 3 pessoas dessa histórica que não vão matar alguem por causa de um olhar torto na rua. Arrumar briga e trocar socos? Com certeza! Mas matar não.
Ainda que no fundo, uma morte a mais ou menos, honestamente, não faz diferença.

E, me deixe ser justa, se a escrita de Mccarthy é boa pro horror e sanguinolência, também é boa para fazer o leitor embarcar nessa viagem quase psicodélica de maneira magistral. Enquanto o grupo de viajantes caminha pelo deserto, pelas noites geladas, existem passagens da descrição árida que são tão, mais tão bonitas, que quase nos fazem crer que aquele mundo não é tão cruel quanto parece. Não bastasse tal maestria na condução das palavras, não raramente, a poesia e a brutalidade se misturam e se confundem na descrição dos lugares e dos acontecimentos, causando ao leitor uma sensação tão pura de estar em um mundo tão real, que parece fantasioso.

A noção de realidade, imaginação, real e sobrenatural, divino e profano estão constantemente misturadas entre o sangue e a sujeira do oeste nesse meridiano brutal.
A crueldade do mundo é tanta, que todo e qualquer ato que não seja fundado em vontades perversas de crueldade é digno de glória, mas também de pesares, pois, no imenso deserto fo oeste quem se permite reservar um pedaço da alma para ter piedade dos outros, quase sempre encontra um destino tão cruel quanto os sanguinolentos.

Em linhas gerais eu digo que, o ls últimos capítulos desse livro são o seu apogeu no meu humilde ponto de vista. A tensão construída ao longo de toda a narrativa encontra-se borbulhante no final, como um animal selvagem indomável que pode, a cada linha, ter uma atitude cruel e impensada, resultando em finais tão trágicos quanto pode conceber a humilde mente humana.
Destaco o final do capítulo 23. Não é uma cena de violência, é algo tão genuino que me fez querer chorar.
Que livro cruel!

Enfim
Para aqueles que, assim como eu, vão testar o limite do próprio estômago e se aventurar por esse cenário infernal. Desejo-lhes boa sorte! É uma viagem só de ida, a um destino incerto e cujas marcas retumbarão em nossas almas, talvez, para sempre.

"Ele diz que ele nunca dorme. Ele está dançando. Ele diz que nunca morrerá"
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Lucas.Wijk 24/04/2024

Uma leitura difícil
Vou direto ao ponto: eu não gostei de Meridiano de Sangue. Mas gostei.

A escrita de Cormac McCarthy é confusa, estranha, ambígua, com longos trechos descritivos com excesso de adjetivos que eu nem sabia que existiam, tudo isso quase sem nenhuma pontuação. A história parece não existir, é apenas um amontoado de eventos carregados de andanças e mortes. Quando cheguei na metade do livro, fiquei alguns meses sem tocá-lo. Não tinha vontade de retomar a leitura e quase o abandonei. Foi só na última semana que resolvi dar mais uma chance e acabei devorando até o final.

Mesmo terminando com um certo desgosto, foi uma leitura que me impactou de diversas formas, inclusive com a ousadia da narrativa. McCarthy faz o que quer com o seu texto, e isso me abriu um leque de inspirações, somado à recente leitura de contos da Lygia Fagundes Telles, no qual eu percebi que o escritor não precisa se ater às convenções da escrita.

Não sou uma pessoa sensível à violência. Pelo contrário, gosto de obras viscerais, tanto no cinema, quanto na literatura, videogames ou quadrinhos. Ainda assim, Meridiano de Sangue conseguiu me impressionar. Vou carregar algumas cenas na memória por um bom tempo, e parte disso se deve a essa narrativa peculiar do autor.

No final das contas, fico feliz por não ter desistido. É um livro muito único, acho que nunca li nada parecido antes. Chegar ao final da jornada pelo inferno foi recompensador (para mim, não para os personagens). As melhores cenas e diálogos estão na sua segunda metade. Mesmo não tendo gostado do livro como um todo, não posso deixar de recomendá-lo.

"A verdade sobre o mundo, disse, é que tudo é possível. Não o houvessem visto todos vocês desde o nascimento e desse modo o dessecado de toda a sua estranheza ele se lhes revelaria tal como é, um truque com cartola num espetáculo mambembe, um sonho febril, um transe superpovoado de quimeras sem análogo nem precedentes, um parque de diversões itinerante, uma feira ambulante cujo destino último após incontáveis tendas erguidas em incontáveis terrenos barrentos é inexprimível e calamitoso além de todo entendimento.
O universo não é coisa que conheça alguma restrição e a ordem que nele reina não é compelida por qualquer latitude em sua concepção a repetir o que quer que exista em uma parte em qualquer outra dada parte. Mesmo neste mundo mais coisas existem sem nosso conhecimento do que com ele e a ordem que vocês enxergam na criação é a que vocês mesmos puseram bem ali, como um fio em um labirinto, de modo a não se perder do caminho. Pois a existência tem sua própria ordem e esta nenhuma mente humana pode abarcar, sendo a própria mente apenas mais um fato entre outros."

