Vagner46 24/05/2015Desbravando República de LadrõesA narrativa desse 3º livro da série Nobre Vigaristas começa logo após os acontecimentos do volume anterior (Mares de Sangue), quando Locke Lamora e Jean Tannen estão fugindo da cidade de Tal Verrar. Quando chegam a Lashane, Locke começa a sentir fortemente os efeitos do veneno injetado em seu corpo, ao contrário de Jean, que acabou tomando o antídoto todo, como foi visto no último capítulo de Mares de Sangue. E está sentindo tão fortemente esses efeitos que a morte parece certa a cada minuto que se passa. É nessa hora que entram os Magos-Servidores.
Próximos da próxima eleição que elegerá o Konseil, que é composto por dezenove representantes da cidade de Kartane, a Arquidama Paciência resolve pedir a Locke Lamora e Jean Tannen uma ajudinha para que o seu partido, o Raízes Profundas, finalmente vença o oponente Íris Negra depois de dois anos. A contra-partida? Tirar o veneno do corpo de Locke e consequentemente salvá-lo. Seria essa uma troca justa e simples ou a Maga-Servidora tem algum outro plano em mente?
Falando em Magos-Servidores, gostaria até de fazer um adendo aqui: eles são um dos pouquíssimos elementos fantásticos que podemos ver nessa série, e nem por isso ela se torna pior ou melhor que as outras. Eu consideraria Nobres Vigaristas como uma série de aventura de ladrões com uma pitada leve de fantasia e não o contrário, como muita gente fala por aí. Aléms dos Magos, temos sempre um papo aqui e um papo ali sobre os Ancestres, mas esses ainda continuam sendo um mistério impenetrável até o momento. Espero descobrir mais nos próximos livros!
Mas a grande parte desse livro foca em algo que os leitores estavam procurando saber há muito tempo: o relacionamento entre Locke e Sabeta. O autor Scott Lynch havia dado poucas pistas sobre a garota dos sonhos de Locke nos dois livros anteriores, apenas reforçava que ele não conseguia parar de pensar nela um minuto sequer e que a relação entre ambos sempre foi um pouco... conturbada. Ainda mais quando se descobre que ela era/é uma das poucas pessoas no mundo capaz de passar a perna no Nobre Vigarista e criar armadilhas tão criativas quanto Locke.
E é aproveitando-se disso que os Magos-Servidores do partido da Íris Negra, concorrente do Raízes Profundas, contratam Sabeta para ajudá-los na eleição! Vocês podem imaginar o que vem por aí...
Em meio a trocas de farpas e tentativas (ou não) de uns amassos aqui e ali, os dois entram em uma briga ferrenha para saber quem dará ao partido contratante o sabor da vitória. Tudo enquanto os queridos Magos-Servidores estão à espreita por toda Kartane, acompanhando os seus movimentos.
Como de praxe, os interlúdios do livro se passam na infância de Locke e, consequentemente, no começo da gangue. Aqui não é diferente, apenas que o foco dessa vez é em como Sabeta entrou para os Nobres Vigaristas e como os outros se comportavam tendo uma guria entre eles. Uma guria que era mais inteligente que os demais. Uma guria que era capaz de deixar Locke Lamora para trás desde o tempo em que viviam no Morro das Sombras, sob ordens do Aliciador. Foi lá que Locke encontrou Sabeta pela primeira vez e aquela atração toda pela ruiva começou.
Esses interlúdios, por sinal, para mim foram a melhor parte da obra até a metade da leitura, quando os Vigaristas precisam realizar uma missão em outro lugar e o ritmo cai levemente. Mesmo assim, as informações contidas neles são essenciais para se entender o motivo de Sabeta ter deixado os Nobres Vigaristas logo após a morte do Correntes e estar sumida por uns bons anos.
Uma das mudanças desse 3º livro para os demais é que, entre os capítulos "normais" e os interlúdios, temos a presença de interseções, mini-capítulos contados a partir de um ponto de vista muito peculiar, um personagem bem conhecido dos Vigaristas e que promete aparecer mais uma vez...
Aliás, só para constatar que, em matéria de humor e sarcasmo, os campeões disparados desse quesito em República de Ladrões foram Calo e Galdo Sanza. Os irmãos gêmeos deram um show à parte em toda a obra. Sugiro que vocês leiam o trecho a seguir como se estivessem cantando:
"Calo mordeu o interior da bochecha, afinou de novo a harpa e recomeçou:
Disse o patrão à donzela nova na herdade:
Deixe-me mostrar os animais da propriedade!
Aqui está a vaca que dá leite e o porco no chiqueiro
Aqui está o cachorro, uma cabra e um cordeiro;
Aqui está um cavalo orgulhoso e um falcão treinado e valente,
Mas o que você deve ver mesmo é este pinto excelente!
- Onde você aprendeu isso?! – gritou Correntes.
Calo explodiu num ataque de riso, mas Galdo continuou a canção com uma expressão impassível:
Alguns pintos acordam cedo e alguns crescem bastante,
Mas o pinto em questão trabalha mais que o restante!
Trabalhar é uma virtude, eu concordo e não minto.
E então, queridinha, venha segurar o meu..."
Explicando um pouco o porquê do nome do livro, além do seu significado óbvio para quem já lê a série, República de Ladrões refere-se à uma peça de teatro que os Nobres Vigaristas devem apresentar juntamente com outros membros de uma companhia fadada ao fracasso. Essa parte me rendeu algumas boas risadas e leves momentos de tensão.
República de Ladrões consegue manter um bom nível, mas acaba não sendo melhor que os dois livros anteriores. A fórmula usada por Scott Lynch nos seus livros continua boa e os mesmos devem (!) obrigatoriamente ser desbravados por todo aquele que é fã dessa série. Recomendo!
Ah, só mais uma coisinha, pra deixar todos vocês com aquele leve gostinho de quero mais:
"- Vou lhe dar uma pequena profecia, Locke Lamora, do melhor modo que eu a vi. Três coisas você deve tomar e três coisas você deve perder antes de morrer: uma chave, uma coroa e uma criança. - Paciência puxou o capuz para cima da cabeça. - Você vai morrer quando cair uma chuva de prata."
Fui, tchau!
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