Raniere 13/06/2014
Douglas Adams, muito obrigado por ter existido!
Esta é uma resenha difícil de ser escrita. Terminei “O Salmão da Dúvida” no início desta semana, e apenas hoje resolvi sentar e escrever sobre o livro. No dia, não seria possível. O livro me causou um sentimento que creio ter sido mais pessoal, me deu muitas coisas para pensar, por muito tempo, e creio que este sentimento vai aparecer em muitos outros leitores. E, quando um livro tem este efeito sobre a gente, é maravilhoso!
“O Salmão da Dúvida” é uma coletânea feita por Dawkins, amigo de Douglas Adams, com a ajuda da esposa de Douglas, da assistente pessoal dele, entre outras pessoas. Esta coletânea está dividida em 3 partes: “A Vida”, “O Universo”, “E tudo mais”. Uma excelente escolha para o nome delas.
Na primeira parte, vemos uma seleção de artigos que Douglas Adams escreveu para revistas, etc., sobre sua infância, sobre seus traumas, sobre a letra Y (é sério! Rs), além de suas influências literárias, algumas entrevistas e introduções escritas por Adams. Em suma, em “A Vida”, primeira parte do livro, passamos a conhecer mais sobre a vida de Adams.
Nesta primeira parte, que também fala sobre o ativismo pelos animais, vi o quão bondoso, gentil e engraçado Adams era não só em suas obras, mas para com as pessoas à sua volta. Eu li esta parte, devagar, pois queria aproveitar cada momento deste livro, e no fim fiquei pensando “que pessoa maravilhosa Douglas Adams era. E que falta ele faz no mundo não apenas como artista, mas como ser humano.” E foi com este sentimento que fui para a segunda parte do livro.
Em “O Universo”, encontramos mais coletâneas de artigos e entrevistas de Douglas Adams, mas, desta vez, sobre o avanço da tecnologia, sobre a vida animal, o universo como um todo e sobre seu ateísmo, o qual Douglas dizia que ele é realmente ateu, e não agnóstico, pois ele não apenas acredita que não exista um deus, como está convencido da não existência deste, e explica a sutil diferença entre estas duas colocações (na entrevista para a “American Atheists”).
Quando comecei a ler esta segunda parte, eu já sabia que Adams era muito inteligente. Porém, enquanto eu lia, percebi que ele era MUITO mais inteligente do que eu imaginava. Fascinado pela tecnologia e ferrenho “opositor” da Apple, Adams nos fala sobre o avanço da tecnologia até o início do sérulo XXI, faz previsões de como seria a tecnologia no futuro (e, até agora, ele tem acertado em muitas coisas), críticas sobre a inutilidade de muitas inventações tecnológicas, que seriam para “facilitar a nossa vida”. Mas não é sobre isso que Adams fala, em “O Universo”. Douglas fala, também, na transcrição de uma palestra que ele deu, intitulada, no livro, como “Existe um Deus artificial?”, sobre a criação das religiões, o por que delas, a influência da fé na vida das pessoas, explica o que ele chamava de “as 4 idades da areia”, que abrange o conhecimento do homem acerca do Universo. Enfim, é uma transcrição boa e, digo aqui, uma das minhas partes preferidas do livro. Lembro que, quando terminei de ler esta transcrição, estava boquiaberto. Então peguei o livro e fui andando pela casa, falando pra minha mãe, padrasto e irmã, que estava aqui: “VOCÊS PRECISAM LER ESTA PARTE DO LIVRO, É SENSACIONAL!!!”. E ainda quero que eles leiam. Quero que o mundo leia!
Já na terceira e última parte do livro, intitulada “E tudo mais”, é direcionada para a parte artística de Adams. Lemos entrevistas sobre seus projetos (concluídos e não concluídos) de trabalho, lemos sobre sua frustração com a demora do lançamento da versão para cinema de “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, lemos um e-mail sensacional que Douglas escreveu para um figurão da Walt Disney (não sei o cargo dele, na época), sobre a dificuldade de comunicação e com um ultimato sobre a gravação e os direitos do filme, com toda a ironia e sarcasmo de Adams e também temos mais dois presentes: um conto protagonizado por Zaphod Beeblebrox, do “Guia do Mochileiro” (eu adoro ele) e 11 capítulos (e não 10, como está escrito na sinopse, mas eu adorei o fato desta estar errada rs) de um livro que Adams estava escrevendo, quando morreu, protagonizado pelo detetive Dirk Gently. Tanto o conto quando estes 11 capítulos são excelentes, e, sobre o livro não-finalizado, eu fiquei com uma enorme vontade de saber o final. Mas, provavelmente, a resposta para isso é 42, também.
Finalizando: este livro é um presente enorme para todos os fãs de Douglas Adams, espalhados pelo mundo inteiro. Mas ele não foi escritos apenas para os fãs! Foi escrito para todos! Qualquer pessoa, mesmo que nunca tenha ouvido falar de Douglas Adams, irá amar este livro. Eu sou capaz de entrar em uma nave vogon e escutar toda a tripulação recitar poesia (prefiro roer minhas pernas à isso) se, caso alguém que ainda não tenha lido nada de Adams não fique curioso em conhecer a obra deste grande escritor, crítico, pesquisador e ser humano que Douglas Noel Adams (iniciais DNA) era. Quero aqui deixar o meu agradecimento (que nunca será lido, creio eu) para Richard Dawkins, que reuniu esta coletânea, e para a Editora Arqueiro (ai eu creio que eles vão ler), por ter lançado este enorme presente para nós, mochileiros. Muito obrigado!
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