Para finalizar, acho que um trecho de um dos últimos monólogos de Holden consegue resumir muito bem a minha impressão de Meridiano de Sangue:

"Em qualquer acontecimento a história de todos não é a história de cada um nem tampouco a soma dessas histórias e ninguém aqui no final pode entender o motivo de sua presença pois ninguém tem como saber nem mesmo no que o acontecimento consiste. Na verdade, se a pessoa soubesse é bem provável que se ausentasse e como você pode ver isso não pode ser parte do plano se é que algum plano há."
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Tomás Lahoz 19/04/2024

Um pouco sobre Meridiano de Sangue
?Encheu o copo. Beba, disse. O mundo continua a girar. Temos dança todas as noites e esta não é exceção. O caminho direto e o tortuoso são um só e agora que você está aqui de valem que os anos decorridos desde a última ocasião em que nos encontramos? As lembranças do homem são incertas e o passado que ocorreu difere pouco do passado que não"

Com toda certeza esse é o livro mais violento e gráfico que já li. A representação da brutalidade e a personificação do mau na figura do Juiz expõe de forma clara as monstruosidades exercidas pelos americanos brancos durante o "Velho oeste".
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skuser02844 16/04/2024

Violencia, brutalidade e filosofia.
Então, complicado né? (Risos)

O livro aborda a jornada de alguns cavalheiros com pouca higiene e muita sede de sangue em busca de indios para escalpelar atrás de fortuna e mais confusão.

Vou confessar que o ritmo do livro e a sua narrativa me pareceu muito confusa e perdida. Acabei me sentindo um chipanze durante a leitura, porém só escutei pessoas falando bem do livro e quando li, apenas tive a sensação de ser um inapto, e por causa disso, voltarei ao processo de alfabetização.

Sobre o livro, é sangue, morte, assasinato, massacre, olho saltando de cabeça, indio perdendo a cabeça, genocidio e algumas mensagens metaforicas.

Duas observações:

O livro tem tanta violencia, que o Datena certamente faria muito sucesso nessa sertão com o seu programa televisivo.

A quantidade de sangue derramado nesse slivro poderia no minímo abastecer umas 10 cidades com defassagem de doação de sangue.

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Conclusão: Eu achei que a pior que coisa que poderia acontecer com um indio era ser interpretado na escolinha do professor raimundo ou ser degustado pelo Bolsonaro por causa de curiosidade, depois desse livro vejo que existe coisas bem piores piores
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Ayrton 15/04/2024

Uma odisseia no próprio inferno
Queria muito dar mais estrelas, mas a narração sem indicadores de diálogos e extensas descrições sem pontuações me deixaram meio perdido diversas vezes.

A história em si é recheada das mais diversas formas de violência e no decorrer dos capítulos, vamos vendo situações cada vez mais brutais.

Gostei da forma como os personagens se desenvolveram e de todo esse paralelo entre o Kid e o Juíz.

Vejo o Juíz sendo construído como uma representação do próprio mal, suas falas são sempre filosóficas e nos faz refletir sobre sua visão de mundo. Ele é muito inteligente e sabe fazer diversas coisas, além de ser uma figura deveras exótica.

O final me deixou bem pensativo e perplexo. É uma ótima leitura, mas infelizmente não é para todos.
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Miguel Freire 08/04/2024

