Cia do Leitor 09/06/2014
Os Três
Quando recebi o livro OS TRÊS da Editora Arqueiro para leitura, senti uma atração inexplicável, talvez pela capa negra e as três marcas de garras em vermelho sangue ao lado de uma quarta marca negra. Dava um ar sombrio, intrigante e assustador. Pela Sinopse eu previa que ia ler um livro que mexeria com meus nervos, eu esperava um livro de terror, mas, não imaginava que seria chocante e perturbador, refiro-me ao realismo e as mensagens subliminares que ele possui e que te faz estremecer.
Ao abrir o pacote do correio, eis retiro de dentro uma caixa preta, dando a impressão de ser a caixa preta encontrada em aviões, dentro, envolto a um papel seda vermelho sangue repousava o livro, um bottom e uma manchete do jornal "The Daily Independent" falando dos supostos acidentes aéreos dando enfase ao realismo que viria pela frente. Parecia que o livro tinha vida, estava esperando por mim... E ao retirá-lo de seu leito, maravilhei-me com o seu aspecto físico, o livro parecia estar de luto de acordo com o conteúdo, e as bordas igualmente preta me fez concluir que a editora teve um capricho especial por essa obra tão aguardada pelos leitores de todo o planeta, visto que, o lançamento foi simultâneo em vários países, tal qual os acontecimentos da história que eu estava pra ler. Abri-o e iniciei a leitura receosa e ansiosa ao mesmo tempo...
Quinta-feira negra, assim foi batizado o dia 12 de janeiro de 2012, onde quatro aviões caíram quase que simultaneamente em continentes diferentes, na Flórida, Japão, África e Reino Unido. Seria coincidência, ato de terrorismo, providencia divina ou paranormal? O mais intrigante é que dos 4 aviões foram encontrados 3 sobreviventes, todos eles crianças com a idade de 6 e 7 anos e ambos com apenas escoriações e nenhuma lembrança do que havia acontecido.
"Algo me fez apontar o facho da lanterna para as copas, captando uma pequena sombra pendurada nos galhos. A princípio pensei que fosse o corpo queimado de um macaco. Não era."
Esses fatos, os acidentes e os sobreviventes, deixou o mundo inteiro em estado de alerta, temerosos e zelosos pelo que estava por vir. As crianças ficaram conhecidas como Os Três e passaram a ser motivo de especulações e intrigas, levando a incerteza de suas verdadeiras identidades a população. A mídia fortalecia cada vez mais as teorias criadas com informações bombásticas cada vez mais destrutivas. As pessoas estavam em polvorosas nas redes sociais gerando uma reação em cadeia e os mais convictos tinham comportamentos insanos.
Jess, Hiro e Bobby estavam órfãos, seriam encaminhados para viver com seus parentes mais próximos. Era de se notar que diante das atuais circunstancias, eles tinham um comportamento estranho, estavam calmos e seguros de si. Não davam nem sinal de tristeza pelas perdas de pessoas tão queridas. Para os médicos e especialistas, poderia ser o resultado do trauma pós acidente, pós perda e tudo iria voltar aos seus eixos com o tempo.
"Acordei de repente e senti que havia alguém sentado na beira da cama - o colchão estava um pouco afundado, como se houve um peso em cima. Sentei-me e senti um pavor gigantesco. Acho que soube instintivamente que, quem quer que fosse, era pesado demais para ser a Jess."
Na verdade algo estava diferente, as crianças não pareciam ser mais as mesmas, fatos que mais tarde seriam confirmados por seus parentes. Seria trauma ou realmente tinha algo anormal com as crianças?
Lá fora o mundo especulava, após a última mensagem encontrada no celular de Pamela May Donald segundos antes morrer, cada pessoa passou a interpretar à sua maneira a mensagem, inclusive o pastor Len, que relacionou cada sinal com o juízo final, mais conhecido como Apocalipse, não exitou em anunciar a chegada hora do arrebatamento. O Caos estava formado.
"Eles estão aqui. [...] O menino, O menino, vigiem o menino, vigiem as pessoas mortas, ah, meu Deus, elas são tantas... Estão vindo me pegar agora. Vamos todos embora logo. Todos nós. [...] pastor Len avise a eles que o menino, não é para ele..."
