Guilherme 05/12/2020
Excelente até o século XX - a partir daí, como quase todo historiador brasileiro, fica raso, simplista e anticapitalista sem nexo
RESENHA RESUMIDA: O livro começa te falando que a África é mais do que você pensa mas termina com reducionismos juvenis anticapitalistas que veem o mundo como soma zero. O autor claramente se mostra profundamente incapaz de explicar, caso fosse convidado, o sucesso econômico de países que, com liberdade, saíram da pobreza, como a Coreia do Sul.
RESENHA COMPLETA: O autor dá um ritmo vibrante aos 5 primeiros capítulos. Somos apresentados a povos, estados, movimentos provavelmente não vistos antes pelo leitor comum.
Nos 2 capítulos finais, como quase todo historiador brasileiro (em particular os da USP), entra em campos aos quais não pertence e se revela um virtual analfabeto. Sim, pois se – ainda mais em tempos de pandemia – tem emergido o senso de que aos cientistas, a Ciência, aos médicos, a Medicina, concordo em estender: aos historiadores, a História, aos economistas, a Economia.
As conclusões não são um desastre completo, pois os 5 primeiros capítulos são realmente bons, mas as omissões do autor ao traçar um panorama da África atual falam por si. Não sei se por escolha ou por ignorância – embora um doutor em História tenha pouca margem para se defender usando a ignorância –, mas analisa de forma muito fácil e rasa a realidade atual da África. A limitação rasa e simplista – “a África é pobre por culpa do capitalismo” – dos capítulos 6 e 7 contrasta com diversas quebras de paradigmas muito bem feitas pelo autor até o capítulo 5.
Nas suas “conclusões”, se esquece de indicar casos de (ainda que relativo) sucesso na África, como economias que têm buscado se diversificar, se abrir, como, por exemplo, um caso bastante falado – e que um doutor provavelmente negligencia por opção – como Botsuana ou até Ruanda, que há alguns anos, com um plano robusto, se pretendia “ser a Cingapura da África”. A recomendação de diversificação da economia está presente em sucessivos materiais divulgados pelo menos nos últimos 15 anos pelo African Development Bank, mas seguramente esse tipo de fonte não está no rol de consulta de um doutor em História da FFLCH.
Enfim, no final, o autor só quer fazer você, leitor, terminar o livro morrendo de dó da África, culpando de forma simplista o capitalismo por acabar com um continente inteiro através da queda dos preços do petróleo (pois é, eu sei, não tem nexo). Ele deturpa o sentimento legítimo de injustiça que ocorreu com o colonialismo, passando pano para regimes ditatoriais, mencionando-os rasamente e sem jamais culpar ideologias – inclusive, durante os capítulos que falam de movimentos esquerdistas, o leitor vai sentir unicórnios pulando no campo e harpas celestiais tocando, fazendo pano de fundo às boas intenções democráticas (ironia) de governos como a ditadura comunista de Angola, que não é culpada pela guerra civil do país, à pobreza perpetuada e asseverada pelo governo comunista etíope entre os anos 1970 e 1991, e até mesmo Idi Amin é mencionado tangencialmente (talvez pelos laços com a URSS durante boa parte de seu governo genocida).