Um belíssimo retrato do inferno
Meridiano de Sangue, escrito por Cormac McCarthy e publicado em 1985, é um dos maiores clássicos da literatura norte-americana, muitos chegando até a classificá-lo como “O Grande Romance Americano”. A história é baseada em fatos reais e se passa na fronteira dos Estados Unidos com o México, acompanhando a gangue de escalpeladores liderada por John Joel Glanton e o juiz Holden, mercenários contratados por governadores locais para assassinar e escalpelar índios.
Minha expectativa com o livro era que ele fosse apenas um western, como um filme do Clint Eastwood, só que mais bem feito e profundo. Porém, fiquei chocado com o quanto ele é diferente de todas as referências de faroeste que eu tinha; é muito mais violento, sanguinário, surrealista e complexo. Por isso, depois de uma breve pesquisada, vi que ele se encaixa mais no sub-gênero do anti-western, que incorpora uma visão mais realista do “Velho Oeste” e não mostra uma linha tão clara entre o bem e o mal como no faroeste tradicional.
Eu descrevi Meridiano de Sangue como “violento”. Bom, acontece que “violento” ainda é pouco. Sádico e sanguinário são adjetivos que se aproximam um pouco mais da verdade. Glanton e seus assassinos são assim: não apenas os índios, mas qualquer um que lhes dê na telha sofrem de seu profundo prazer sádico. Os índios, que eram pra ser as vítimas, são selvagens providos de uma crueldade ensandecida, animalesca. Ninguém escapa desta rede onipresente de sangue, nem mulheres e crianças. E pra completar todo esse horror temos a natureza do Oeste americano, cruel e hostil: desertos sem fim, calores e frios extremos, tempestades, privações de todo tipo, enfim, um verdadeiro inferno de pedra e areia.
Inclusive, a natureza possui uma importância enorme no livro do McCarthy. Entre os trechos memoráveis do livro (que não são poucos), se destacam as belíssimas descrições das paisagens. É surpreendente como ele consegue transformar lugares áridos e inamistosos em visões surrealistas de uma beleza terrível – falando em surrealismo, muitas eu sentia como se a história se passasse em um quadro do Salvador Dalí). E, mais do que um simples elemento de pano de fundo para os personagens, a natureza, aqui, é um personagem. O embate entre o homem e a Criação é um dos temas principais do livro, na minha opinião. A “guerra” – lembrando da famosa frase do juiz, “A guerra é deus” – não ocorre somente entre mexicanos, apaches e americanos, mas também com a força implacável do deserto e da montanha. E todo esse refinamento descritivo que o autor tem com a natureza faz com que ela pareça mais viva do que os personagens humanos, que no livro todo parecem sem expressão, sem sentimentos de qualquer tipo, como se o tempo todo estivéssemos vendo eles de costas ou de longe.
O estilo de escrita do McCarthy, com poucas orações subordinadas e o uso quase nulo de vírgulas, resultando ou em períodos curtos ou em parágrafos lotados da conjunção aditiva “e”, os quais se você tentar ler em voz alta, vai acabar acabar perdendo o fôlego antes de chegar ao ponto final, dão um ar mais brutal ao texto, mesmo que não tire sua profundidade.
Enfim, em uma simples resenha é impossível falar tudo o que eu gostaria sobre essa obra que realmente me impactou de maneira profunda. Um épico apocalíptico, uma aventura no inferno, uma obra que aborda tantos temas e tantos personagens interessantes merecia páginas e páginas de texto. Mas espero aqui ter passado uma boa ideia geral sobre esse primor literário.
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Gabriel680 27/03/2024

Em um universo que apenas guerra é Deus.
Esse conto do romance no meio do faroeste, vale cada centavo que você consegue ao ler ele. Um mundo onde leis e homens são totalmente opostos, não existem heróis apenas vilões e o Juíz.
Acompanhamos o Kid, um adolescente e criança sem nome, ele não sabe e ler e desde que nasceu está no meio da violência, acompanhamos durante a guerra que os Estados Unidos está com mexicanos e indígenas. Nessa epopéia vemos soldados, mercenários e o maior vilão da obra se assim pode se dizer, o Juíz Holden, um ser nilista e pragmático, ele é um homem estudado, mas consegue ser o mais víl e sádico dos homens.
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Tiago.Guedes 12/03/2024

Oeste brutal
Meridiano de Sangue, de Cormac McCarthy, me consumiu desde a primeira página. A narrativa brutal e poética me transportou para um Oeste americano árido e cruel, onde a violência impera e a vida humana tem pouco valor.
Acompanhei a jornada do "Kid", um jovem sem nome e sem passado, que se junta a um bando de caçadores de escalpos liderados pelo implacável John Joel Glanton. Através de descrições vívidas e precisas, McCarthy me colocou no meio da ação, testemunhando os massacres, as torturas e a depravação que marcaram a expansão dos Estados Unidos para o oeste.
O livro é um retrato perturbador da natureza humana, mostrando como a ganância, o ódio e a bestialidade podem tomar conta de indivíduos em situações extremas. O Juiz Holden, um personagem enigmático e sádico, representa a face mais obscura da humanidade, um ser sem alma que personifica a violência gratuita e o niilismo.
Ao mesmo tempo que me repugnava, Meridiano de Sangue me fascinava. A escrita de McCarthy é hipnotizante, com frases curtas e precisas que criam um ritmo implacável, como o galope de um cavalo em fuga. A linguagem poética contrasta com a brutalidade da história, criando um efeito perturbador e memorável.
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JoAo366 10/03/2024

"Meridiano de Sangue", de Cormac McCarthy, mergulha na brutalidade que moldou os Estados Unidos. A violência é a protagonista, entrelaçando destinos e revelando um deserto metafórico onde se oculta a gênese dos valores americanos. McCarthy desvenda a selvageria subjacente à construção da nação, destacando a narrativa visceral que ecoa como um eco sangrento através das páginas, revelando as entranhas de um passado que moldou o presente. Uma leitura impactante e necessária, onde cada gota de sangue conta a história profunda e complexa dos Estados Unidos.
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arthur966 07/03/2024

Esse deserto no qual tantos foram subjugados é vasto e exige grandeza de coração mas também é no fim das contas vazio. é impiedoso, é estéril. sua verdadeira natureza é pedra. encheu o copo. beba, disse. o mundo continua a girar. temos a dança todas as noites e esta não é exceção. o caminho direto e o tortuoso são um só e agora que você está aqui de que valem os anos decorridos desde a última ocasião em que nos encontramos? as lembranças do homem são incertas e o passado que ocorreu difere pouco do passado que não.
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Deghety 04/03/2024

