Areia nos Dentes

Areia nos Dentes Antônio Xerxenesky




Resenhas - Areia nos Dentes


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Carol 29/01/2012

Areia nos Dentes e as 150 páginas
Areia nos Dentes, de Antônio Xerxenesky, tem um grave problema: é curto demais. Livro muito criativo, ganha pontos pelo enredo genial. Se às vezes me incomoda a falta de profundidade de alguns personagens que poderiam ser mais explorados, o livro me satisfaz pela sua construção original e trama eletrizante. Pra ilustrar o meu ponto, uma passagem:

Sombras de cavalos e pessoas cavalgam e caminham nas casas de madeira clara. Os ouvidos de Juan escutam somente o vento e a areia. Ele nada pressente. O sol do meio-dia está eclipsado por uma nuvem cinza. Agacha-se e põe a cabeça contra o solo. Não há passos ou movimento em um raio de quilômetros. Levanta-se. Sua orelha fica cheia de areia por fora e por dentro. Uma esfera de poeira se aproxima. Abre a boca e sente pequenos grãos de areia se grudarem nas frestas de seus dentes, a sensação mais desagradável que conhece. Tenta cuspir parte da areia, mas, ao abrir a boca para isso, tudo que consegue é absorver outro punhado de grãos. Fecha a boca em desistência. Aguarda. Caminha. Olha. Espera.

Gosto bastante desse parágrafo. E com base nele o romance teria fôlego para muito mais que contar uma história legal – fôlego pra amarrar tudo isso numa narrativa chorável e com personagens mais opacos. Só que, mais uma vez, é aquele caso do livro nacional contemporâneo que tem mais ou menos 150 páginas.


Fazendo um jogo entre os planos narrativos, Xerxenesky escreve sobre Juan O Atual que escreve sobre Juan O Antigo. Na minúscula cidade de Mavrak, a família dos Ramírez tem uma rivalidade inexplicável com a família dos Marlowes. Entre muitos tiros, fumaça e tentativas de aniquilação mútuas, o jovem covarde Juan Ramírez se sente perdido. Ele sempre foi um cara do norte, por dentro. Mas seu relacionamento com o pai o prende àquela cidadela empoeirada fora do caminho do desenvolvimento. E sim, sim, tem zumbis.


Mas e por que 150 páginas? 144 na edição da Rocco, na verdade. Tudo que tem saído de contemporâneo e brasileiro tem esse tamanho também, mais ou menos e com as devidas exceções. É o fôlego do autor ou o do leitor que acaba assim, cedo? Eu fico com a mistura dos dois. Escrever um romance longo e altamente elaborado exige autoestima. Porque se o escritor vai gastar uma considerável parcela da sua vida escrevendo um romance, e ainda sem garantia de retorno lucrativo já que todo mundo precisa comer, ele vai precisar de muita autoestima, a certeza de que o seu texto é bom, que vale a pena e que ainda vai ser suficiente pra pagar a conta de luz. O atual ambiente editorial brasileiro estimula essa autoestima? Claro que não. E o leitor contribui jogando mais pedras no escritor, indo ver tevê ou lendo os clássicos “que já estão garantidos”. Eu contribuo, porque poderia estar escrevendo sobre como Areia nos Dentes é bom. E é. Mas não deu pra não ficar com vontade de mais.

http://apesardalinguagem.wordpress.com
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Tibor Moricz 13/06/2011

Lido e comentado.
Este livro já me causou inquietação logo no título. Como não deixar de se incomodar com a terrível sensação que a areia provoca nos dentes? Quem não os teve estalando na boca, não sabe o que digo.

Iniciei a leitura com as mais elevadas expectativas e não me arrependi.

A trama narra um conflito obscuro, alimentado por segredos de porão, entre duas famílias, os Capuleto e os Monteq… Não, peraí, não são essas famílias, não. Ah, os Marlowe e os Ramirez. Isso (Chega de Tequila, homem!). Quem conta é Juan Ramirez, descendente hipotético e testemunha auricular dos fatos.

Ambas as famílias se odeiam por motivos não revelados e se confrontam, guiados por várias mãos, revelando ser este romance um manifesto ao politeísmo.

Epa, politeísmo? Calma, vou explicar.

Há um trecho onde Deus é imaginado num cartaz de procura-se, vivo ou morto. Na figura do perseguido (inexistente), a imagem de Xerxenesky ficaria bem, que, nesse caso, seria o Deus maior. O leitor também se deparará com camadas narrativas onde se confunde a pessoa do narrador. Ora se trata de Juan Ramirez (Deus menor), o mexicano que conta a história de seus antepassados, ora se trata do próprio Xerxenesky (há um Deus acima dele? creio que sim) que é citado num momento como o autor que cria o autor (e também em diversos momentos narrativos onde fica evidente sua intrusão (ou de Juan Ramirez?), trazendo terminologias e situações futuras que jamais viriam das bocas dos personagens do livro).

