Caroline 01/09/2016
‘República de Ladrões’: é sério, como Lynch consegue?
Que livro, gente. Lynch parece gostar de surpreender seus leitores. E a única coisa que eu consigo fazer é me perguntar: como ele faz isso?
É sério, vocês têm noção do quanto é difícil manter seus leitores, acostumados com histórias sensacionais – e, cá entre nós, normalmente sem dinheiro para ficar gastando com qualquer título que não tenha sido cuidadosamente analisado, medido, pesado e, consequentemente, considerado suficiente -, interessados o suficiente no que você tem a dizer a ponto de escolherem o seu livro como investimento, E MAIS, não se decepcionarem por essa escolha?
É muito difícil MESMO.
Mas Scott Lynch conseguiu. De novo. Adoro esse cara.
Bem, os nossos queridos, amados e sofridos Nobres Vigaristas parecem ter um talento especial para se meterem em encrencas dignas de nota, porque, logo de cara, nesse terceiro volume, eles começam em uma situação periclitante. Mas eu não vou entrar em detalhes, porque eu provavelmente acabaria dando algum spoiler.
Porém, o que é mais surpreendente é que nesse livro nós finalmente conhecemos Sabeta, o grande amor de Locke – um dos maiores mistérios desde o primeiro volume da série. E, cara, que mulher insuportável! Uma ruiva – gente, por que os escritores, de um modo geral, têm essa tara por ruivas? Qual é a mágica do cabelo vermelho? -, esperta, malandra, que não mede esforços para se dar bem, que sabe fazer com que todo e qualquer jogo se volte ao seu favor e que não hesita em chutar a cara do Locke quando ele volta para ela com o rabo abanando, como um cãozinho carente – é sério, essa característica perdidamente apaixonada do Locke por uma vigarista como a Sabeta fez com que a minha estima por ele diminuísse um pouco.
O fato é que Sabeta é uma vigarista de carteirinha, ou seja, perfeita para Locke – talvez, não para a sua integridade e saúde física, mas ele parece não estar ligando muito para isso.
Nesse livro, temos novamente aquele jogo temporal tão característico dessa série, onde o presente é balanceado com digressões que mostram a infância e aprendizagem dos Nobres Vigaristas. Em República dos Ladrões, especificamente, ficamos sabendo como Locke e Sabeta se apaixonaram. Sem falar, é claro, de que temos diante de nossos olhos mais uma aventura dos Nobres Vigaristas quando jovens, ainda desenvolvendo suas habilidades, e uma breve participação do Correntes, que é um dos meus personagens favoritos.
No entanto, esse terceiro volume, dentre todos os outros que já li, foi o que eu menos surtei, euforicamente, enquanto lia. No início, eu não sabia o motivo, mas já saquei qual foi. É que não tem um vilão bom – quando digo bom, quero dizer genuína e indubitavelmente mau, aquele sujeito que espreme os inimigos até transformá-los em patê de sangue para passá-los no pão. O possível vilão, aquele badass mesmo, só é apresentado no finalzinho do livro, o que promete muitas maravilhas sanguinolentas para a sequência.
Estou ansiosa.
Cheio de humor muito bem localizado, planos sagazes e uma narrativa capaz de prender até mesmo o mais desinteressado e relutante dos leitores, Scott Lynch parece fazer mágica com as palavras outra vez em República dos Ladrões.
Recomendo muito a leitura.
site: http://www.vailendo.com.br/2016/03/22/republica-de-ladroes-de-scott-lynch-resenha/