Meridiano de Sangue
Sem sombras de dúvida esse é o livro mais brutal que eu já li.
O livro conta a história de uma companhia de mercenários cruzando o oeste americano e causando um estrago por onde passam. Os inimigos principais são os índios, que também não ficam atrás quanto a crueldade.
Apesar de parecer o personagem Kid, um jovem sem eira e nem beira, ser o protagonista, quem rouba a cena são os personagens Glanton e o Juiz.
Glanton se destaca pela violência a qual conduz tudo em que se envolve. Já o Juiz, além disso, dá um ar filosófico e místico em suas encenações.
O mais impressionante nisto tudo, ademais ao impacto que a violência contida aqui desperta, é a narrativa cenográfica que mescla aspectos geográficos com aspectos poéticos.
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Nicole 03/03/2024

Forte e difícil
Levei quase um mês pra ler esse livro porque acredito muito que não deve ser lido com pressa e de qualquer jeito (e ainda assim acho que não tive a atenção que deveria ter por estar correndo com coisas cotidianas) por ser uma experiência literária muito diferente do comum, que me fez ter a impressão de que eu estava vendo um desses filmes bizarros de "horror social" que lançam hoje em dia. Não é algo que você esquece. Se você lê e dois anos depois ouve o título do livro, você vai lembrar.

Eu posso resumir de maneira simplista dizendo que o livro é basicamente violência e paisagens hostis kkkk em questão do que acontece no decorrer da história é basicamente isso, e é a única impressão que você vai ter se não se der o trabalho de ler meio que as entrelinhas. Ficam mais claras as reflexões que ele traz nas partes em que o juíz conversa com os outros homens, que não são muitas.

E que personagem interessante é esse juíz. Fazendo uma associação com os cenários e o modo como o autor descrevia tudo, ele provavelmente é uma espécie de diabo exercendo sua influência num inferno. Dá pra perceber que ele é como uma representação do mal, que naquele ambiente inóspito em que os homens sofrem com as injúrias, as necessidades físicas e suas próprias batalhas internas, ele se sente em casa e é algo além dos outros. Adorei ler as partes em que ele começava a discursar "do nada", principalmente quando o Tobin fazia as observações sobre isso. Dentre todos aqueles homens, o Tobin parecia ser o que mais entendia a essência do que acontecia, além do kid (só que num nível mais primitivo), e o que o juíz era e fazia.

Outro aspecto interessante é a distância emocional dos personagens, o desejo de projetar coragem e dureza e nenhum deles nunca fala do que sente, nenhum nunca chora ou sorri. Eles matam com frieza como se além de assassinar outras pessoas, quisessem assassinar algo dentro deles mesmos.

Certamente não é uma leitura fácil e não é pra qualquer um; especialmente em momentos em que eu estava meio lelé da cuca com coisas da minha vida mesmo, foi difícil ler esse livro por causa da carga emocional, a tristeza que ele passa e a violência crua. Tudo é descrito sem nenhuma piedade e não é um livro para pessoas sensíveis ou que não lidam bem com angústia, mas eu diria que entendo o motivo dele ser dito um clássico indispensável. Ótimo pra se desafiar a ler coisas diferentes.
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Peter.Molina 23/02/2024

Meridiano de muito sangue
Esse livro traz um relato de um período nos EUA no final do século XIX, nas fronteiras com o México e arredores, contando o massacre indígena e a violência do velho oeste. Escrito numa linguagem um pouco rebuscada e difícil, porém com descrições poéticas, o livro tem dezenas de cenas com massacres e carnificina em detalhes. O embate do personagem Kid com o grotesco Juiz fazem as melhores partes desse livro. Pra mim não funcionou, apesar da beleza de muitas passagens um pouco mórbidas, a excessiva violência a todo instante me dificultou a conexão com a história. Um final Tb bem decepcionante.
CPF1964 23/02/2024minha estante
???????


CPF1964 23/02/2024minha estante
Que coração peludo !!!


CPF1964 23/02/2024minha estante
Este livro não é um curso para açougueiro ?


Peter.Molina 24/02/2024minha estante
Praticamente um curso de como esquartejar e escalpelar de maneira prática e eficaz Cassius.


CPF1964 24/02/2024minha estante
???


Fabio 25/02/2024minha estante
LItro e litros de sangue kkkkkkk


CPF1964 25/02/2024minha estante
????




Flávia Menezes 20/02/2024

O INFERNO DE MCCARTHY.
?Meridiano de Sangue? foi publicado em abril de 1985, e se tornou um marco da literatura norte-americana, especialmente após o professor e crítico literário Harold Bloom (que ocupou o cargo de ?Sterling Professor?, o mais alto grau acadêmico da Universidade de Yale) ter equiparado Cormac McCarthy à Melville e Faulkner, no que concerne à canônica tradição do romance americano.

