Ludmilla Silva 05/07/2022"I think a lot of people are secretly angry all the time"Eu tive uma relação um pouco de amor e ódio com esse livro, pois ele demorou a engatar para mim e tudo me irritava desde a narração do audiobook, a protagonista até o início da narrativa, todavia depois isso mudou e se tornou uma história interessante. Após terminar a leitura eu entendi que gostei do livro como um todo, mas parece que faltou algo, é uma leitura morna não acontece muita coisa, e o que cativa de fato o leitor são alguns personagens.
A princípio foi complicado para eu entender que eu não gostava muito da protagonista Tori, porque eu adoro as pequenas e pontuais aparições dela em Heartstopper, então estar na cabeça dela foi meio torturante e confuso para mim. Ela não é uma personagem que você gosta logo de cara, ela cresce com você e no meu ponto de vista é mais fácil começar gostar dela, no fim do livro do que no início. E o meu maior problema com ela é essa relutância que ela tem em aceitar que as pessoas querem estar ao lado dela, querem ser suas amigas, essa ideia de autodepreciação e autossabotagem me irritava um pouco.
Eu odiava que ela era extremamente rude com o Michael sem necessidade alguma e que ela tinha dificuldade de aceitar o que estava acontecendo ao seu redor. E eu entendo que a protagonista é assim, entendo que a ideia é ela ser uma personagem reclusa e com dificuldade de se abrir e deixar os outros entrarem, sei tanto disso que a ideia no final do livro é ela ter evoluído e se desenvolvido para uma pessoa mais aberta e receptiva, mas às vezes ouvir aqueles pensamentos dela era insuportável, de verdade.
A parte que eu mais gostei em relação a Tori foi a forte relação dela com sua família, principalmente com o seu irmão Charlie. Ao longo do livro ela se mostrou totalmente disposta a fazer tudo pelo irmão, a relação deles é linda mesmo que eles não sejam tão próximos quanto desejariam, e isso é sem dúvidas um dos pontos mais fortes da protagonista: esse carinho e preocupação que ela tem com quem ela ama, por isso eu gostei mais dela em Heartstopper do que aqui. Ela não é uma personagem ruim, eu gosto dela e fiquei feliz com o final que ela teve, contudo, não posso dizer que ela é uma personagem fácil de acompanhar.
Para mim, a minha parte favorita do livro foi o Michael Holden, a partir do momento que ele começou a aparecer mais e mais na narrativa a história ficou mais intrigante e interessante. O Michael é aquele garoto misterioso, meio excêntrico e diferente dos padrões de alunos do ensino médio, por isso ele é visto por muitos como o “esquisito”, mas ele é bem mais que isso, ele é gentil, atencioso, inteligente e talentoso. E à medida que descobrimos mais sobre a vida pessoal dele – como o fato dele ser quase um esportista olímpico – ele se torna ainda mais cativante.
Ele e a Tori funcionam muito bem justamente por eles se contrabalancearem, um é o completo oposto do outro (bem aquele meme “someone will die... of fun”), mas tudo fica ainda melhor, pois mesmo magoado Michael quer estar ao lado de Tori, sendo como amizade a princípio ou como algo a mais. Eu não teria essa resiliência do Michael, mas admiro bastante essa insistência e apego que ele tinha, pois, no fim ele conseguiu marcar significativamente a vida da Tori e a ensinou lições muito importantes.
Alguns pontos negativos desse livro que para mim merecem ser ressaltados: em alguns momentos eu achava a narrativa e as descrições um pouco confusas – não tenho certeza se foi em função da narração do audiolivro ou da escrita mesmo – mas eu tinha um pouco de dificuldade em situar os personagens, não sabia muito bem onde eles estavam e o que estava acontecendo ao redor deles e isso por vezes prejudicou o meu entendimento. E o outro ponto diz respeito a Solitaire, eu senti um pouco de inconsistência e motivação nesse mistério, pois por vezes ele era totalmente irrelevante para mim já em outros momentos eu estava completamente instigada e curiosa por tudo, assim eu senti falta de uma construção da narrativa que fosse constante e que não me fizesse perder o interesse a cada capítulo.
Como eu já ressaltei é um livro morno, focado grande parte nos personagens e nos seus dilemas internos, não tem um plot twist ou um evento chocante para transformar a história, mas tem construção e reconstrução de relacionamentos a todo o instante. Talvez sozinho seja um livro fraco, mas em conjunto com todo o universo da Alice Oseman ele se torna ainda mais forte. E um ponto muito relevante a ser lembrado é que esse livro foi escrito por Alice quando ela tinha apenas 17 anos e estava no ensino médio, isso por si só já torna o livro incrível e um grande trunfo, e presumo que muito do que ela escreveu aqui tinha a ver com os dilemas que ela mesmo estava vivendo na época, ou seja, talvez não é tão interessante para mim, mas foi para ela e é para alguém em uma situação semelhante. Enfim, é uma história tranquila eu acredito que vale a pena a leitura para quem gosta do gênero.