Sâmella Raissa 27/09/2016Resenha exclusiva para o blog SammySacional
A vida não tem sido fácil ou generosa com Anna Hills. Recém-dispensada de seu emprego e lidando com a reprovação no vestibular, ela ainda está aprendendo a lidar com a morte da mãe enquanto segue na construção de seu próprio caminho, tudo isso em uma cidade estranha e distante do pai e dos irmãos de quem tanto sente falta. Antes que a desistência de sua jornada na cidade grande se dê por completo e ela retorne para casa, porém, uma oportunidade inesperada de emprego lhe surge - como babá de uma garotinha que vive com o tio. Mas essa certamente não será uma missão fácil, uma vez que a garota, traumatizada pela perda dos pais, isola-se de todos e se mostra tão arredia. Apesar disso, Anna não pretende desistir tão fácil e fará de tudo para quebrar os muros da pequena Lauren, ao mesmo tempo em que quebrará, sem perceber, os próprios muros de insegurança que tanto a impediram, no passado, de correr atrás do que queria de verdade.
Quem já acompanha o blog há um tempo deve saber bem o quanto sou apaixonada pelos livros da Samanta Holtz - o início da resenha de O Pássaro, aliás, deixa isso claro até demais, rs -, então nem preciso dizer que, com essa premissa clichê mas ao mesmo tempo intrigante, logo quis embarcar em mais essa leitura. Saber que esse fora, originalmente, o primeiro livro escrito pela autora em sua carreira, inclusive, só ressaltou o quão talentosa ela é desde tão jovem. Claro que o livro passou por algumas revisões desde o rascunho original, mas a própria Sam declara, em uma nota no próprio livro, que procurou não mudar muita coisa no enredo para não tirar a essência do seu eu de anos antes, quando pensou nos personagens pela primeira vez, ainda que com uma igual essência do seu eu de agora, pela narrativa doce e sensível de que tanto gosto.
“— [...] às vezes, Deus coloca situações em nossa vida que, de início, parecem ser um castigo. Porém, se formos fortes e seguirmos acreditando, logo encontramos o bem que estava reservado para nós dentro dessa provação.”
Diferentemente dos seus outros dois livros já lançados, O Pássaro e Quero Ser Beth Levitt, a história de Anna Hills segue numa narrativa em primeira pessoa pela nossa personagem de dezoito anos. Já começando com sua demissão após um mal-entendido na lanchonete onde trabalhava, ela se vê um tanto quanto sem rumo após perder a única estabilidade que tinha na cidade, começando a pensar constantemente sobre retornar à sua casa na pequena Mountain Valley. Ao se deparar com a oportunidade de ser babá da pequena Lauren, porém, ela está disposta a quebrar as barreiras da menina, que, por sua vez, não vai facilitar em sua nova vida na mansão onde ela e o tio residem. Com toda essa pressão, ela tende a mostrar-se um pouco insegura e teimosa de início, mas com o passar da história logo conheceremos melhor a protagonista, como a garota tímida, mas determinada que é, e que não foge dos problemas - da maioria deles, pelo menos - e não hesita em falar o que pensa, ainda que com sua delicadeza natural de alguns momentos. Dessa forma, é meio inevitável não simpatizar com ela e envolver-se tão rapidamente com seus dramas e lutas diárias, de modo que eu precisava fazer pausas durante a leitura para digerir com calma certos acontecimentos, assim como ela mesma, rs.
“— Mas não escolhemos o rumo que nossa vida irá tomar. Só o que podemos fazer é entender, aceitar e mudar o ritmo da dança quando o destino muda a música.”
Essas pausas não querem dizer, porém, que a narrativa é lenta, muito pelo contrário. Depois de pegar o ritmo após os primeiros capítulos era até difícil parar, de tão fluida e leve que ela é, ainda que abordando eventuais temas fortes como a perda dos pais e sobre como lidar com crianças visivelmente problemáticas como Lauren. Aliás, tanto Lauren como os demais personagens também são um outro ponto de que gostei muito no livro. A começar pela garotinha, por mais arredia que ela fosse e me irritasse um pouco de certa forma, quando agia tão fria e indiferente perante os esforços de Anna, é impossível não entender suas ações de alguma forma - ainda que não concorde com elas, é claro. Afinal, o trauma vivido pela menina ainda tão jovem, perdendo os pais de uma forma tão repentina em um acidente, rega lembranças ruins daquela noite e de todos os momentos difíceis a seguir, nada fáceis de serem digeridos até mesmo para um adulto, mas, ao mesmo tempo, também é discutido o quão não se pode deixar crianças nessa situação persistirem em tais atitudes por tanto tempo, porque chega uma hora em que é preciso conformar-se de um jeito ou de outro e evitar que essas emoções negativas saiam ainda mais de controle.
“— Acredito que não é o amor quem provoca sofrimento, e sim a falta dele — falei. — É a ausência do amor que causa decepções e tristezas. O amor cura, liberta... e somos nós que erramos ao chamar de ‘história de amor’ qualquer relacionamento envolvendo duas pessoas, pois o fato de estarem juntas não significa que seus corações também estejam. E o contrário também vale...”
Além dela, temos Ricardo, seu então tio e responsável pela guarda da menina desde a morte da irmã e seu esposo, mesmo ainda jovem e há pouco tempo de formado e estabelecido profissionalmente. Esse, por outro lado, é um daqueles personagens que cativam desde o primeiro aparecimento na história, com uma personalidade e postura sempre tão viva e carismática, ainda que depois de enfrentar tantos momentos difíceis. Disposto a fazer Lauren se abrir mais, deposita sua esperança em Anna, com quem acaba por desenvolver uma amizade tão singela e bonita que deixei de prestar atenção no mocinho e fiquei aos suspiros com ele mesmo, rs. E falando em mocinho, eis que temos o John, antigo conhecido de Anna dos tempos do colégio e recém-chegado na cidade. Ele também é um amor e desenvolve uma relação igualmente bonita com a protagonista, apesar de, mesmo com toda a sua simpatia e timidez, não ter me cativado tanto quanto o Ricardo, mas isso não impediu que fosse um personagem igualmente marcante na narrativa. Da mesma forma, os secundários como os amigos da protagonista e sua própria família também cumpriram seus papéis, ainda que um tanto breves no enredo, com igual simpatia e firmeza.
Eu só realmente esperava que o romance tivesse se desenvolvido de um jeito mais calmo, ainda que ele também não tenha sido às pressas. Mas sinto que não me apeguei tanto a ele quanto queria no começo, o que mudou mais, porém, à medida que algumas revelações surgiam e eu passei a ficar com o coração apertadinho durante a leitura. Era uma angústia tão grande acompanhar Anna naqueles momentos, queria tanto poder abraçá-la, mas certas coisas são inevitáveis. Eu só não esperava que, a partir daí, a história adentrasse numa série de reviravoltas cada vez mais intensas, culminando em um final que, apesar das circunstâncias, foi exatamente o que eu queria mesmo sem saber, concluindo a leitura de Renascer de Um Outono em um doce e positivo saldo de cinco estrelas + favoritado, como mais uma feliz surpresa com os livros de Samanta Holtz; e sigo no aguardo de sua mais nova história a ser lançada pela Editora Arqueiro neste mês de Agosto de 2016, Quando o amor bater à sua porta.
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http://sammysacional.blogspot.com.br/2016/08/Resenha-RenascerDeUmOutono.html