Neste faroeste (western) visceral, que vai na contramão de tudo o que se conhecia até hoje sobre o gênero, através dos filmes hollywoodianos (agora Clint Eastwood mais se parece com um ?bangue-bangue da Disney?), temos aqui uma terra de ninguém, sem leis ou códigos de conduta, onde não há honra e muito menos heroísmo, nem há culpa ou remorsos, e a vida não vale nem ?um mirabel de limão?.

Quando a violência está presente na literatura, geralmente ela não é o centro ou o foco da história. Muito mais frequente é que o autor desenvolva uma ideia ou narrativa mais ampla a partir dela. Já em ?Meridiano de Sangue?, toda a necessidade de matar é tão somente uma necessidade que não precisa de motivações para acontecer.

Aqui, para um gatilho ser puxado não é preciso estímulo algum, e nem mesmo o autor dos disparos precisa compreender por que o faz. Assim como ter uma coleção de escalpos não tem relação alguma com ?status?, nem hierarquia, ou tenha por trás o intuito de ser reconhecido como o ?mais temido?, ou qualquer outra necessidade que a vaidade humana crie e recrie.

Não há como explicar o porquê de todo esse sangue derramado, até mesmo por não termos qualquer vislumbre de civilização nesta história, em nenhuma das aldeias por onde passam, deixando-nos sem condições mínimas para comparar antagonismos.

Harold Bloom, em uma entrevista para a ?Booknotes? (série de televisão americana da rede C-SPAN, que foi apresentada por Brian Lamb de 1989 a 2004), chegou a dizer que ?Meridiano de Sangue? é essa terrível parábola que esconde uma profunda preocupação com a sociedade americana proveniente do ?país das armas?, onde grandes atrocidades já aconteceram por conta do seu porte indevido, ou de tragédias vindas de doenças mentais de quem não tem qualquer estrutura para ser sequer senhor de si, quanto mais de uma arma.

Em "Meridiano de Sangue", McCarthy centra toda a sua narrativa neste cenário apocalíptico (ou seria mesmo o inferno?), de paisagem desértica onde essa jornada sem fim tem seu início, repleta de formas demoníacas e seres vivos e mortos que vão surgindo pelo caminho. São parágrafos e mais parágrafos dedicados a descrever o cenário do Ocidente (algo que McCarthy aprendeu com Faulkner), revelando cada detalhe das aldeias por onde o grupo passa, cada pessoa que ali viveu e morreu, cada animal, e cada detalhe mínimo das igrejas e desenhos esculpidos em pedra.

Em alguns momentos, eu chegava a sentir como se estivesse lendo um relato de achados arqueológicos, cuja real geologia sabemos bem que não era feita da pedra, mas do medo que cobria estas terras de um mundo paralelo ao nosso, repleto por simbolismos que representam tudo aquilo que mais tememos tanto externa, quanto interiormente.

Mas apesar de tantas descrições minuciosas, em momento algum temos acesso aos pensamentos ou sentimentos dos seus personagens. De fato, é essa atmosfera mutável de fundações rochosas e violentas dos Estados Unidos que vai dando forma aos personagens. Penso o mesmo referente a toda a essa violência inexplicável.

Cenário e violência não são elementos externos aos personagens, mas sim simbióticos, e reforçam continuamente tudo aquilo que lutamos para não reconhecer, e que tanto negamos o tempo todo: esse niilismo e depravação tão presentes na humanidade.

Apesar dos traços realistas, uma vez que McCarthy se baseou em amplo material de pesquisa para escrevê-lo, esta é uma obra que transcende a ficção histórica, e que se aproxima mais de um ?bildungsroman", ou seja, um romance de formação ?às avessas?, uma quase desconstrução, já que, ao invés de acompanharmos a passagem da juventude à maturidade do protagonista, observando todo o seu desenvolvimento físico e psicológico, aqui, o que vemos mesmo é tão somente um desenvolvimento físico que se encontra com esse vazio existencial profundo e inevitável do qual ele nem sequer se dá conta. Ao contrário! Somos nós, leitores, que o sentimos e sofremos no lugar dele.

Logo nas primeiras páginas somos apresentados ao Kid, um garoto de 15 anos sem nome e sem família, entregue à própria sorte, que para sobreviver precisa ser tão (ou ainda mais) violento que seus inimigos.

Estamos em 1849-1850, e as autoridades americanas e mexicanas recrutam forças paramilitares que são enviadas para escalpelar a maior quantidade de índios que residem no sudoeste dos Estados Unidos e no México.

Liderando o grupo temos o mercenário Glanton, um assassino frio que saqueia todas as aldeias por onde passa, acompanhado de uma das figuras mais enigmáticas de toda a obra de McCarthy, o albino e calvo Juiz Holden, o símbolo do Mal Absoluto, um pedófilo e violador que dança e toca rabeca, e que nunca dorme e nunca vai morrer.