Proposital? Claro que sim. Há um primor narrativo que não dá margem para outra dedução. Várias mãos remam esse barco metalingüístico, sem que o ritmo seja quebrado.

Só um detalhe: em determinado momento, no solilóquio interior do xerife Thornton, ele usa a palavra “quilômetro”, quando deveria dizer “milha”.

Areia nos Dentes é um excelente entretenimento e traz, ainda, de brinde, um ataque de zumbis à nem tão pacata cidade de Mavrak. No bom estilo terror classe B, com mortos-vivos se arrastando pelas ruas, mordendo, arrancando pedaços, matando e transformando outros em iguais.

Uma vingança tão desproporcional que, por pouco, quase mais nada resta da cidade senão fragmentos ensangüentados. E os grandes segredos de porão misturados a eles.

Recomendado.
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mura 31/03/2011

Excelente livro que mistura zumbis, histórias de velho oeste e até uma paixão meio Romeu e Julieta. O autor usa várias tipos de linguagens escritas, o que dá ao livro um excelente ritmo. O livro prende o leitor logo nas primeiras páginas mantendo a ação até o última página. Literatura recomendada.
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Tuca. 26/01/2011

O leitor comum
Comento sobre este livro (mais especificamente sobre a segunda edição, da Rocco) no post do link abaixo, complementando minha resenha anterior (feita após a leitura da primeira edição, da Não Editora). Visitem:

http://bit.ly/dSnNtm
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Rittes 24/06/2022

Diferente e introspectivo
A aposta da editora foi vender este livro diferente como um "faroeste com zumbis" e, talvez, muita gente acabe ficando frustrada por causa disso. Tem elementos de um faroeste clássico e também tem zumbis, mas as duas coisas não se conectam necessariamente numa história com começo, meio e fim. É mais sobre pais e filhos, sobre a solidão do escritor e sobre como se usar a metalinguagem. Não é um livro ruim, mas é bem diferente. Experimente.
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Igor83 10/08/2023

Bom, mas pretensioso
A obra é contada por uma narrativa inconsistente de metalinguagem dentro da metalinguagem. Apesar de interessante a experimentação do autor com a escrita, certos momentos do livro se perdem dentro do sentido narrativo. Um claro exemplo é quando a prosa se torna páginas de um roteiro de cinema, e depois o recurso nunca mais volta a tona, parece estar jogado.
A metalinguagem, apesar de intrigante, causa alguns problemas de foco. A história quer construir uma analogia envolvendo pai e filho, mas os cortes que saem da trama principal no Velho Oeste e saltam para a vida contemporânea do homem que está escrevendo a história, quebra o ritmo narrativo, principalmente quando o autor se autoreferencía, criando uma situação alá matrix, onde nada é real e assume a ficção do que estamos lendo. Tal estratégia remove o impacto e destino de qualquer personagem da história.

Enquanto a história em si, achei a motivação do fio condutor para o surgimento dos zumbis sem sentido, soando mais como uma desculpa, já que havia dezenas de outras formas de se resolver a situação imposta.

Os personagens são interessantes e parecem ter muito background para explorar, porém esse desenvolvimento não chega a nível íntimo, deixando tudo quase raso.

Apesar dos pontos levantados, eu gostei do livro. Ele diverte e entretém, a prosa é boa e os diálogos naturais. Trabalha com clássicos arquétipos dos Western e a metáfora "pai e filho" é bem-vinda. Só poderia ter sido mais desenvolvida, assim talvez o autor não precisasse escancarar do que se trata a história, deixando a moral para que o autor pescasse ao refletir após a leitura.

Não é um material que eu indicaria a todos, principalmente leitores novos, mas com certeza muitos irão gostar.
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Tuca. 12/11/2010

O leitor comum
Comento sobre este livro no post do link abaixo. Visitem:

http://oleitorcomum.blogspot.com/2010/09/no-animals-were-harmed-or-molested.html
Tuca. 22/11/2010minha estante
Comentaram sobre eu "ter dado zero" pro livro, aqui. Na real, não tinha avaliado, o que é diferente. Vou procurar prestar atenção de dar alguma nota, por mais que não curta, porque aqui na sessão de resenhas, REALMENTE, fica parecendo que dei zero. =P




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