Impressão:
No inicio a tensão, depois o terror e por fim a aflição. Foram essas as minhas etapas emocionais durante a leitura de OS TRÊS, após o encerramento do livro fiquei a anestesiada, pensando como essa autora pôde fazer isso comigo? Que gênio!!
É um livro sinistro e perturbador, com uma narrativa peculiar. A autora escreve um livro dentro de seu livro, ou seja, iniciamos a leitura da obra escrita pela jornalista fictícia, Elspeth Martins, que documenta os eventos catastróficos ocorrido na Quinta-feira negra e o acompanhamento diário dos sobreviventes, reunindo assim, relatos e depoimentos, transcrições de bate-papo, e-mails, entrevistas com pessoas envolvidas direta ou indiretamente com as crianças, familiares e equipe de salvamento dando um ar de realismo e a sensação de que do outro lado do mundo tudo isso de fato aconteceu.
Essa forma de escrita só encontrei em um livro, Carrie - a estranha, coincidentemente do autor que elogiou esta obra, Stephen King, mas tive o conhecimento que outro livro Guerra Mundial Z também fez uso desse tipo de narrativa.
Sarah Lotz, teve cuidado nos detalhes e tempo, tudo se encaixa perfeitamente com as ocorrências e transcrições dos entrevistados em cada país dos três sobreviventes, sem falar nas descrições dos lugares minuciosamente detalhados e as teorias, por sinal assustadoras, fantasmas japoneses, os quatro cavalheiros do apocalipse, possessões, alienígenas, assombrações, satanismo, são de arrepiar e nos deixar sem dormir direito.
A trama é bem bolada, ímpar, magnífica. A autora mantém o mistério durante TODO o livro sempre acrescentando mais informações pra deixar-nos mais assustados e intrigados. Tanto os personagens, quanto o leitor cria todo o tipo de teoria, mudamos de acordo com os relatos, mas, estamos longe de acertar. Acredito que até hoje ainda não tenha acertado! (risos)
Você fica envolvido com os personagens secundários, Paul, Chiyoko, Lillian e Reuben e seus dramas como cuidar das crianças e lidar com o assédio de fanáticos religiosos, ufológicos, paparazzos, adoradores, políticos, lunáticos satanistas, que perseguem seus protegidos. Cada qual tem um jeito de encarar os fatos, encontramos amor, indignação e medo em suas atitudes. As crianças, ou Os Três, são um espetáculo a parte, que não irei entrar em detalhes pra não dar spoilers, só posso reafirmar que eles não são mais os mesmos e vão te surpreender.
Personagem que me "amarrei" Paul Craddock, tio de Jess ele foi o que mais sentiu na pele as mudanças da sobrinha, é sem dúvida o mais louco e carismático que conheci. As gravações dele vão te arrancar sustos durante a leitura.
O livro é dividido em partes:
→ A Queda - Como tudo começou...
→ Conspiração - Tentativas úteis e inúteis de explicar a causa da queda dos aviões e teorias sobre o que são os sobreviventes, transcrições e relatos de terceiros
→ Sobreviventes - O dia a dia, o convívio, relato dos parentes e próximos, "Minha vida com um dos Três"
→ Fim do Jogo - Preparem-se, aqui o leitor, vai sufocar de tanta aflição.
As partes: "Conspiração" e "Sobreviventes" são apresentadas intercaladas por mês, que vai de janeiro até junho, seguido por "Fim do Jogo" que Elspeth, ou Sarah, dá um desfecho de segurar o coração nas mãos e gritar.
Sei que esse livro irá dividir o público leitor, uns irão amar, outros odiar. É uma leitura complexa, mas é rica e bem trabalhada. É enigmática, mas vicia e assusta. É polêmico, vai mexer com alguns religiosos, mas tem um fundo de verdade quanto a natureza humana, ainda mais porque mexe com todos os tipos imagináveis medo e reações.
Mas, o que percebi é que os atuais leitores não gostaram do fim, pra uns ficou vago, sem nexo, incompreensível.
Digo que pra mim, ficou perfeito, pra quem acompanhou o livro acreditando que tudo era real, o jeito que terminou me deixou na certeza de que estamos sendo espreitados.
Parabéns a autora, MAGNÍFICO, FANTÁSTICO e ASSUSTADOR eu indico.
Resenha de Nizete Ribeiro = Cia do Leitor
site: http://ciadoleitor.blogspot.com/2014/06/resenha-os-tres-de-sarah-lotz.html