Enquanto Harold Bloom proclama o juiz a ?Moby Dick? da vida do Kid, o Juiz Holden declara mesmo ser o próprio diabo, pregando o fato de que na vida não existe certo e errado, mas apenas vencedores e perdedores, e tudo o que existe na criação sem o seu conhecimento, existe sem o seu consentimento.

David Vann, um escritor que nasceu no Alasca, e é professor de escrita criativa da Universidade de Warwick, na Inglaterra, comparou o Juiz Holden à Grendel, o lado negro do homem, filho de Caim, e o Kid com Abel na forma de Beowulf, inclusive se questionando se a luta final do menino com o juiz seria a luta entre Grendel e Beowulf, ou o homem lutando diretamente com o próprio Deus, ou com o seu destino, ou com o seu próprio ser.

Mas de fato, como nos ensina David Vann, nem o juiz nem o garoto descendem de Abel, e a batalha entre eles é a de um Grendel e de Beowulf sem a parte da redenção. Afinal, Kid não é nenhum inocente, e toda essa ausência de moralidade dos personagens, e essa violência extrema que permeia todas as raças que compõem essa história (índios, americanos e mexicanos) acaba por torná-los todos semelhantes.

Aqui todos são igualmente desprezados e descartados, e aqueles que morrem, nunca mais são mencionados, sem dor e nem luto, exterminando toda plenitude da vida.

Além de todos os personagens emblemáticos, e das entidades paisagem e violência, existe um outro ponto de grande fascínio nesse romance, que é o próprio narrador.

Como habilmente analisa Maicon Tenfen, escritor brasileiro que é professor de literatura e de escrita criativa, ?culto e apocalíptico, o narrador criado por McCarthy permanece acima dos acontecimentos, não julga, não interfere, não sofre nem se espanta com a redundância das chacinas?, características essas que o tornam tão indecifrável quanto o são todos os outros personagens deste western.

Indecifrável é mesmo uma boa palavra para utilizar quando falamos de "Meridiano de Sangue", e aproveito e faço aqui uma confissão: esse foi um dos livros mais complexos que eu já li em toda a minha vida. E a dificuldade, por conta dessa narrativa figurativa do McCarthy, foi tamanha, que eu não havia entendido o que aconteceu no final, e só me dei conta do ocorrido, quando comecei a pesquisar mais sobre o romance, buscando a visão de especialistas (como os aqui citados) para me amparar e clarear tudo o que a minha visão limitada não foi capaz de apreender.

Digo isso porque esse não é um romance simples de ser lido. De fato, eu até ouso dizer que não é um livro para se ler, mas sim para ser estudado!

Afinal, essa ambivalência contida nestas páginas é assombrosa, porque existe muita coisa aqui implícita. É o famoso "dito pelo não dito". E para se compreender muito mais a fundo, é preciso retomar essa leitura muitas outras vezes.

Se um homem como Harold Bloom leu este romance mais de 20 vezes (tendo inclusive dedicado um capítulo inteiro a ele, em seu livro ?Como e por que ler??), e David Vann já o leu no mínimo umas 3 vezes, quem sou eu na fila do pão para querer entender toda a sua magnitude logo de primeira?

Com essa leitura, sei que consegui atingir apenas a superfície desta obra. Mas não é assim quando estamos dando os primeiros passos em tudo o que fazemos de novo na vida? Primeiro assimilamos as informações, depois as acomodamos, e somente depois, é que vem a adaptação, quando tudo foi apreendido e compreendido. Ainda precisarei de muitas releituras, muitos materiais de apoio, e ler muitos dos livros que inspiraram McCarthy nesta obra, para poder chegar às águas mais profundas.

Quero aproveitar e deixar o meu muito obrigada aos meus amigos Fábio Nunes e Andrea Carvalho por cruzarem esse deserto comigo. E por compartilharem suas divagações, impressões, pesquisas e insights que tiveram durante a leitura, que tanto me ajudaram a clarear todo esse emaranhado de simbolismos e alegorias mergulhados neste macabro banho de sangue, de uma obra-prima que nos lança diretamente para um verdadeiro inferno dantesco... só que à lá Cormac McCarthy!
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Craotchky 20/02/2024minha estante
Parece um livro visceral onde a ambientação é marcadamente muito destacada para atingir propósitos específicos. E esse anonimato do narrador e seu distanciamento emocional dos eventos narrados parece também extremamente conveniente para transmitir a crueza que a história aparentemente tenta explicitar. Tudo isso parece se somar para uma atmosfera única de desolação tanto espacial quanto talvez moral.


Flávia Menezes 20/02/2024minha estante
Sem dúvida um livro bastante visceral, Filipe. E apesar de ser considerado uma grande obra-prima (o que de fato é), mas não é meu preferido dele não. Mas é uma leitura impressionante, especialmente pela parte de como essa paisagem tão maligna, ao mesmo tempo que é poderosa a ponto de se apoderar dos personagens. Vale à pena conhecer.


AndrAa58 21/02/2024minha estante
???? Amiga... Arrasou!!! Não chegarei perto da sua análise e detalhamento. Aliás, ainda vou precisar de um tempinho até conseguir algo que possa somar às suas observações. Obrigada por compartilhar essa leitura comigo e por todo o material de apoio. Adorei ler com vocês. Fez toda a diferença. Eita livro é difícil! ?"


Flávia Menezes 21/02/2024minha estante
Amiga, bota difícil nisso! Porque esse é complexo, violento e como disse aquela professora de Yale, ainda é tedioso em algumas partes. Mas o Bloom leu mais de 20 vezes e o Vann mais de 3 pra começar a entender? então não entender de primeira está certinho!!! ? E realmente? eu não tinha entendido o que tinha acontecido naquele final! Mas o que eu pensei depois disso foi o que o livro me deixou. E pra mim, essa forma como a paisagem toma conta da história e dos personagens foi tudo pra mim. E acho que mais pra frente, fazendo uma releitura? será possível compreender um pouquinho mais. Mas por essa vez, valeu mesmo. Especialmente por toda ajuda e por sofrermos juntas, e nisso surgir todo esse material incrível que você me mandou.
Obrigada amiga, pela companhia e pela presença aqui nessa que foi uma das resenhas mais difíceis pra mim. Porque só não ganha do Faulkner (?Uma Fábula?)!
??????


Cleber 21/02/2024minha estante
Resenha impressionante!!!


Flávia Menezes 21/02/2024minha estante
Muito obrigada, Cleber!!! ? E obrigada por sempre estar por aqui, e ter paciência pra ler as minhas resenhas. Tão bom poder fazer essas trocas, sobre livros como esse! ?


Leo Moura 22/02/2024minha estante
Uma resenha maravilhosa, fazendo jus à obra em questão! vendo agora sua análise, junto com a do Fábio e da Andréa, que também li, percebo quantas camadas essa obra tem... vale muito a releitura!


Leo Moura 22/02/2024minha estante
Uma resenha maravilhosa, fazendo jus à obra em questão! vendo agora sua análise, junto com as impressões do Fábio e da Andréa, que também estou acompanhando, percebo quantas camadas essa obra tem... vale muito a releitura!


Flávia Menezes 22/02/2024minha estante
Obrigada, Leo! ?
Essa é aquela resenha que é um grande desafio, mas que também é uma possibilidade de ir para um dos caminhos aqui propostos pelo McCarthy. Mas o bom é que eu tive esses dois companheiros de leitura, que me encheram de novas indagações e me fizeram ver muito além do que eu via. Leitura ríquissima, não é mesmo? E você que a leu? imagino quantas ideias boas também tenha desse livro pra compartilhar!




Fabio.Nunes 20/02/2024

Meridiano de sangue ? Cormac McCarthy
Editora: Alfaguara, 2020

LC com as amigas Flávia Menezes e Andrea Carvalho.

Meados do século XIX; sul dos EUA. Época da expansão para o oeste e para o sul, ainda sob a ideologia da doutrina Monroe, antes da guerra de secessão. Bandos de pistoleiros arriscavam a vida na caça aos povos originários, dos quais retiravam os escalpos para serem vendidos. Ultrapassavam regiões áridas sem fronteira definida, onde tudo o que se encontra é violência, sangue e morte.
McCarthy é dono de uma escrita original, que requer um certo tempo de adaptação. Depois desse período de estranheza inicial um mundo se abre.
Mais do que um bom livro, uma obra de arte.
Posso garantir que até este dia poucos livros me impactaram tanto. O que eu sinto ao escrever essas palavras é pura agonia. A sensação de ter passado por uma experiência dura, que requererá tempo para ser digerida.
Na pele de nosso protagonista, o Kid, um menino de 14 anos que foge de casa, é que a narrativa do livro se desenrola.
Por meio dele, nas palavras de um narrador em terceira pessoa, somos tragados para uma terra de ninguém, onde o deserto não é apenas um lugar, mas tudo o que se lê. Em alguns momentos parece que a terra é quem fala.

"Por toda a noite relâmpagos difusos sem origem definida estremeceram a oeste atrás das massas tempestuosas de nuvens da meia-noite, provocando um dia azulado no deserto distante, as montanhas no horizonte súbito abruptas e negras e lívidas como uma terra longínqua de alguma outra ordem cuja genuína geologia fosse não pedra mas medo."

Um ecossistema da violência onde tudo que há é o vazio (do deserto e das pessoas), preenchido apenas pelo sangue; e onde a aridez não permite brotar sentimentos. A negação da vida num meridiano sem lei.
Lugar, circunstâncias e momento histórico nos conduzem a sermos expectadores do que há de pior no comportamento humano. Desses humanos, um se destaca: o juiz. Um personagem complexo, capaz de suscitar admiração e nojo ao mesmo tempo. Mais do que isso, o que ele me causa é medo. Terror.
Com vocês, o juiz:

"Tudo que existe, disse. Tudo o que na criação existe sem meu conhecimento existe sem meu consentimento."

"O homem que acredita que o segredos do mundo estão escondidos para sempre vive em mistério e medo. A superstição o arrasta para o fundo. A erosão da chuva vai apagar os feitos de sua vida. Mas o homem que impõe a si mesmo a tarefa de descoser o fio que ordena a tapeçaria terá mediante a mera decisão assumido o comando do mundo e é somente assumindo o comando que levará a efeito um modo de ditar os termos de seu próprio destino."

"O que une os homens, disse, não é a partilha do pão mas a partilha dos inimigos."

"Logo você, dentre todos os homens, não pode desconhecer esse sentimento, o vazio e o desespero. É contra isso que pegamos em armas, não é? Acaso não é sangue o agente aglutinador na argamassa que dá liga entre nós?"

"Aquele sujeito ali. Olhe para ele. Aquele homem sem chapéu. Você sabe qual é a opinião que ele tem sobre o mundo. Dá para ler no rosto dele, na postura. E contudo sua queixa de que a vida de um homem não é nenhum negócio da china mascara a verdadeira questão em seu caso. A de que os homens não fazem o que desejam fazer. Que nunca fizeram, nunca vão fazer. É assim que as coisas se dão com ele e sua vida é tão estorvada pela dificuldade e de tal forma se desvia da arquitetura pretendida que constitui pouco mais que uma choupana itinerante dificilmente adequada para abrigar até mesmo o espírito humano."

"Esse deserto no qual tantos foram subjugados é vasto e exige grandeza de coração mas também é no fim das contas vazio. É impiedoso, é estéril. Sua verdadeira natureza é a pedra."

?Somente aquele homem que se consagrou inteiramente ao sangue da guerra, que conheceu o fundo do poço e viu o horror de todos os ângulos e aprendeu enfim o apelo que ele exerce no mais fundo de seu íntimo, só esse homem sabe dançar.?

Este não é um livro fácil de ser lido, tanto pelo texto quanto pelo que ele conta, mas é uma experiência literária sem igual.
Literatura para os fortes, viu. Depois não diga que não avisei.

"E acaso a raça humana não é ainda mais predatória? É da natureza do mundo vicejar e florir e morrer mas nos negócios do homem não há definhamento e o zênite de sua expressão sinaliza o começo da noite. Seu espírito está exausto no auge de sua realização. Seu meridiano é ao mesmo tempo seu escurecer e o ocaso de seu dia."
Leo Moura 20/02/2024minha estante
Concordo totalmente, Fabio! Livro brutal demais, porém construído com tamanha maestria. Muito bom rever essa obra pela experiência de quem também atravessou esse deserto kk. Li há 3 anos, mas parece que foi semana passada, marcante demais.


Flávia Menezes 20/02/2024minha estante
Muito obrigada pela sua companhia e por ter compartilhado suas impressões e ideias que ajudaram tanto a clarear essa narrativa tão complexa.


Fabio.Nunes 20/02/2024minha estante
Marcante mesmo Leo.


Fabio.Nunes 20/02/2024minha estante
Eu que agradeço tua companhia Flávia, e da Andrea tbm. A leitura foi outra coisa escutando a playlist que vc indicou. Dava arrepios rsrs


AndrAa58 21/02/2024minha estante
Fábio, obrigada! Acabo de ler a sua resenha e consegui encaixar uma peça solta por aqui ? Você e a Flávia arrasaram nas resenhas. Muito legal, complementam-se. Acho que ainda estou me escondendo do juiz, não consegui sair de trás da pedra, mas você acaba de me fazer encará-lo de frente. Espero conseguir estar à altura de vocês. Obrigada pela companhia e por me ajudarem nessa travessia pelo 'inferno' ?


Fabio.Nunes 21/02/2024minha estante
Oh Andrea, nem vem com essa de "estar à altura" pq seus comentários o longo da leitura é que abriram mtas portas pra mim. Qto à Flávia, já sabe né: não se trata de resenha, e sim de peça jornalística o que essa mulher faz. Na melhor das hipóteses eu tento convencer algum desavisado a ler o livro por meio daquilo que senti, nada muito informativo.


Flávia Menezes 21/02/2024minha estante
Até parece né amigos! Vocês dois travavam discussões tão calorosas no grupo, que eu ficava quietinha só olhando e absorvendo todo o conhecimento que vocês passaram ali. Sou uma carioca exxxperta!!! ????


AndrAa58 22/02/2024minha estante
??? Fábio e Flávia, vocês dois são ótimos e a experiência de ler com vocês foi maravilhosa! Espero poder repetir ? A verdade é que estou empacada, amigos. Ambas as resenhas estão me ajudando a perceber a imensidão deste 'Meridiano de Sangue'. Me sinto muito pequena, um grão de areia. Vou precisar do fim de semana e talvez um pouco mais para dar uma olhada em algumas passagens. Se pudesse, releria. Enfim, sou muito grata mesmo. Às vezes, vejo pelo em ovo e vocês me trazem para o chão ???????




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